Além de projetos de voluntariado, que existem no próprio Parque da Cidade, como o Correndo com você, que já retratei aqui, um trabalho de corredores guias de pessoas com deficiência visual, o local se transforma também em palco para outros projetos sociais que se apresentam para chamar atenção dos visitantes, mostrar o trabalho realizado, além de aproveitarem o dia com os participantes. Já presenciei várias apresentações de diferentes projetos, iniciativas e grupos de pessoas com alguma finalidade social e educativa por lá. Outro dia me chamou atenção uma grande quantidade de crianças lutando Jiu Jitsu. Achei que se trava de algum campeonato e me aproximei para assistir um pouco. Foi quando conheci um dos responsáveis pelo evento, Eduardo Santos, que, com muita gentiliza, conversou comigo.
Professor Dudu, como é conhecido, tem 49 anos, é brasiliense, nascido em Taguatinga Norte, onde mora. Ele é bombeiro civil, casado, 3 filhos. Participa com trabalho voluntário no projeto MMA, Ministério de Multiplicação de Atletas, da Igreja evangélica Ministério da Fé, e atua em Taguatinga e no Recanto das Emas. Conversei com Eduardo sobre esse projeto social com crianças e adultos, onde faz um trabalho de evangelização e ressocialização das crianças na comunidade. O Ministério atua com famílias em diferentes situações, incluindo crianças em situação de risco, com pais que estão nas drogas, por exemplo, adultos que estão no mundo do tráfico ou que estão em processo de reinserção na sociedade, e trazem pra igreja, onde estão “transformando vidas através do Jiu Jitsu”.
Um trabalho importante de dedicação, fé e transformação, do qual fala com muita paixão e alegria e que vale muito a pena conhecer.
Perguntas para Eduardo Santos:
P- Quantas pessoas, entre instrutores e colaboradores voluntários fazem parte desse projeto?
R- Nós somos todos voluntários, professores de Jiu Jitsu que encabeçam o projeto.
P- O projeto tem algum financiamento?
R- Não, é um trabalho de formiguinha, um ajuda dali, outro ajuda daqui, a gente compra os tatames, se a criança não tem o kimono, a gente junta, doa, compra, os que vão crescendo doam pras outras crianças, e assim eles vão crescendo no Jiu Jitsu desde crianças, já sabendo que não é uma academia, e sim um Ministério.
P- Quantas crianças participam hoje do projeto?
R- No projeto de Taguatinga nós temos 37 crianças, no do Recanto das Emas, nós temos 36 crianças, a quantidade de crianças é quase igual.
P- Faz quanto tempo que começou?
R- Esse projeto tem mais de 13 anos, foi crescendo. Eram só 3, 4 adultos, a gente foi brincando, ele foi crescendo e, na brincadeira, se transformou em um Ministério, o MMA. Hoje já somos 46 adultos em Taguatinga e 22 nos Recanto das Emas.
P- Qual o objetivo do MMA?
R- O MMA é o Ministério de Multiplicação de Atletas, nós trabalhamos com crianças e adultos no esporte do Jiu Jitsu e, através do Jiu Jitsu, a gente faz esse trabalho de ressocialização, de transformação de vidas, de acolhimento de pessoas que estão em situação crítica, a gente traz pra dentro e forma o atleta pelo Jiu Jitsu, levando a palavra de Deus em primeiro lugar.
P- Como é a rotina do MMA?
R- Nós temos o treino das crianças terças e quintas às 19h e os adultos terça, quintas e sextas às 20h15.
P- O que a pessoa tem que fazer pra participar?
R- É só ir lá, falar com o professor Bruno, que é o das crianças e comigo, o professor Dudu. A gente conversa, bate um papo, faz toda a instrução, preenche uma ficha, vê como está a criança, o que está acontecendo, faz todo um bate-papo. Se for a criança com os pais, agente vê, procura saber mais sobre ela pra saber como tem que ser tratada.
P – Aparecem crianças sozinhas?
R- A gente não aceita criança sozinha, tem que estar com os pais. O primeiro impacto é trazer os pais para perto, tem crianças autistas, a gente faz trabalho também. A gente não faz exceção de pessoas, a gente traz pra perto, porque o intuito é acolher.
P- Há quanto tempo você está no projeto?
R- Também há 13 anos.
P- O que você tem percebido ao longo desse tempo com as crianças?
