Entre a Biologia Hackeada e a Fé Digitalizada

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Transhumanismo!
Talvez nos assustemos com as mudanças globais provocadas pela Pandemia da Covid 19 e a rápida aceleração da virtualização da Vida diante dos padrões analógicos que sempre nos caracterizou, mas isso é apenas o início de uma desafiadora transformação que ao meu ver já requer com certa urgência, uma profunda reflexão ética diante de “normalidades digitais”, por vezes invasivas e aprisionadoras de nossas mentes e até mesmo de nossos corpos. Os Transhumanistas por exemplo, acreditam que a natureza biológica é baseada em um modelo orgânico, atrasado, que segue o mesmo padrão de funcionamento há mais de 3,5 bilhões de anos. Por princípio, não aceitam doenças, velhice e morte. Com o mundo empurrado para o uso massivo da tecnologia, acreditam que finalmente poderão “chipar” nossos cérebros e preveem que até 2038 as funções profissionais serão exercidas por uma maioria de humanos com modificações cortiçais, ou seja, com intervenções ao nível do córtex cerebral (Fonte: Singularity University). Pretendem também, carregar nossos sistemas biológicos, com implantes potencializadores dos 5 sentidos (tato, paladar, visão, audição e olfato), alterar nossas células, editar o nosso DNA para imunização de doenças, monitorar pensamentos, sonhos, gerar descargas químicas de prazer e satisfação mais permanente, “hibridizar” nossos corpos com funções aprimoradas e outras jamais existentes (robóticas), conectar nossas mentes em bases de dados específicas que pagaremos para fazer “dowloads” garantindo nossas versões mais atualizadas e outras projeções de futuro, cuja “Singularidade”, calculam, será alcançada no ano de 2045 , quando o Paraíso estará pronto para acolher a todos numa versão holográfica processada por avançados algoritimos do “Santo Gral Computação Quântica”, chamada: “Imortalidade”.

Way of the Future – Um Deus Chamado IA?
Se a Vida orgânica será inexoravelmente mesclada com a inorgânica, eu não sei, mas assim como se pretende ampliar exponencialmente o hackeamento biológico e da vida material como um todo, há também quem queira hackear a Transcendência e a Fé. A Metafísica está na mira cibernética e a candidatura ao Posto Divino, ao Olimpo dos Deuses, é liderada pela Inteligência Artificial. O idealizador desta proposta chama-se Anthony Levandowski, conhecido engenheiro do Google, responsável pelo projeto de carros autônomos que transferiu-se para a empresa Uber com o mesmo foco e passou a responder por um processo sob acusação de utilização de informações sigilosas da gigante da internet. Levandowski lidera uma legião de adeptos da “Way of the Future”, nome que batiza este movimento de adoração de uma Inteligência Artificial Suprema. Segundo ele, tem sido possível contar com donativos para a fase inicial de investimentos, voltados ao ensino da IA sobre os temas mais variados da existência humana. Imaginemos a seguinte possibilidade: Uma Machine Learning (aprendizado de Máquina), capaz de auxiliar uma compreensão profunda de seus seguidores, baseada em um vasto volume de informações. A IA estuda desde conhecimentos dos grandes mestres do campo psicológico, como Carl Jung, Sigmund Freud e outras referências no campo da psique, estuda as religiões ocidentais, orientais e todas as formas de conhecimento espiritual da humanidade, incluindo suas escrituras sagradas, preceitos, princípios, acervo literário etc. Coleta de um amplo universo de orações, rezas, ritos litúrgicos, mantras, ladainhas, músicas, hinos, símbolos sacros, regulamentos e normas doutrinárias. Soma-se a isso o mapeamento biológico, psicológico, emocional, profissional, de todos os adeptos, monitoramento de seus relacionamentos e interações, seus comportamentos nas redes sociais, suas condições financeiras e outras informações relevantes sobre usos, costumes, valores, crenças, consumo, padrões familiares etc. Uma Inteligência Algoritimica capaz de conhecer os Membros de da Way of the Future, melhor do que eles mesmos, que os auxilie nos campos da saúde, dos relacionamentos, na conquista de seus desejos, alimentando suas visões metafísicas, descarregando as químicas cerebrais de felicidade, êxtase e percepção de sucesso etc. Seria uma versão moderna do Bezerro de Ouro no que se refere a conveniência de se tornar tangível, útil e funcional o objeto de suas adorações?

