Mês: setembro 2019
Antes dos 2 anos de idade, já existe diferença de vocabulário entre crianças ricas e pobres
O nível econômico determina o volume do vocabulário de crianças. É o que constatou pesquisa de universidade norte-americana. Estudo detectou diferenças relevantes a partir dos 2 anos de idade que são acentuadas com o passar do tempo.
Os pesquisadores Betty Hart e Todd R. Risley, da Universidade do Kansas nos Estados Unidos, passaram dois anos e meio acompanhando o desenvolvimento de crianças de 42 famílias locais.
Os cientistas avaliaram as palavras ditas e compreendidas pelos bebês. O resultado final revelou que as diferenças de desenvolvimento intelectual são diretamente proporcionais ao nível socioeconômico familiar. Os cientistas chamaram o fenômeno de “catástrofe precoce” (em tradução livre).
Em um dos testes, as crianças eram colocadas no colo da mãe e os pesquisadores mostravam duas imagens. Um pássaro e um carro, por exemplo. Então, pediam à criança que olhasse para uma das imagens. As crianças de 1 ano e meio vindas de famílias com condições econômicas excelentes enxergaram a imagem correta num espaço de tempo 200 milissegundos mais rápido do que aquelas crianças cujas condições econômicas eram classificadas como precárias. Parece pouco, mas os especialistas garantem que é uma diferença significativa.
Número de palavras
Em relação à quantidade de palavras às quais a criança tem acesso, o estudo mostra que aquelas de lares de alta renda são expostas a cerca de 30 milhões de palavras a mais do que os dependentes de assistência do governo. Isso quer dizer que, enquanto crianças com menos dinheiro escutam, em média, 616 palavras por hora, crianças com mais dinheiro ouvem 2.153 palavras por hora. Um volume quase quatro vezes maior, portanto.
Comunicação
O estudo avalia ainda o conteúdo do que os pais diziam aos filhos. Dividindo as famílias por renda em três categorias, os pesquisadores notaram que os pais da categoria mais abastada faziam seis elogios a cada crítica. Já os da categoria intermediária, pais assalariados que não recebiam assistência do governo, faziam dois elogios por crítica. Os pais na faixa com menos dinheiro faziam duas críticas por elogio aos filhos.
Os pesquisadores, que acompanharam de perto as 42 famílias por dois anos e meio, afirmaram que em nenhuma delas faltou amor ou afeto. A grande diferença foi a forma de se comunicar. Sobre essa situação, os pesquisadores ressaltaram que, quanto mais tempo se demora para entender a situação da criança, mais difícil fica para que uma mudança seja feita.
Com Millena Campello*
O Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) foi lançado em 15 de agosto. O modelo veio para integrar e substituir os Cadastros Nacionais de Adoção (CNA) e de Crianças Acolhidas (CNCA). Os 27 tribunais de Justiça estaduais e do DF passarão por capacitação e devem operar a partir de outubro com a novidade. Confira o site do novo sistema.
Todas as crianças e todos os adolescentes que estão em alguma instituição de acolhimento (ou seja, abrigo) estão cadastrados no CNCA. Quando eles estão aptas para serem adotados, seus dados vão para o CNA. O novo sistema integra todas essas informações em apenas um lugar, para que juízes e quem mais trabalha com crianças e adolescente possam ter uma visão global de todos os menores.
Assim, o SNA permite a visualização de todo o processo da criança e do adolescente, desde a entrada no abrigo até a adoção. O novo sistema também sana um problema do processo de adoção, o prazo. De acordo com a Lei nº 12.010/2009, que dispõe sobre adoção, crianças e adolescentes não podem passar mais de dois anos em abrigos. Contudo, segundo Karina Bernardo, porta-voz do Grupo Aconchego (entidade civil sem fins lucrativos, fundada em 1997, que trabalha no Distrito Federal em prol da convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes em acolhimento institucional), esse direito é frequentemente violado.
“Há casos em que as crianças chegam ao abrigo aos 13 anos e saem aos 18”, explica Karina. Para ela, isso é uma falha no sistema geral de atendimento e proteção à criança e ao adolescente, ocasionada pela ausência de dados reais e da vigilância dos prazos. Com o novo sistema, membros do judiciário e do CNJ recebem alertas sempre que algum processo estiver atrasado.
