Existe Livre Arbítrio na Era Digital?

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“No Futuro ficará muito claro que as empresas de internet, serão comparadas aos Bordéis onde tanto faz as fantasias, as loucuras dos frequentadores, desde que “consumam” o que tem na casa, paguem bem, se viciem em frequentar e comprem todos os acessórios que desejarem para suas vidas promíscuas”. Esta frase foi dita, por volta do ano de 2007, por um dos “pais da internet brasileira” que contratei como Consultor para a Estratégia Nacional de TICs (Tecnologias da Informação e da Comunicação) sob minha coordenação na Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI. Achei um enorme exagero, sorri, o questionei, mas passados poucos anos, parece que ele tinha toda razão.
Qualificando um pouco melhor a metáfora, as redes sociais são “as estradas”, a manutenção de suas vias, cabe as empresas de infraestrutura, os veículos precisavam ter força de mobilidade, por isso, os “desktops” deram lugar aos notebooks e atualmente aos “smartphones”.

Essa evolução para a mobilidade, nos conectou com a promessa utópica de que mais tecnologia, mais “Tempo Livre” para bem utilizarmos culturalmente, em viagens, gerando maior integração entre os Povos etc. Na verdade, o tal “poder individual”, revelou-se uma verdadeira “coleira eletrônica” que o aprisionado tem a chave para retirá-la, mas não pode ou não sabe mais viver sem ela. A dependência tecnológica liderada pelo celular, gera uma intoxicação de informações e uma bela monetização dos dados coletados das pessoas, que passam 8, 10, 15, 18 horas por dia conectadas.
A Onipresença dos celulares, grudados nas pessoas do banheiro, ao quarto é impressionante, ao ponto que as próximas gerações tenderão a funcionar como óculos, relógios e outras formas vestíveis, antes de serem embarcados em nossos sistemas biológicos. O mecanismo de “atualização”, continuará e o que se prevê é um córtex diretamente conectado na internet 5G, 6G e outros padrões neurais que lançarão. Ou seja, se ao longo dos séculos estudávamos para aprender (conhecer) e com isso nos qualificávamos melhor para um bom trabalho, no futuro próximo, trabalharemos para conhecer (atualizar nossas versões embarcadas) e assim podermos acessar mais informações que nos serão exigidas nos diferentes e novos tipos de trabalho.


No livro: “A Fábrica de Cretinos Digitais”, do neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, são apontados de forma aprofundada, os males concretos que os dispositivos digitais estão a causar em nossas crianças e jovens. O impacto direto no desenvolvimento neural é comprovado com os testes de redução de QI das novas gerações, em relação aos seus pais. Este fato, segundo Desmurget é inédito. Na entrevista concedida a BBC News (https://bbc.in/3es123O), o pesquisador afirma: “Simplesmente não há desculpa para o que estamos fazendo com nossos filhos e como estamos colocando em risco seu futuro e desenvolvimento”.
Algumas das causas relacionadas pelo especialista: “diminuição da qualidade e quantidade das interações intrafamiliares, essenciais para o desenvolvimento da linguagem e do emocional; diminuição do tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (lição de casa, música, arte, leitura, etc.); perturbação do sono, que é quantitativamente reduzida e qualitativamente degradada; superestimulação da atenção, levando a distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; subestimulação intelectual, que impede o cérebro de desenvolver todo o seu potencial; e o sedentarismo excessivo que, além do desenvolvimento corporal, influencia a maturação cerebral”. Algumas recomendações: “Antes dos seis anos, o ideal é não ter telas. Quanto mais cedo forem expostos, maiores serão os impactos negativos e o risco de consumo excessivo subsequente. A partir dos seis anos, se os conteúdos forem adaptados e o sono preservado, o tempo em frente a tela pode chegar até meia hora ou até uma hora por dia, sem uma influência negativa apreciável.
Outras regras relevantes: sem telas pela manhã antes de ir para a escola, nada à noite antes de ir para a cama ou quando estiver com outras pessoas. E, acima de tudo, sem telas no quarto. Desmurget, salienta que nada disso faz sentido se os pais, não derem o exemplo. Portanto, sejamos coerentes, sigamos as próprias regras.

Abuso Infantil – Taiwan regulamentou uma lei que considera abuso a exposição infantil às telas, penalizando com multas pesadas os pais que dão acesso a crianças menores de 2 anos de idade a qualquer aplicativo ou que não limite o tempo de uso dos filhos entre 2 e 18 anos. Na China, as penalidades se aplicam em relação ao uso dos videogames. Crianças e adolescentes são proibidos de utilizá-los a noite entre 22h e 8h da manhã e estão limitados ao máximo de 90 minutos diários durante a semana. Nos finais de semana, feriados e período de férias escolares, é permito o uso por 180 minutos diários no máximo.

Por que os gurus da Era Digital, especialmente das maiores empresas do vale do Silício, não permitem ou controlam rigidamente o acesso dos seus filhos às “telas”? Steve Jobs, da Apple, declarou que em casa limitavam o uso da tecnologia para seus filhos. O ex diretor da revista Wired (principal publicação do mundo digital), Chris Anderson, afirmou sobre os riscos do acesso por parte dos jovens aos dispositivos digitais: “Na escala entre doces e cracks, isso está mais próximo do crack”.
As escolas onde estão matriculados os filhos da Elite Digital, não permitem o uso de tecnologias, estimulam ao máximo os processos criativos, utilizando os recursos mais analógicos possíveis.
Nas suas mansões, as babás estão sendo obrigadas a aceitar uma cláusula em que estão proibidas de utilizar o celular no período em que estão com as crianças. Elas são inclusive policiadas por câmeras, grupos de mães que registram fotos nos parques se as surpreendem olhando para a tela do celular ou mesmo pelas próprias crianças que as denunciam.

A verdade é que enquanto o discurso de cidades inteligentes, satélites orbitais que vão garantir conectividade para todos globalmente, discursos igualitários de “inclusão digital”, se espalham com o estímulo de uma educação centrada no uso intensivo da tecnologia, na via inversa, os líderes da globalização digital, sabem que seus sucessores precisam ter discernimento, poder de escolha, exercer a capacidade cognitiva e criativa sem servirem como “produtos” ou “meros garimpeiros de dados” para uma estrutura de controle em meio a esta “Orgia digital”. Em 1932, em sua obra de ficção: “Admirável Mundo Novo”, Aldous Huxley, já previa isso. Ele definiu os filhos desta elite como “Crianças Alfas”, dotadas de capacidade crítica, desenvolvidas em relação a cultura e a linguagem. Enquanto os filhos das classes média e baixa, por ele chamadas de “Crianças Gamas”, estariam exauridas destas potencialidades natas, incapazes de se livrarem do pensamento condicionado, com habilidades, restritas cognitivamente e culturalmente.

A Cultura, a Economia Criativa, o Minimalismo, a Reutilização, a Reciclagem, a Desintoxicação Tecnológica, a Economia Solidária, a Reconexão com a Natureza, a Meditação, são opções urgentes como antídotos desta apreensão mental e de nossas liberdades. Sejamos pois conscientes de nossas responsabilidades com as próximas gerações e façamos as escolhas certas enquanto ainda há tempo!

Namastech!

Mais informações: gilbertonamastech

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