Há 40 anos a banda Aborto Elétrico fez sua primeira apresentação, no centro comercial Gilberto Salomão, do Lago Sul. Era o primeiro grito punk na sede do poder nacional. Era a semente do que viria ser o rock brasiliense, com o surgimento de dezenas de grupos musicais que fizeram a cidade dançar num outro ritmo.
Fátima, em show do Aborto Elétrico, na UnB
No aborto, a luz
O Gilberto Salomão era o que havia. Boates, bares e restaurantes movimentavam o centro comercial, ainda uma construção simples, quase acanhada. Os bacanas iam ao Gaff; os descolados ao Kako ou Shalako, os jovens e duros se satisfaziam com as batidas do Só Cana.
Foi na frente daquele muquifo que o punk rock deu as caras em Brasília. Sem anúncio, três rapazes montaram instrumentos e aparelhagem, filaram uma tomada e tocaram com uma fúria que não conhecia paralelo naqueles dias – no final, pouco mais de meia hora depois, se anunciaram: nós somos o Aborto Elétrico.
Ninguém entendeu muito bem. O Só Cana era uma espécie de centro de abastecimento de coragem para quem iria tentar a sorte com as mocinhas – a bravura vinha em copos plásticos; não era lugar para ouvir música. E ninguém tinha a menor ideia do que era punk.
Mas tinha claque. Com o trio vieram mais algumas pessoas da tribo que provocaram uma pacífica arruaça com uma dança meio estabanada. Os outros frequentadores pararam para ver e ouvir aquela gente estranha. Mas ninguém dançou.
Por muitos anos, Renato Russo – o baixista daquela formação – espalharia que o guitarrista André Pretorius tocou com a mão direita sangrando porque estava sem palheta. Pode ser verdade, mas a audiência não notou. O baterista era Fê Lemos.
Não há maiores registros daquela apresentação. O repertório foi emprestado dos punks ingleses, o som era muito ruim, praticamente inaudível, mas o objetivo foi atingido: fazer barulho, bagunçar o coreto. Aliás, mais tarde, no antigo coreto do Gilberto Salomão – que não existe mais – outras bandas punk estrearam.
Com o nascimento do Aborto, surgiu uma legião de punks – de uma hora para outra, cabelos foram coloridos, rostos eram furados com piercings, garotos passaram a usar maquiagem, garotas saiam com roupas rasgadas; como pombos, andavam em bando.
Os shows continuaram sendo feitos sem aviso e quase sempre para o mesmo público; a face mais visível do grupo eram as pichações espalhadas pelas superquadras da Asa Sul – AE. Era a retomada da estratégia de um grupo seminal do rock brasiliense, que deixava sua marca nos muros da cidade: A Margem.
Nunca mais vi o Aborto Elétrico; anos depois, Russo já tinha a Legião Urbana e os irmãos Lemos criaram o Capital Inicial com Dinho Ouro Preto. Mas aí a história era bem outra, e as bandas procuravam uma linguagem própria – a chama punk ainda iluminava, mas não queimava mais. Mas foi desse aborto que nasceu o chamado Rock Brasília.
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