“A criança não tem voz sozinha. Se ela não tiver um adulto que a represente ou um Poder Judiciário que olhe para ela, ela vai ficando no abrigo até Deus sabe quando”, observa. Karina acredita que outra razão do atraso é a ausência de estrutura básica. “Faltam psicólogos e assistentes sociais nos abrigos e no juizado da vara da infância.”
Para quem pretende adotar, o que muda é o acompanhamento do processo. Quando alguém decide que vai adotar, é necessário passar por várias etapas e existe uma fila de espera. Logo, após dar entrada no processo, é possível realizar o pré-cadastro on-line, no site do SNA. Depois, é preciso ir a alguma vara da infância para homologar.
Pelo site, é possível acompanhar todo os passos, tendo acesso, inclusive, ao número de pessoas que se cadastraram antes de você. Antes, era necessário ir pessoalmente à vara e pedir para ver a lista de espera. Para Karina, o novo sistema dá esperança de que o direito de crianças e adolescentes viverem em uma família seja cumprido de forma mais rápida e eficiente. Contudo, ela acredita que é necessário investimento no treinamento de servidores e na ampliação de pessoas trabalhando no processo de implementação do projeto.
As cortes que estão operando com o SNA são a do Espírito Santo (TJES), São Paulo (TJSP), Alagoas (TJAL), Bahia (TJBA) e Paraná (TJPR). Em 15 de agosto, outros três tribunais de Justiça — Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), de Goiás (TJGO) e de Roraima (TJRR) — migraram suas bases de dados para o SNA. A data de início do funcionamento total desse sistema é 12 de outubro e, até lá, ocorrerão treinamentos e implementação nas outras cortes.
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*Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa
Grupo da USP desenvolve aplicativo para prevenir depressão materna e gestacional
Para auxiliar na prevenção da depressão durante a gravidez e na lida diária com filhos, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) criou um aplicativo capaz de identificar sintomas depressivos em gestantes e mães. O app Motherly , (maternal, em inglês), como foi chamado, indica intervenções para evitar maiores riscos e também incentiva a procura por ajuda profissional de acordo com o quadro apresentado.
O projeto é financiado pela Grand Challenges Canada, organização canadense sem fins lucrativos que usa um modelo da Fundação Bill & Melinda Gates para financiar soluções para desafios críticos de saúde e desenvolvimento, e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, organização brasileira com foco na primeira infância. A equipe do Motherly é composta por três psicólogos, uma nutricionista, um psiquiatra e uma pediatra.
O Motherly está em processo de desenvolvimento, e uma versão preliminar será lançada em breve para mulheres que se candidataram para participar do período de testes, ainda como parte da pesquisa. Ainda é possível preencher o cadastro no site do projeto para contribuir com as pesquisas. Além da saúde mental, o aplicativo também monitora aspectos como peso, qualidade do sono, nutrição e atividades físicas.
Após o cadastro no aplicativo, é solicitado à gestante que responda a algumas perguntas, que ajudarão a montar o perfil dela. Dessa forma, é possível identificar sinais que merecem atenção. Para prevenir a depressão, o Motherly utiliza a chamada “ativação comportamental”, usada há décadas na clínica psicológica para incentivar o paciente a fazer atividades das quais gosta ou que lhe são importantes. A técnica parte do pressuposto de que, ao fazer essas atividades, os sintomas depressivos são naturalmente atenuados.
Ao usar o Motherly, as mães e gestantes também monitoram a qualidade do sono e da alimentação, bem como a prática de exercícios físicos, e recebem dicas de como melhorar cada um desses aspectos da saúde. O aplicativo também é personalizado, de modo que as recomendações que cada usuária recebe são diferentes de acordo com o perfil: a gestante só entrará no módulo de ativação comportamental, por exemplo, caso apresente sintomas depressivos.
