Professora é premiada por projeto de alfabetização de crianças autistas não verbais

Compartilhe

Iniciativa desenvolvida em Belém aplica estratégias baseadas em ABA e CCA para ampliar autonomia e participação escolar de alunos autistas

A educadora paraense Noah Chiavenato foi reconhecida no Prêmio Inclusão em Neuroeducação Brasil por um projeto pioneiro de alfabetização voltado a crianças autistas não verbais. A proposta, construída a partir de metodologias utilizadas mundialmente na educação de pessoas dentro do espectro, busca garantir que esses alunos tenham acesso à comunicação, ao letramento e à participação escolar.

O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estima que entre 25% e 30% das crianças dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) sejam não verbais ou minimamente verbais. Para Noah, esse dado revela a urgência de práticas sensíveis, estruturadas e baseadas em evidências. “Cada aluno aprende de um jeito, e a alfabetização precisa respeitar essas diferenças”, afirma.

Leia também: 8 livros sobre identidade, diversidade e consciência negra para ler com crianças

A iniciativa da educadora combina técnicas da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) com recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), duas abordagens que têm ampliado a autonomia de pessoas autistas em diferentes países.

A ABA é uma metodologia que estuda como o comportamento humano é aprendido e modificado a partir das interações com o ambiente. Na educação, isso significa organizar o ensino de forma clara, previsível e estruturada, dividindo habilidades complexas em etapas menores, reforçando avanços e adaptando estratégias conforme o ritmo de cada criança.

Já a CAA reúne ferramentas que permitem que pessoas que não falam ou têm fala limitada consigam se comunicar. Esses recursos podem incluir pranchas de imagens, símbolos, gestos, teclados digitais ou aplicativos que transformam toques em palavras e frases. Na alfabetização, a CAA ajuda a criança a expressar escolhas, construir sentidos, identificar letras e sons e participar das atividades escolares, mesmo sem comunicação oral.

Leia também: Prematuridade: o que é idade corrigida, como calcular e até quando aplicá-la

“O sucesso da inclusão depende de professores preparados para compreender o funcionamento cognitivo e emocional de alunos neurodivergentes”, explica a neuropedagoga Mara Duarte da Costa, diretora da Rhema Neuroeducação. Para ela, práticas como as adotadas por Noah mostram como a ciência pode chegar à sala de aula de forma acessível e transformadora. “O conhecimento científico é a base para construir práticas realmente eficazes”, afirma.

A Rhema, responsável pela formação de mais de 90 mil educadores e gestores escolares, atua com foco em neurociência, desenvolvimento infantil e inclusão. Segundo Mara, iniciativas como o projeto de Belém reforçam a importância da formação continuada e do entendimento profundo sobre como cada criança aprende. “Nosso papel é capacitar o professor para identificar as necessidades de cada aluno e transformar desafios em oportunidades de desenvolvimento”, destaca.

O reconhecimento de Noah no Prêmio Inclusão em Neuroeducação Brasil simboliza um movimento crescente de educadores que buscam unir sensibilidade, ciência e estrutura pedagógica para garantir que crianças autistas não verbais tenham acesso pleno ao aprendizado. “Quando a ciência chega à sala de aula de forma acessível, a inclusão deixa de ser um ideal e se torna realidade”, conclui Mara.

Jéssica Andrade

Jornalista com especialização em Neurociência, Educação e Desenvolvimento Infantil. Coautora do livro Maternidade Atípica, integra o Colo — Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil — e atua na cobertura de temas relacionados à infância, adolescência e família.

Publicado por
Jéssica Andrade

Posts recentes

Dezembro Dourado: diagnóstico precoce evita 80% dos casos de cegueira infantil

Campanha reforça importância de consultas regulares, atenção aos sinais de alerta e estímulo ao desenvolvimento…

2 dias atrás

Inep publica novas regras e critérios para avaliação da alfabetização

O texto destaca a necessidade de fortalecer a comparabilidade, a padronização e o rigor técnico…

3 dias atrás

Crise climática agrava insegurança alimentar na primeira infância, alerta relatório

Ondas de calor, eventos extremos e perda de safras elevam riscos de desnutrição, doenças e…

1 semana atrás

Afogamentos na infância: nova campanha nacional mira cultura de prevenção

Com afogamento entre as principais causas de morte acidental na infância, educadoras aquáticas defendem supervisão…

2 semanas atrás

8 livros sobre identidade, diversidade e consciência negra para ler com crianças

No Dia da Consciência Negra, o blog da Primeira Infância selecionou livros que podem ajudar…

2 semanas atrás

Prematuridade: o que é idade corrigida, como calcular e até quando aplicá-la

No mês dedicado à prematuridade, a campanha Novembro Roxo alerta para cuidados que evitam comparações…

3 semanas atrás