O Sexo na Era Digital !

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Modernidade Líquida!

Modernidade líquida é o termo utilizado pelos especialistas do comportamento para definir a superficialidade nas relações humanas na dinâmica de um mundo globalizado. O Termo foi cunhado pelo admirado filósofo  Zygmunt Baumant (1925-2017). Trata-se da capacidade do indivíduo, encaixotar a realidade de acordo com seus arquétipos, experiência e personalidade. O que consome e de que forma o faz, o seu estilo de vida, a sua bolha, definem a realidade independente da própria realidade sólida que o cerca. Tendo recursos para sua mobilidade, não há vínculos com territórios e laços culturais que o fixem. O estilo nômade global é o preferido e almejado. As palavras de ordem são: fluidez, volatilidade, imprevisibilidade, onde também não cabe vínculos profissionais muito duradouros.

O modelo de sociedade sólida era pautada na segurança, estabilidade, bom salário e longa carreira. Os princípios religiosos e comunitários exerciam poder de enquadrar o indivíduo num conjunto de regras morais capazes de controlá-lo. Ou seja, os preceitos de uma sociedade tradicional, paternalista e religiosa. Neste contexto as regras morais relacionadas ao sexo estiveram atreladas a noção de pecado, punição, controle e sua prática policiada pela sociedade.
Numa Sociedade Líquida, a falta de vínculo nas relações afetivas, aumentou a prática do sexo casual e tecnologias potencializaram esta possibilidade, facilitando encontros e o aumento no número de parceiros. Para se ter uma ideia, apenas um dos aplicativos de relacionamentos, o Tinder, desde seu lançamento em 2012, foi baixado 340 milhões de vezes. Apenas em 29 de Março de 2020, no início da Pandemia, foi registrado um recorde de 3 bilhões de “matches” no mundo.


Os “Tinders” no Isolamento Social
Estas Plataformas amargam perdas financeiras com o Isolamento Social, no que se refere as limitações dos encontros presenciais. O Tinder por exemplo, tem o seu modelo de negócios baseado nos 6 milhões de assinantes do serviço “ouro” que geram a receita da empresa. Com a Pandemia tornou-se menor o número de usuários dispostos à pagar. Eles e outras empresas concorrentes buscam reposicionar o modelo de negócio, gerando Salas Virtuais de Encontros dentro da política de dupla aceitação (as partes terão que aceitar mutuamente).

A Abstinência Pandêmica
No Reino Unido, menos de 40% das pessoas adultas afirmaram manter atividades sexuais no início da Pandemia. Esta constatação é de um Estudo publicado pela na revista especializada The Journal of Sexual Medicine.. A pesquisa foi liderada pelos professores Lee Smith, da Anglia Ruskin University (ARU), e Mark Tully, da Ulster University. Chama atenção para o perfil dos respondentes que afirmaram ter mantido alguma forma de relacionamento sexual nos sete dias anteriores a entrevista: São Homens, Jovens e Casados. A grande maioria pode ter sido afetada pelos fatores emocionais envolvidos, como o estresse e ansiedade causados pelas incertezas. Os usuários de aplicativos de relacionamentos, os não casados ou que não vivem com seus companheiros, pelas dificuldades impostas pelo Isolamento e necessidade de prevenção contra o corona vírus, engrossam a lista dos 60% identificados pela Pesquisa em abstinência sexual. Certamente que a proporção estatística deve variar de uma sociedade para outra, conforme o estágio do Isolamento. Contudo, faz muito sentido imaginar que a Pandemia realmente impactou a intimidade humana.

A Baixa Libido em Tempos de Hiperconectividade

Mas será que a Pandemia é a culpada absoluta pela redução da atividade sexual da humanidade? Curiosamente podemos afirmar que nos últimos 20 anos, o sexo está em baixa! Esta afirmativa baseia-se por exemplo, nas publicações oficiais da Academia Internacional de Pesquisa Sexual, segundo a qual, se constata uma redução de 40% na frequência sexual das pessoas com parceiros definidos e um desinteresse claro das novas gerações, com a prática sexual. Os motivos certamente são variados, mas se atribui principalmente ao excesso de trabalho, com excessiva conectividade ocupando o tempo livre das pessoas.

A última moda do Vale do Silício – Jejum de Dopamina
O Berço da Tecnologia global, se move por US$bilhões e para garanti-los, uma série de modas são lançadas constantemente. Nota-se que sempre têm a produtividade como foco central. Ou seja, ainda que se pense em estilos de vidas mais saudáveis, como meditação mindfullness , yoga e os jejuns intermitentes, a busca pelo aparente equilíbrio visa sempre a obtenção de melhores resultados financeiros e aumento no desempenho e na performance dos times. Algumas das práticas mais atuais: beber chuva e água pura sem fontes tratadas, microdoses de LSD, regime de prazer: comida, álcool, sexo e redes sociais (detox tecnológico).
Cameron Sepah é o autor do termo: “Jejum de Dopamina”, ele é investidor em tecnologia e psicólogo. Considera ser importante do ponto de vista neural, gerar reinicializações do cérebro e o jejum aos prazeres (e vícios), representaria o melhor caminho para potencializar a produtividade. Já o Diretor de Neurociência Cognitiva do Centro de Evolução e Comportamento Humano da Universidade Complutense de Madri, Manuel Martín-Loeches, pensa diferente: “não há como restaurar algo que está em constante mudança desde antes do nascimento, como é o caso do cérebro. Se restringirmos a dopamina com o jejum, ocorrerá algo semelhante aos efeitos a longo prazo de um vício: falta de satisfação, que costuma levar à depressão”. “Nem tudo é prejudicial na superprodução de dopamina. Também precisamos dela para nos apaixonarmos. Sem essa molécula maravilhosa, é muito provável que nunca sucumbiríamos ao amor”, ressalta.

