NEOM – A Cidade Futurista!
Na Arábia Saudita, uma cidade emergente do tamanho da área de Massachusetts, já é expectativa no mundo todo. O projeto prevê carros voadores, uma lua artificial, 100% abastecida por energias renováveis, previsão de 1 milhão de pessoas, sem ruas e carros, constituída como Zona Internacional Independente, abrigando empresas inovadoras nos moldes do Vale do Silício, serviços públicos realizados por robôs e Inteligência Artificial, com muita Natureza e equilíbrio ecológico. O Projeto previsto para 2030 tem o sugestivo nome de NEOM uma contração do prefixo latino neo, que significa “novo”. A quarta letra é a abreviação de “Mostaqbal“ (em árabe: مستقبل), uma palavra árabe que significa “FUTURO”. Este futuro tem preço e prazo estabelecidos: US$500 bilhões, custeado pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita, além de investidores privados locais e internacionais e conclusão até o ano de 2030. Neste pedaço significativo do deserto saudita (Província de Tabuk), o empreendimento chamado de “A Linha” (do inglês: “The Line”), funcionará como uma espinha dorsal de comunidades hiperconectadas. Qualquer semelhança com a “Elysium” (referência ao filme estrelado pelo ator Wagner Moura), não parece ser mera coincidência.
Será que o aporte financeiro e a garantia de uma vida plugada nos inimagináveis recursos da ficção científica é suficiente para atrair o interesse das pessoas em migrarem de suas atuais realidades culturais, dos seus laços familiares e geográficos para povoar estes “novos mundos”? Observa-se uma enorme dificuldade de outros projetos semelhantes decolarem e se viabilizarem, como é o caso da Cidade Futurista sul-coreana, Songdo próxima de Seul; Lusail, a futura cidade-sede da copa do Catar em 2022, já inaugurada; Masdar nos Emirados Árabes Unidos entre outras, que resultam em um verdadeiro fiasco populacional.
Em uma era de transição humana impactada por mudanças comportamentais e desenvolvimento tecnológico disruptivo, observa-se que muito mais do que Hi Tech (alta Tecnologia) precisamos do Human Touch (toque humano). Quanto de inclusivo tem as inovações extraordinárias no sentido de dar acesso à todos as mesmas possibilidades? Quando deparamos com o modelo mental concentrador de renda e elitista que privilegia o acesso do melhor para poucos, como assegurar a democratização dos avanços e a conciliação dos cuidados com o meio ambiente?
Economia de Francisco e Clara!
A Covid 19 mostra que o encastelamento dos poderosos não pode mais desconsiderar que a falta de tratamento de aguas e esgotos provoca contaminações e doenças na base da pirâmide onde estão os que servem suas casas, carregam seus lixos e cuidam de seus filhos e netos. Nada está desconectado em termos humanos. Não adiantará a proliferação de robôs e eles estão a caminho, sem auxiliar as pessoas no desenvolvimento das novas habilidades, não se justificará bilhões de dólares em cidades futuristas sem alma. E por falar em alma, uma proposta conciliatória de vida urbana humanizada surge com toda força e coloca o ser humano no centro das prioridades dos desenvolvimentos arquitetônicos e urbanísticos, refiro-me ao movimento chamado “Economia de Francisco” formatado como: “Programa da Economia de Francisco e Clara para os Municípios”.“Pensar um programa econômico para as cidades no século XXI implica em imaginar processos econômicos interligados com os ciclos da vida, em que os processos econômicos servem à Vida, jamais o contrário. Não é a vida que deve servir às cidades, são as cidades que devem servir à vida. Para cada planilha com números frios, há vidas quentes. Por isso, realmar a Economia e pensar as cidades para o Bem Viver”, escrevem Silvana Bragatto e Célio Turino, dois representantes do Movimento, em artigo para a Coluna Rumo a Assis: na direção da Economia de Francisco. As propostas objetivas para a humanização das cidades podem ser acessadas diretamente no website da ABEFC – Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara: http://economiadefranciscoeclara.com.br/
O progresso, o desenvolvimento, especialmente urbano não pode mais desconsiderar seus impactos no ecossistema local e global que produz. Cidades futuristas para servirem ao verdadeiro propósito de integração homem-natureza, precisarão considerar muito mais do que medidas ecológicas centradas em seus moradores, precisarão computar e expandir os efeitos de uma possível descarbonização para outras comunidades que se atrelam direta ou indiretamente a elas. Precisarão considerar o equilíbrio social e as necessidades comunitárias de toda a cadeia produtiva de suas construções e da cadeia de serviços que servirão a vida de seus moradores. Se o olhar sobre os empreendimentos mais audaciosos for meramente especulativo imobiliário, possivelmente seguirão a amargar prejuízos financeiros e perderão a atratividade dos próprios investidores. Fundos públicos financiando projetos faraônicos, para uma casta usufruir, significa o uso do dinheiro público, da maioria da população para usos e frutos de poucos, isso é o mesmo que já nascer devedor, com passivo social injustificável. Basta calcular o montante de R$3 Trilhões na Cidade Saudita, mencionada. Quantas pessoas poderiam ter melhoria de sua qualidade de vida se somas como estas fossem empregadas nas cidades de maior densidade, atuais destes mesmos países modernistas?
Cidade Antipademia!
Atenta aos novos desafios parece surgir um projeto que carrega em parte as preocupações e prioridades da Economia de Francisco e Clara no sentido da humanização e da modernidade tecnológica e comodidades exigidas nos novos tempos. Trata-se da Cidade antipandemia que a China deverá construir nas proximidades de Pequim, cujos prédios construídos em madeira reduzem em 80% o consumo de energia, haverá produção local de comida, integração da comunidade via aplicativo que permitirá a reutilização de objetos e alimentos através de compra, venda e permutas, espaços de escritórios, escolas e lazer coletivo que possam ser percorridos de bicicleta ou a pé, sistemas de entregas inteligentes e diversas outras possibilidades que permitam um Re-Viver com base na simplicidade, no minimalismo e no espírito coletivo. Cerca de 40% dos alimentos consumidos na cidade serão produzidos localmente em fazendas verticais ou nos próprios jardins dos moradores.
Por falar em lua artificial, quantas vezes você deu uma paradinha nos últimos tempos para observar nosso satélite natural para o qual seus pais, avós, bisavós, trisavós, olharam, se iluminaram e se inspiraram ao longo de suas preciosas vidas? Na Pandemia, quantas famílias receberam sua solidariedade? Quanto do seu olhar coletivo tem despertado consciências para a prática da ajuda-mútua? Sem sensibilidade nos deixamos robotizar e reproduzimos o automatismo pragmático do “ter” e isso pouco difere dos riscos de uma vida controlada pelos temidos robôs. Saibamos temperar nossos sonhos, desejos e atitudes com o melhor tempero de nosso calor humano, chamado: Alma!
Namastech!