De acordo com o grupo desenvolvedor, Motherly apresenta também conteúdos informativos e educacionais, que ajudam a sanar dúvidas quanto ao período perinatal. Durante a fase de testes, que conta com mais de 200 cadastros, serão recrutadas 1 mil gestantes de 16 a 35 anos para participar do estudo. A primeira metade delas terá acesso a uma versão do aplicativo interativa, a qual exige da usuária participação mais ativa. As 500 restante vão usar a frente mais informativa do Motherly.
Todas as mulheres serão acompanhadas durante a gravidez, e os primeiros resultados da pesquisa devem ficar prontos a partir do segundo semestre do ano que vem. A princípio, o Motherly serve de auxílio para todo o período da gestação e até três meses após o nascimento. A longo prazo, os pesquisadores querem desenvolver o aplicativo o suficiente para que ele possa ser utilizado até que a criança complete cerca de 4 anos.
8º Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância ocorre no próximo mês
A oitava edição do Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância será em 3 e 4 de outubro em São Paulo. No primeiro dia, a programação será das 9h às 18h; e, no segundo, das 9h às 12h. O evento ocorre presencialmente no espaço de eventos Estação São Paulo, localizado na Rua Ferreira de Araújo, 625, Pinheiros, São Paulo.
É possível se inscrever, gratuitamente, pelo site até a próxima quinta-feira (19). As vagas são limitadas. O tema desta edição é “Equidade na primeira infância: os primeiros passos para um Brasil mais justo”. Você também poderá acompanhar o evento ao vivo, pela internet, pois haverá transmissão no site.
O simpósio visa disseminar o conhecimento científico, promover reflexões com base em evidências e difundir boas práticas que informem políticas públicas e fomentem o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 6 anos. Logo, o público prioritário do evento é formado por lideranças do setor público, como prefeitos e governadores. Contudo, outras pessoas interessadas também podem se inscrever.
Temas
O professor do departamento de saúde pública e ciências sociais da Universidade Harvard David Willians abrirá o evento falando sobre a influência do ambiente no desenvolvimento infantil. O economista e professor do Insper Naercio Menezes Filho; a professora de estudos da criança, juventude e família da Universidade de Nebraska-Lincoln Helen Raike; o médico e escritor Drauzio Varella também participarão do evento. A sétima edição do evento foi em novembro de 2017, em Fortaleza.
O Programa Criança Feliz, do governo federal, foi reconhecido pelo Wise Awards 2019, da Cúpula Mundial de Inovação para a Educação, como uma das iniciativas mais inovadoras do mundo. No total, foram seis projetos vencedores que receberão U$ 20 mil, cada um. A premiação ocorrerá entre 19 e 21 de novembro, durante a reunião da cúpula, em Doha, no Catar.
O Criança Feliz busca orientar as famílias, por meio de visitas semanais de técnicos capacitados, com relação ao desenvolvimento de crianças de 3 a 6 anos. A iniciativa atendeu mais de 600 mil crianças e cerca de 123 mil gestantes, em 2.620 municípios. O programa integra ações entre as áreas de saúde, assistência social, educação, justiça, cultura e direitos humanos.
Desde 2009, o Wise Awards reconhece projetos que são eficazes aos desafios mundiais na educação. Este ano, o programa recebeu 481 inscrições de projetos de todo o mundo .
DF adere ao programa
Em 5 de setembro, o Criança Feliz foi apresentado para gestores do governo do Distrito Federal, durante audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Estavam presentes o ministro da cidadania, Osmar Terra, e a deputada do Cidadania Paula Belmonte, que integra a Frente Parlamentar Mista da Primeira Infância. O programa está em fase de implementação na capital. A previsão é de que os técnicos comecem as visitas a partir de outubro.
CNJ abre inscrições para premiação de boas práticas de proteção à primeira infância
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) está com inscrições abertas para a seleção e disseminação de boas práticas voltadas para a primeira infância até sexta-feira (6). A premiação dos melhores trabalhos ocorre em São Paulo, durante o Seminário do Pacto Nacional pela Primeira Infância — Região Sudeste, em 2 e 3 de dezembro. Para participar, o interessado deve se cadastrar clicando aqui.