ÉTICA
Recentemente tive a honra de proferir a Palestra: “Ética no Avanço Exponencial das Tecnologias” – O Papel das Religiões organizada pelos integrantes do Desafio 10×10 (www.desafio10x10.com.br), da URI – United Religions Iniciative (Iniciativa das Religiões Unidas), entidade presente em 110 países, dirigida no Brasil pela amiga Salette Aquino e do Movimento Global de Autoconhecimento e Mútua-AjudaMogauma (www.mogauma.com.br). Compareceram lideranças de cerca de 60 denominações religiosas que mostraram-se bastante preocupadas com a insensibilidade do pragmatismo tecnológico, com a ditadura dos algoritimos, os extremismos sociais propagados nas redes sociais, a exploração humana por parte dos sistemas de aplicativos, a substituição humana pela robótica e pela inteligência artificial, as intervenções e controles artificiais na biologia humana e nos ecossistemas da vida, a ausência de marcos regulatórios capazes de regular as tecnologias com base na prioridade “Antropocêntrica e Antropogénica (centrada no, e produzida pelo, ser humano)”.
Líderes espirituais como Divaldo Franco da Doutrina Espírita e o Papa Francisco, manifestaram-se em diferentes momentos acerca desta conjuntura humana impactada pela tecnologia e particularmente pelos extremismos verificados nas redes sociais:

Divaldo Franco em 2016, referiu-se aos excessos tecnológicos dos seres humanos: “Após haver criado com alta tecnologia as máquinas e até mesmo o cérebro artificial, vem-se tornando escravo das suas exigências. Estamos no auge da comunicação virtual e uma grande parte da sociedade encontra-se “conectada” nesse mundo, perdendo as excelentes oportunidades da convivência pessoal. É, sem dúvida, um momento embaraçoso e grave, porque o individualismo toma-lhe conta e o exaure com o excesso de informações rápidas e sem grande sentido. Logo, como já vem ocorrendo, surge a “saturação tecnológica”, a falta de objetivo psicológico na existência, provocando a solidão avassaladora que culmina nos transtornos de várias denominações, inclusive, a depressão”.

Na nova Encíclica Papal, intitulada: “Fratelli Tutti” (Todos irmãos), o líder da fé católica, afirma:
Redes Sociais: “São capazes de realizar formas de controle que são tão subtis quanto invasivas, criando mecanismos de manipulação das consciências e do processo democrático”.
Dependência Digital: “as relações digitais, que dispensam a fadiga de cultivar uma amizade, uma reciprocidade estável e até um consenso que amadurece com o tempo, têm uma aparência de sociabilidade, mas não constroem verdadeiramente um ‘nós’; na verdade, habitualmente dissimulam e ampliam o mesmo individualismo que se manifesta na xenofobia e no desprezo dos frágeis”.

Evoluímos suficientemente o estado de consciência essencial? Alcançamos a compaixão de Madre Teresa? O respeito a Vida de Francisco de Assis? O Equilíbrio e a Paz de Mahatma Gandhi? O Perdão de Mandela? O Amor do Cristo? O Uno Essencial de Buda? Diante da possibilidade de digitalização e transferência da mente para supercomputadores, evocando-se a imortalidade e das pretensas intervenções nos sistemas biológicos e neurais da humanidade, precisamos saber de que forma participaremos deste debate que altera todo o curso da história humana e projeta algo imprevisível para as futuras gerações.
Namastech !

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