Prematuridade: o que é idade corrigida, como calcular e até quando aplicá-la

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No mês dedicado à prematuridade, a campanha Novembro Roxo alerta para cuidados que evitam comparações injustas e ajudam a avaliar o desenvolvimento de forma adequada; Ministério da Saúde alerta que cerca de 340 mil bebês nascem prematuros por ano no Brasil

O Dia Mundial da Prematuridade, celebrado nesta segunda-feira (17/11), reforça um alerta urgente na saúde pública: a necessidade de reconhecer, compreender e acompanhar as especificidades dos bebês prematuros. A campanha Novembro Roxo mobiliza instituições públicas e privadas a debaterem sobre cuidados fundamentais que promovam o desenvolvimento saudável dos bebês que nascem antes do tempo.

O Ministério da Saúde estima que cerca de 340 mil bebês nascem prematuros por ano no Brasil, o que corresponde a aproximadamente 10% de todos os nascimentos. No Distrito Federal, esse dado chega a 12% dos nascimentos. A terapeuta ocupacional Pabline Cavalcante, especialista em prematuridade, explica que prematuros são aqueles que nascem com menos de 37 semanas de gestação.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prematuridade é dividida em três categorias: prematuro extremo (menos de 28 semanas), prematuro moderado (28 a 32 semanas) e prematuro tardio (32 a 37 semanas). Quanto menor o tempo de gestação, maior a chance de complicações respiratórias, neurológicas e metabólicas. Com isso, aumenta também a necessidade de um acompanhamento multiprofissional cuidadoso nos primeiros anos de vida.

Esse início precoce impacta diretamente o desenvolvimento. “Por causa das semanas a menos no útero, eles (prematuros) podem demorar um pouco mais para alcançar marcos como sentar, engatinhar ou falar. Isso não significa atraso: significa que o desenvolvimento está respeitando o tempo que ainda seria de gestação”, afirma Pabline.

É nesse contexto que surge um conceito essencial para interpretar o desenvolvimento dessas crianças: a idade corrigida. Pabline esclarece que a idade corrigida é a idade que a criança teria se tivesse nascido na data provável do parto (a termo). Ou seja, com 40 semanas de gestação. Já a idade em que o bebê nasce é chamada de idade cronológica.

Corrigir a idade do bebê prematuro é uma estratégia dos especialistas para acompanhar os marcos do desenvolvimento, pois bebês nascidos antes da hora se desenvolvem em um ritmo diferente dos bebês nascidos a termo. É como se eles nascessem “em desvantagem” em relação a quem chegou ao mundo na hora prevista.

Um exemplo utilizado para facilitar a importância da idade corrigida é o de uma corrida. É como se os bebês nascidos com 37 semanas ou mais estão todos posicionados na linha de largada, enquanto os prematuros já começam a disputa alguns passos para trás. Sendo assim, é inesperado, e até injusto, esperar que eles alcancem a linha de chegada ao mesmo tempo que os que estão à frente.

Essa diferença faz sentido prático no dia a dia das famílias e na avaliação dos profissionais de saúde, educação e desenvolvimento infantil. A introdução alimentar, a linguagem, a aquisição dos marcos motores e a observação clínica só podem ser interpretadas adequadamente quando o bebê prematuro é avaliado a partir da idade corrigida, e não da idade cronológica.

Como calcular a idade corrigida?

Para saber qual a idade corrigida da criança, são necessárias duas informações: a idade gestacional em que a criança nasceu e a idade gestacional em que ela deveria ter nascido.

A idade corrigida será o resultado da idade cronológica menos as semanas que faltariam para completar as 40 semanas de gravidez. Em outras palavras, a idade corrigida do prematuro é aquela contada a partir do momento em que ele completaria 40 semanas de gestação, e não do dia em que ele realmente nasceu. o cálculo é o seguinte:

idade cronológica – 40 = idade corrigida.

Ou seja, hipoteticamente, se a criança nasceu com 36 semanas de gestação há 2 meses, ela tem 44 semanas de vida e a idade corrigida dela é 4 semanas (um mês).

Se o parto ocorreu com 32 semanas de gestação, o bebê foi considerado prematuro de 8 semanas. Então, se ele tem agora 5 meses de idade cronológica (20 semanas desde o nascimento). Porém, a idade corrigida é 3 meses. Nesse exemplo, é necessário acompanhar o crescimento e o desenvolvimento do seu bebê levando em conta que ele tem 3 meses, e não 5 meses.

A ferramenta, no entanto, não se aplica a todos os aspectos da vida da criança. Vacinas, por exemplo, seguem sempre a idade cronológica, conforme o calendário oficial. Registros, cadastros e aniversários também seguem a idade real de nascimento.

Embora seja fundamental nos primeiros meses, o cálculo não acompanha a criança por toda a infância. “A idade corrigida é útil até os dois primeiros anos de vida, quando a maior parte dos marcos do desenvolvimento neuropsicomotor já foi alcançada”, orienta Pabline. Depois desse período, a comparação entre crianças prematuras e aquelas nascidas a termo tende a se estabilizar, e as avaliações se tornam mais lineares.

Novembro Roxo

O Novembro Roxo é uma das maiores campanhas de saúde pública promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por entidades de diversos países. Em 2025, o tema “Garanta aos prematuros começos saudáveis para futuros brilhantes” reforça a importância de oferecer aos prematuros um início de vida com cuidado especializado e contínuo, desde os primeiros momentos após o nascimento, passando pela internação, até o seguimento dos primeiros anos de vida.

A cor roxa, símbolo da campanha, representa a sensibilidade e a individualidade características dos bebês prematuros. Também simboliza transformação e renovação, refletindo o caminho de superação dessas crianças que chegam ao mundo antes do tempo.

A campanha reforça, ano após ano, que nascer antes da hora não determina o futuro, mas exige cuidado informado, apoio contínuo e acompanhamento atento. Compreender a diferença entre idade cronológica e idade corrigida é um passo fundamental para acolher o desenvolvimento da criança com mais leveza, precisão e segurança.

Jéssica Andrade

Jornalista com especialização em Neurociência, Educação e Desenvolvimento Infantil. Coautora do livro Maternidade Atípica, integra o Colo — Coletivo de Jornalismo Infantojuvenil — e atua na cobertura de temas relacionados à infância, adolescência e família.

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