Dezembro Dourado: diagnóstico precoce evita 80% dos casos de cegueira infantil

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Campanha reforça importância de consultas regulares, atenção aos sinais de alerta e estímulo ao desenvolvimento visual desde os primeiros meses de vida

Cerca de 80% dos casos de cegueira infantil no mundo podem ser evitados ou tratados quando identificados precocemente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estimativas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostram que erros refrativos — como miopia, hipermetropia e astigmatismo — estão entre as alterações mais frequentes na infância, ao lado de doenças congênitas e complicações associadas à prematuridade. Esse cenário evidencia a importância da campanha Dezembro Dourado, que busca conscientizar famílias sobre o acompanhamento da saúde ocular desde o nascimento.

Para o oftalmologista Edison Geraissate, do CBV‑Hospital de Olhos e fundador da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), o diagnóstico precoce é determinante para evitar sequelas permanentes. “Diversas condições que podem levar à cegueira infantil são preveníveis ou tratáveis quando detectadas precocemente por meio de exames oftalmológicos. Entre as principais causas estão catarata congênita, glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade, erros refrativos não corrigidos, ambliopia, estrabismo de pequeno ângulo e infecções ou inflamações oculares. A avaliação regular permite identificar essas alterações nas primeiras semanas de vida, possibilitando intervenções rápidas e eficazes, reduzindo significativamente o risco de perda visual permanente”, afirma.

A visão passa por um período de desenvolvimento acelerado até os 7 anos, o que torna a infância uma fase decisiva para o diagnóstico. O cronograma recomendado pelos especialistas começa ainda na maternidade, com o teste do olhinho, obrigatório na rede pública e privada. Depois disso, o ideal é realizar um segundo exame entre 6 meses e 1 ano e outro entre 2 e 3 anos, seguido de acompanhamento anual na idade escolar. Em casos de risco — como prematuridade, histórico familiar de doenças oculares, síndromes genéticas ou dificuldades de aprendizagem — as consultas devem ser semestrais.

De acordo com Geraissate, muitas alterações passam despercebidas no cotidiano. “Aproximar objetos do rosto, franzir os olhos, desviar um dos olhos, demonstrar sensibilidade excessiva à luz, tropeçar com frequência, ter dificuldade para acompanhar objetos ou apresentar queda no desempenho escolar são sinais importantes. Em bebês, a ausência de contato visual e o nistagmo também merecem investigação. Ao notar qualquer um desses indícios, é fundamental procurar avaliação oftalmológica completa o quanto antes”, orienta.

Estudos recentes citados pelo CBO apontam que quase 30% das dificuldades escolares têm relação com problemas de visão não diagnosticados. Além disso, a OMS alerta para o avanço global da miopia, especialmente associado ao uso precoce e prolongado de telas.

Diagnóstico precoce melhora o prognóstico

O especialista destaca que a intervenção no momento adequado aumenta significativamente as chances de recuperação. “É possível intervir com correção óptica, terapias visuais, medicamentos ou procedimentos cirúrgicos, quando necessário. Muitas crianças recuperam parcial ou totalmente a visão quando tratadas no tempo certo”, explica. Centros especializados mostram que, quando diagnosticados até os 3 anos, alguns quadros têm taxas de sucesso que chegam a 90%, dependendo da causa.

Para Geraissate, campanhas como o Dezembro Dourado ajudam a romper barreiras de desinformação e ampliar o acesso aos cuidados. “A iniciativa reforça a importância da saúde ocular desde os primeiros dias de vida, promove ações educativas e orienta as famílias. Ela destaca sinais de alerta, incentiva consultas regulares e lembra que a atenção à visão do bebê deve começar logo após o nascimento”, observa.

Ele ressalta ainda que pequenas atitudes no dia a dia potencializam o desenvolvimento visual. Ambientes bem iluminados durante a leitura e as atividades escolares, por exemplo, ajudam a reduzir o esforço ocular. A limitação do tempo de telas também é essencial, assim como o estímulo às atividades ao ar livre, reconhecidas pela ciência como protetoras contra a progressão da miopia. A alimentação rica em vitaminas A, C e E, os cuidados para evitar traumas e a atenção à exposição solar excessiva complementam o cuidado. “São medidas simples, acessíveis e que, somadas ao acompanhamento profissional, favorecem um desenvolvimento visual muito mais saudável”, conclui o oftalmologista.

Jéssica Andrade

Jornalista com especialização em Neurociência, Educação e Desenvolvimento Infantil. Coautora do livro Maternidade Atípica, integra o Colo — Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil — e atua na cobertura de temas relacionados à infância, adolescência e família.

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Jéssica Andrade

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