A crise climática já ultrapassou o campo da previsão científica e passou a interferir diretamente na nutrição, saúde e no desenvolvimento das crianças brasileiras, especialmente na primeira infância. É o que mostra o relatório A Primeira Infância no Centro do Enfrentamento da Crise Climática, publicado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) com evidências atualizadas sobre como o ambiente extremo se torna um fator adicional de risco para bebês e crianças de 0 a 6 anos.
Hoje, uma em cada três crianças brasileiras de até 4 anos vive algum grau de insegurança alimentar, segundo o documento. Ondas de calor mais intensas, secas prolongadas, enchentes e perda de biodiversidade têm afetado diretamente a produção de alimentos, ampliando custos e reduzindo a qualidade nutricional disponível para famílias vulneráveis. Esse cenário se agrava entre crianças pequenas, mais suscetíveis à desnutrição e às doenças associadas a ela.
O relatório evidencia uma cadeia de efeitos que começa no ambiente e chega à mesa: perda de safras e encarecimento de alimentos básicos, como arroz, milho, leite e hortaliças, reduzindo a diversidade e a qualidade das refeições familiares.
Secas históricas e rompimento de ciclos agrícolas, agravam a insegurança alimentar em regiões já vulneráveis, diz o relatório. Calor extremo e poluição afetam a saúde de gestantes e lactantes, reduzindo a oferta e a qualidade do cuidado. O documento aponta ainda que enchentes e desastres naturais interrompem rotinas de alimentação, amamentação e acesso a serviços de saúde.
O resultado aparece nas estatísticas: maior risco de anemia, diarreia, infecções respiratórias, atraso no crescimento, dificuldades de aprendizagem e aumento da mortalidade infantil.
A primeira infância é a fase da vida mais sensível à desnutrição e ao estresse ambiental. O documento destaca que bebês e crianças pequenas têm metabolismo mais acelerado, exigindo alimentação frequente e variada. Além disso, o corpo infantil perde água com mais facilidade, tornando ondas de calor perigosas.
O cérebro em desenvolvimento depende de nutrientes específicos, que podem faltar quando a alimentação se torna repetitiva ou insuficiente.
Além disso, crianças nascidas em 2020 enfrentarão 6,8 vezes mais ondas de calor, 2,8 vezes mais enchentes e 2 vezes mais incêndios florestais ao longo da vida do que aquelas nascidas em 1960.
O relatório destaca um ponto crítico: a crise climática não atinge todas as crianças igualmente.
Entre os 18,1 milhões de brasileiros de 0 a 6 anos, mais da metade vive em famílias com renda baixa, moradias precárias, saneamento insuficiente e pouca proteção social, fatores que aumentam a vulnerabilidade aos efeitos climáticos.
Crianças negras, indígenas, ribeirinhas, quilombolas e periféricas são as mais impactadas. Em áreas urbanas densas, a formação de “ilhas de calor” eleva os riscos de desidratação, desmaios e doenças respiratórias.
A escola, muitas vezes o único espaço de alimentação adequado para crianças pequenas, também é afetada. O relatório aponta que creches e pré-escolas com pouca ventilação e sem áreas verdes tornam-se ambientes inseguros em dias de calor extremo.
Falta de água, interrupções de energia e problemas estruturais comprometem a merenda, higiene e cuidados básicos. Educadores não têm formação para lidar com eventos climáticos durante o período escolar.
O relatório lista ações prioritárias para que o país proteja bebês e crianças pequenas diante da crise climática. Entre elas:
Na alimentação e saúde:
Na educação:
Na proteção social:
Ainda segundo o relatório, o Brasil registra prejuízos anuais de cerca de R$ 13 bilhões provocados por desastres climáticos. Perdas que recaem sobre famílias pobres e comprometem o desenvolvimento de toda uma geração.
O documento reforça que as crianças não causaram a crise climática, mas estão entre as que mais sofrem seus efeitos. E, se o país não agir agora, as desigualdades que já marcam a infância brasileira se aprofundarão nas próximas décadas.
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