Houve uma aumento de número de lares chefiados por mães solo no país, como aponta pesquisa da FVG/Ibre. Concurseiras que conciliam a maternidade com os estudos destacam a relevância de uma rede de apoio
Muitas mulheres, especialmente no Brasil, conciliam jornadas múltiplas que envolvem trabalho, estudos, maternidade e trabalhos domésticos. Segundo o relatório Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade — realizado pela Oxfam, uma organização não-governamental britânica —, se o trabalho não remunerado de mulheres ao redor do mundo fosse contabilizado, o montante chegaria a cerca de US$ 10,8 trilhões por ano à economia global.
Ainda olhando os números, lares chefiados por mães solo cresceram 17,8% em uma década e atingiram 11,3 milhões no 4º trimestre de 2022. É o que mostra o estudo Arranjos Familiares e Mercado de Trabalho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Em termos relativos, no 4º trimestre de 2022, dos 75,3 milhões de domicílios existentes no Brasil, 14,9% (11,3 milhões) tinham como pessoa de referência mães solo.
São muitos os desafios dessa trajetória, e a Angeline Resende sabe bem disso. Angeline, aluna do Gran Cursos, é mãe solo e estuda para concurso há 17 anos. Ela fez sua segunda prova para concursos aos 19 anos — quando ainda estava grávida — e foi aprovada. A mulher seguiu estudando e buscando, até que conseguiu outra aprovação, e atualmente é analista em políticas públicas e gestão educacional na Secretaria de Educação do Distrito Federal.
“Para mim, o maior desafio é saber equilibrar quando o seu tempo de qualidade com seu filho pode ser abdicado e quando não pode. A vida em geral precisa de concessões e nenhuma mãe tem só filho e estudo para cuidar. Tem dia que é uma necessidade da criança que não pode ser adiada e o estudo acaba sendo postergado”, detalha.
Durante a dedicação entre estudo e maternidade, muitas vezes às mães concurseiras se cobram e por vezes até sentem culpadas. Joelma Mendanha é aluna do IMP concursos e voltou a estudar para certames recentemente. A mulher conta que ela e seu filho de seis anos fazem acompanhamento psicológico para amenizar o seu sentimento de culpa. “Penso que o meu sacrifício que eu estou fazendo hoje é em prol dele. Ele também está se sacrificando, converso muito com ele e ele já entendi. Aí eu fico mais tranquila.”, afirma Joelma.
Rede de apoio
Se ter uma rede de apoio é essencial para as mães de forma geral, para as mães solo isso é ainda mais importante, principalmente para aquelas que sonham com a nomeação em um cargo público. “Falar em resiliência é clichê, mas estudar para concursos exige isso constantemente da gente. Eu olho para minha filha e deposito nela minha força para não desistir! Quero ser inspiração para ela! Ela é meu combustível!”, afirma Aniele. Joelma também ressalta a importância do apoio de sua família nesta fase de sua vida: “Às vezes a gente baqueia e pensa ‘será que eu vou conseguir?’ e eles falam ‘a luta é essa a gente está aqui para o que você precisar’ e isso é muito importante”.
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes