O Futuro do Serviço Público na Era Digital

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No dia 28 de Outubro celebra-se o “Dia do Servidor Público”.

Entre 2004 e 2011, assumi funções públicas ligadas às minhas áreas de formação acadêmicas: Gestão de Tecnologia da Informação (pós-Graduação) e Comércio Exterior (Graduação). Entre 2004 e 2008, exerci a Coordenação da Estratégia Nacional de Tecnologia da Informação (ENTICs) de nosso país e formei uma Rede Nacional de Agentes de Política Industrial e Inovação, intitulada; RENAPI, em mais de 17 Estados brasileiros, através da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI, que atualmente está vinculada ao Ministério da Economia. Entre 2008 e 2011 – Coordenei a Unidade de Internacionalização de Empresas na Apex Brasil, atualmente vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. Ambas experiências marcaram minha vida e posso dizer sem medo de errar, que mudaram completamente o meu conceito em relação aos funcionários públicos de nosso país.
O que vi foi um elenco de profissionais muito esforçado, na busca por qualificações e altamente comprometidos com resultados. Refiro-me não apenas aos funcionários das instituições citadas nas Agências Governamentais onde atuei, mas também ao universo de servidores públicos com os quais interagi em toda esplanada dos Ministérios. Deparei-me com equipes tão comprometidas que dez ou doze horas de trabalho, fazia parte de suas rotinas, sem qualquer adicional exigido. Podem chamar de ilhas de excelência, bolhas de Brasília, mas a verdade é que rodei o país e reafirmo, eu dei a mão à palmatória, pois engrossava o discurso comum no meio privado, de que funcionário público só quer vida mansa.

Para dar conta das demandas de um país colossal com 210 milhões de usuários, os Servidores Públicos, enfrentam uma realidade bastante desafiadora na Gestão Pública nas esferas: municipal, estadual e federal, vejamos:
• Modelos cartesianos de gestão que reproduzem mentalidades feudais de poder, enquadradas em caixinhas e disputas de territórios, onde a Inovação é pouco estimulada e geralmente vista com desconfiança, isto, quando não é punida;
• Desarticulação das políticas públicas entre um Ministério e outro; entre estes e o setor produtivo e acadêmico;
• Sobreposição de funções das pastas comandadas por Secretarias, Autarquias, Agências Reguladoras etc;
• Interferências Políticas e Descontinuidade de Projetos;
• Imprevisibilidade de Concursos para substituir colegas que anteciparam aposentadorias com medo da reforma previdenciária, gerando acúmulo de funções (a reposição via concurso foi inferior a 29% no ano de 2018 quando 18.837 servidores vestiram o pijama. Já em 2019, 36.000 servidores se aposentaram, número considerado recorde e celebrado pelo Ministério da Economia que prevê a baixa de 25 mil servidores por ano nos próximos anos).
• Fantasma de uma “Reforma Administrativa”, que pretende mexer na estabilidade funcional e flexibilizar direitos.