 

Computação Afetiva
Assim como a Assistente Virtual do Bradesco, a “Bia”, ganhou notoriedade com a campanha publicitária do Banco em defesa das mulheres, ao dizer que a inteligência Artificial dedicada ao atendimento dos clientes, não vai tolerar atitudes machistas e misóginas, passando a responder aos abusos praticados majoritariamente por homens héteros. Cada vez mais as Big Techs e grandes Corporações cuidam para que haja uma “humanização” cada vez maior de seus sistemas virtuais de atendimento. No filme “Her” fica clara a possibilidade de um ser humano se apaixonar por uma inteligência artificial e quanto mais ela desenvolver a percepção de valores, sentimentos, padrões emocionais de seus “assistidos”, mais íntima se tornará deles.
Por trás deste poder interativo-emocional há um mercado estimado em US$ 867 milhões, com previsão de alcançar nos próximos 5 anos, o patamar de US$ 5, 36 bilhões (Consultoria Research and Markets). Trata-se de muita ciência e tecnologia embarcada, com a ciência cognitiva ocupando o lugar central deste conhecimento. Envolve tanto a neurociência, quanto a psicologia cognitiva, a linguística, a inteligência artificial e ciência da computação propriamente dita. O termo foi cunhado ainda nos anos 90 pela pesquisadora e fundadora do Grupo de Pesquisa de Computação Afetiva no Laboratório de Mídia, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês), Rosalind Picard.

Capitalismo – O Novo Dom Juan da Sedução
O Filósofo francês Gilles Lipovetsky, afirma que o Capitalismo cooptou a sedução e a colocou inteiramente aos seus serviços. Seria uma espécie de gigolô moderno de todos nós? Em recente entrevista ao “Fronteiras do Pensamento”, ele afirmou: “O capitalismo de consumo é o motor do crescimento nas sociedades hipermodernas, o nervo da economia. Desde os anos 1950 o capitalismo se entranhou no consumo de massa, e isso transformou os modos de vida. Hoje em dia Don Juan é um sedutor ultrapassado, muito pequeno, não é nada se comparado ao capitalismo que seduz sem parar milhões e milhões de homens, mulheres, crianças, idosos. Packaging, publicidade, séries, filmes, destinos turísticos, música… estamos em um universo que não é mais o da disciplina coercitiva, mas o de uma máquina de estímulos, um sistema de tentações que diz sem parar “veja, isso é magnífico, bom, você gostará”.

A Ressignificação do Sexo tem merecido também muitos estudos. O conceito distorcido e performático da sexualidade, disponível cada vez mais cedo pela pornografia oferecem muita facilidade no acesso aos conteúdos disponíveis na internet. Para além de retirar o encanto, a magia, o erotismo, a indústria pornográfica posiciona o relacionamento sexual, no hall do Score e do jogo da Competitividade em que quantidade, dominação e desafeto representam mais um dos inúmeros jogos estressantes aos quais as pessoas já estão submetidas e machucadas. Tanta informação e estímulos, associados a ansiedade, são capazes de neutralizar os desejos e afetar o corpo de diferentes maneiras, provocando anorgasmia (ausência de orgasmo), dispaurenia (dores na penetração) no caso do sexo feminino, impotência, ejaculação precoce no caso sexo masculino e outros transtornos sexuais e frustrações nas expectativas. A ditadura do prazer, que obriga o orgasmo, a duração máxima e insaciável do sexo e o julgamento da aparência do corpo, fazem parte destes paradigmas distantes do erotismo e do afeto essenciais nas relações humanas.
A modernidade líquida torna estes aspectos distorcidos das relações, mais “aceitáveis” e apontam para um futuro curioso. O especialista em estatística da Universidade de Cambridge, David Spiegelhalter, considera que Sexo será uma exceção já em 2030. Será?????

Que possamos exercitar o alinhamento de nossas mentes, corpos e espíritos, de forma sistêmica. Observar o nosso estado de presença, nossa plenitude, onde a sensibilidade, a afetividade, a empatia, o carinho e o amor nos mantenham conectados com a essência de todos e de tudo é imprescindível. A Tecnologia embarcada no poder do amor é transcendental e capaz de proporcionar a liberdade original de nossas existências ! Meditemos sobre isso!

Namastech!

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