Ainda repórter – como se vê, este é um caso de era remota – certa vez perguntei ao pauteiro, que é o jornalista encarregado de definir o que cada um de nós fazia a cada dia: porque é que, ao lado das previsões de ano novo, nós não publicávamos uma outra matéria mostrando o que cada um daqueles bidus tinha previsto para o ano que terminava?
O inconveniente repórter recebeu resposta curta e grossa: “Porque eles não acertam nada e a gente vai desmerecer a reportagem com previsões para o ano novo”.
É por isso também que dizem que ler o horóscopo do jornal de ontem traz má sorte; é como dizer que manga com leite faz mal, boato espalhado para que os escravos ficassem longe das tetas das vacas. Tanto tempo se passou e ainda há quem vá atrás de pessoas que dizem enxergar o futuro sem ver o que elas acertaram no passado.
Cartomantes, astrólogos, umbandistas e adivinhos de um modo geral continuam usando de todos os meios para tentar saber como será o amanhã, mas têm ficado cada vez mais cautelosos. Hoje só falam de maneira geral.
De uma coisa não vamos escapar: 2018 será um ano difícil.
É a opinião unânime dos esotéricos, cada vez mais parecidos com economistas. Mas ninguém se arrisca a aprofundar em nenhum campo. O Brasil vai ganhar a Copa? A Lava Jato vai acabar? Aquele gordinho vai apertar o botão atômico? Eu vou ganhar na Sena? Perguntas como estas, que podem mudar o destino da humanidade, não são respondidas.
Nostradamus começou com tudo isso. Havia adivinhos antes, mas sem tanto cartaz; Nostradamus foi um marqueteiro das previsões; ainda assim, fazia tudo com o cuidado de esconder seus vaticínios sob enigmas difíceis de solucionar – afinal, se der errado é sempre possível colocar a culpa no hermeneuta.
As previsões de Nostradamus datam de 1555 – um ano difícil, certamente – mas ainda estão na validade, segundo os fatalistas. Para este ano, anteveem crise no governo Trump (não se sabe se pressagiou aquele topete laranja) e possibilidade de nova guerra mundial, desta vez para durar 27 anos.
Mas 2018, se o mundo não acabar, será marcado pelo início da comunicação dos humanos com os animais – “homens farão amizade com os porcos”, escreveu Nostradamus. Mais do que simplesmente o fim do torresmo, a previsão daria início a um longo processo de condenação por todas as vítimas do passado, muitas vezes mortas com crueldade e mergulhadas em panelas de feijão cozido. O Supremo Tribunal Vegano (STV) será implacável.
Também, segundo Nostradamus, será o ano em que os pobres vão comemorar. “Os ricos vão morrer muitas vezes”, escreveu, provavelmente depois de tentar entender como funciona esse bitcoin, e vislumbrar que é mais furado que o dólar do filme do Guiliano Gemma.
Não há previsão de nada ou ninguém feliz, o que mostraria um enorme desperdício de votos otimistas. Pois eu vou na contramão e quero fazer a minha previsão para 2018: vai ser um ano difícil. Ainda assim, feliz ano novo!
Publicado no Correo Braziliense, em 31 de dezembro de 2017
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