Como assegurar a melhor prestação de serviços aos cidadãos, frente ao exposto? O Ministério da Economia considera que o único jeito é reduzir ao máximo o tamanho da folha de pagamento dos Servidores Públicos através da desburocratização e da digitalização máxima dos Serviços. Para buscar este ganho de eficiência além de instituírem uma Secretaria Especial de Transformação Digital, deram a incumbência para que a ABDI, interaja com o setor produtivo e acelere também a digitalização da burocracia entre as cadeias produtivas do país e o aparato governamental. Quem em sã consciência seria contra tal modernização? Diante de parcos recursos e um setor privado altamente impactado pela crise pandêmica, naturalmente que a redução de custos e a busca da eficiência soa como música para toda a Sociedade. A questão é, Como?
O Desafio é enorme pois sem transformar o modelo como um todo, os investimentos para a transição digital da máquina pública, correm o risco de literalmente, “ se perderem nas nuvens”, afinal, os Big Datas, BI´s, Blockchains, Dashboards etc contratados, não passam de ferramentas. Ainda que sejam ferramentas extraordinárias, sem compreensão do ecossistema digital, da clareza dos objetivos, da capacitação funcional adequada, o pouco dinheiro pode sucumbir sem ganho de eficiência pois a diversidade de um país continental com suas realidades distintas impõem uma “escutatória” que os dirigentes políticos não sabem praticar. Mais do que isso, os usuários têm realidades diferentes, necessidades e urgências diferentes e carecem de padrões de respostas variados ao invés dos modelos pasteurizados, que tendem a se repetir na oferta dos serviços digitalizados. Conhecer e entender as reais necessidades dos usuários de cada órgão governamental, a linguagem e os instrumentos mais adequados de comunicação (Website, Redes Sociais, Push de Aplicativos, Enquetes Virtuais etc), pressupõe que preliminarmente as equipes internas sejam, capacitadas para a identificação adequada do público – alvo que atendem, considerando as diferenças socioeconômicas, treinamentos na utilização das novas tecnologias e atualização das metodologias de gestão.
Não existe milagre no sentido de considerar que um pozinho digital de “pir lim plin plin” ou “uma varinha mágica e tecnológica de um Harry Potter” será capaz de transformar as mentes semi-digitais de um dia para outro no paraíso da ficção científica governamental.
A Palavra de Ordem é repensar tudo e, neste sentido, o papel dos Servidores Públicos é absolutamente fundamental. Não haverá Transição Digital sem mudança de foco, educação digital, formulações de políticas públicas em conformidade com as novas demandas. Algo não se discute: cidadãos conectados exigirão maior eficiência e agilidade no atendimento  e utilizarão multicanais para requerer, reclamar e dar nota pela qualidade dos serviços prestados. Portanto é preciso investimento em preparação para o uso das ferramentas tecnológicas, mas sobretudo, para saber escolher os instrumentos mais adequados em meio a um arsenal novo de possibilidades, sob pena de se errar por excesso ou pela falta. É preciso mudar a velha prioridade por sistemas de controles em detrimento dos sistemas mais avançados de gestão e atendimento.


A pressão intensificada pelo desafio do Tele trabalho e seus impactos, desde os emocionais aos logísticos, na execução das tarefas, tornam o curto prazo mais difícil para a transição digital pretendida, sobretudo quanto ao engajamento e a troca de experiências pessoais, que a “Vida Bidimensional das Telas” não é capaz de assegurar. Este cenário não é exclusivo do Brasil, tão pouco do Serviço Público.
Na semana passada (Dia 21/10), o Fórum Econômico Mundial (da sigla em inglês, WEF), publicou um Estudo com algumas conclusões que servem para a realidade privada e pública também, referente aos efeitos da Pandemia no horizonte de 2020 a 2025 em âmbito global. Segundo eles:
• 85 milhões de empregos serão eliminados até 2025 por conta das soluções de automação, que cresceram de forma significativa durante a pandemia;
• 97 milhões de novos empregos serão criados, o que significa um acréscimo geral de 12 milhões de empregos;
• Até 44% da força de trabalho poderá operar remotamente;
• 78% dos líderes empresariais esperam que as formas atuais de trabalho afetem negativamente a produtividade.

  • Empregos que o WEF acredita que serão eliminados até 2025:
    Digitadores;
    Secretários administrativos e executivos;
    Funcionários de contabilidade, escrituração e folha de pagamentos;
    Contadores e auditores;
    Trabalhadores de montagem e fábrica;
    Gerentes administrativos e de serviços comerciais;
    Trabalhadores de informação e atendimento ao cliente;
    Gerentes gerais e de operações;
    Reparadores de mecânica e maquinaria;
    Funcionários que fazem registro de materiais e manutenção de estoque.
  • Empregos que o WEF acredita que aumentarão até 2025:
    Analistas e cientistas de dados;
    Especialistas em IA e aprendizado de máquina;
    Especialistas em Big Data;
    Especialistas em marketing digital e estratégia;
    Especialistas em automação de processos;
    Profissionais de desenvolvimento de negócios;
    Especialistas em transformação digital;
    Analistas de segurança da informação;
    Desenvolvedores de software e aplicativos;
    Especialistas em Internet das coisas (IOT)

O Futuro indica uma mudança disruptiva inegável, irresistível, mas este processo pode e deve ser humanizado, planejado e estruturado sob pena de se gerar mais ineficiência do que a efetiva universalização da prestação do serviço público. Como capacitar e converter as competências atuais proporcionando o domínio de novas habilidades, sem perder de vista um processo de transição realista? Que venham os Robos e Algoritimos, mas que a condução de todo este processo carregue a prioridade humana, como advertiu o Parlamento Europeu na sessão que aprovou a regulamentação sobre a Inteligência Artificial (Dia 20/10):

A IA deve ser “Antropocêntrica e Antropogénica (centrada no, e produzida pelo, ser humano)”

Parabéns pelo seu Dia, Servidor Público e Muito Obrigado!

Namastech!

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