O intuito da seleção é reunir trabalhos inovadores e eficazes que possam ser replicados no país, estimulando os esforços acerca da promoção e garantia de direitos e atenção à primeira infância. A iniciativa premiará com troféu e certificado as três melhores práticas em quatro categorias diferentes: Sistema de Justiça, Governo, Empresas e Sociedade Civil Organizada. No último grupo, o vencedor do 1º lugar receberá R$ 20 mil; ao 2º será conferida bonificação de R$ 15 mil; e o 3ª ganhará R$ 10 mil.
Replicabilidade, custos de implementação, alcance social, inovação, eficácia e eficiência são os critérios que a comissão de avaliação utilizará para analisar as ações inscritas. As práticas devem ser de autoria comprovada do participante e ter sido implementadas por um órgão, entidade, empresa, associação ou organização há pelo menos um ano.
O responsável pela ação premiada deverá atuar como tutor na disseminação, orientando acerca das metodologias e estratégias que possam contribuir com a replicação. Para saber mais sobre a seleção do CNJ, acesse o edital clicando aqui.
O número de acidentes fatais entre crianças e adolescentes diminuiu entre 2016 e 2017, ao passo que cresceram as mortes causadas por armas de fogo. Caiu em 1,93% a mortalidade de crianças e adolescentes por acidente no Brasil de 2016 para 2017. No mesmo período, as mortes acidentais causadas por armas de fogo aumentaram em 95%.
Desde 2001, a mortalidade infantil e adolescente por acidentes diminuiu em mais de 40%. É exatamente o período em que a organização não governamental (ONG) Criança Segura iniciou a atuação. Segundo a instituição, a redução pode gerar esperança, mas ainda há muito a ser feito quando outra informação é observada: os acidentes ainda são a principal causa de óbitos entre crianças e adolescentes de 1 a 14 anos, superando doenças e violências.
Os dados são do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DataSUS) e foram analisados pela ONG Criança Segura. Os casos fatais de acidentes contabilizados passaram de 3.733 para 3.661. Essa foi a menor queda no número de mortes acidentais de crianças desde 2011.
Segundo a ONG Criança Segura, o cenário deve ser observado pelo poder público em âmbito municipal, estadual e federal. A organização afirma que são necessárias campanhas educativas contínuas para a prevenção de acidentes com crianças e adolescentes no Brasil.
Além de armas de fogo, outras causas de mortes acidentais aumentaram de 2016 para 2017: afogamentos (4,49%), queimaduras (3,83%) e intoxicação (6,76%). Os falecimentos por acidentes de trânsito, sufocação e quedas diminuíram. Ao analisar separadamente, a maior causa de mortes acidentais de bebês de até 1 ano é por sufocamento; de crianças de 1 a 4 anos, por afogamento; e de 5 a 14 anos, pelo trânsito.
Aumento da mortalidade de crianças e adolescentes por arma de fogo
As mortes acidentais de crianças e adolescentes causadas por armas de fogo quase dobraram de 2016 para 2017, passando de 20 para 39 vítimas. Entre meninos e meninas de 1 a 4 anos, a quantidade de casos fatais subiu 350%, saindo de duas para nove mortes. Na faixa etária entre 5 e 9 anos, o aumento foi de 71,42% e, de 10 a 14 anos, mais 8,88% de casos foram registrados.
Para a Criança Segura, esse dado é preocupante e deve ser monitorado. A organização também destaca a mudança na legislação, que pode facilitar o acesso a armas de fogo no Brasil e aumentar o índice de mortes de crianças e adolescentes.
Números no Distrito Federal
O DataSUS também divulgou os dados separados por estados e pelo Distrito Federal. A taxa de morte acidentais de crianças e adolescentes, de zero a 14 anos, por 100 mil habitantes no DF é de 8,04, maior que a média brasileira (7,9).
Criança Segura
A ONG responsável pela análise é dedicada à prevenção de acidentes com crianças e adolescentes desde 2001 e faz parte da rede internacional Safe Kids Worldwide. A organização desenvolve ações de políticas públicas, comunicação e capacitação para evitar acidentes com crianças. Saiba mais no link.