R- Eu tenho percebido que muitas crianças chegam e os pais veem que estão sendo educados lá, isso parte lá de dentro e vai para dentro do lar. Os pais falam “nossa, meu filho hoje me obedece, meu filho tem disciplina, meu filho está melhor no colégio,” porque a gente faz esse trabalho dentro do tatame para que isso chegue até suas casas. E os pais dão o retorno, o feedback falando “olha, meu filho tá melhor”. Isso é o que agrada a gente, saber que aquela criança está sendo educada dentro de uma igreja, dentro de um projeto de Jiu Jitsu e isso tá alcançado a casa e a família. Hoje os pais vêm também. Antes, trazia a criança e o pai passa a vir também.
P- São crianças em situação vulnerável?
R- Tem também, principalmente no Recanto das Emas, tem muitas crianças, por isso o trabalho lá é mais forte, não que em Taguatinga não tenha, tem muitos também, mas a atenção maior hoje é lá. As crianças de lá tem uma atenção maior porque a gente já pegou criança num estado crítico. A gente traz junto, através do evangelismo, nas casas, nas visitas aos lares, a gente traz os pais também.
R- Quando você fala em situação crítica, é envolvimento com alguma coisa ilegal?
P- Tem alguns casos, na igreja, os pais falam que mexiam com isso com aquilo e são libertos, então a gente faz um trabalho com os pais, e junto com as crianças, a gente faz um trabalho em conjunto com a família.
P- Por quanto tempo uma criança fica no projeto?
R- Até o dia que ela quiser. Porque ela começa criança, até 12 anos, e com 13 anos ela via para os adultos e fica com os adultos até o dia que ela quiser.
P- Nesses anos de projeto, alguém já saiu pra disputar, ser atleta?
R- Já. Temos crianças que disputam campeonatos, na semana retrasada tivemos um campeonato no JK Shopping, levamos 25 crianças, tem vários campeões aqui no meio. Porque o intuito é formar atletas, e principalmente levar a Palavra para que eles se fortaleçam.
P- E hoje, é um campeonato?
R- Hoje é o Dia Feliz. É um piloto, o primeiro. Os pais estão gostando, a gente vai fazer mais e mais.
P- O que é o Dia Feliz?
R- O dia feliz com Jesus, só brincadeira. É só um dia feliz com eles brincando. A gente juntou as duas escolas até para eles se conhecerem mais, estarem perto.
P- Por que fazer aqui, no Parque da Cidade?
R- Porque o alvo é maior, as pessoas passam, já vieram várias pessoas aqui pra ver, falam “nossa que legal, nunca teve isso”. E o nosso intuito aqui é impactar as pessoas e elas verem que as crianças são o futuro do nosso país e elas verem que tem um lugar que tem um projeto assim, e agente está aqui pra mostrar, pra dar visibilidade ao projeto. E o Parque é um lugar muito legal e muitas crianças têm pais aqui com quase 50 anos e nunca vieram no Parque. Nunca veio ao Parque, não sabe o que é o Parque, e a gente trouxe. Então pra eles é algo diferente. Tem criança aqui que não sabia nem o que era o Parque da Cidade.
P- O que você acha do Parque?
R- Aqui é ótimo, eu gosto demais disso aqui
P- Você é frequentador?
R- Não assíduo, eu venho quando posso, principalmente por causa da correria com as crianças, treinos no final de semana numa igreja ou outra. Mas aqui é um local muito legal para estar com os filhos, tem dois filhos meus aí. E sempre que a gente pode a gente está aqui, vem caminhar, correr, é muito legal, muito bom.
P- E pra fazer evento…
R- É a gente viu que aqui é o lugar ideal pra gente fazer um evento. Esse é um piloto, mas vamos fazer mais aqui, mais e mais.
P- Eduardo, no que você acredita, o que lhe guia na vida?
R- Jesus! Pra mim é Jesus. Foi o que me restaurou na vida, me tirou das drogas. Hoje tenho 22 anos que não bebo, que não fumo, que eu tenho uma vida abençoada e foi Ele que me resgatou. Por isso estou nessa caminhada com Cristo e botando essas crianças no mesmo caminho, que foi onde eu me encontrei, onde eu restaurei a minha família, restaurei a minha vida, o meu casamento. Hoje eu tenho uma vida abençoada, filhos abençoados. Esse é o motivo. O propósito maior é ganhar vidas, o propósito maior desse Ministério é ganhar vidas.
P- Qual a importância do esporte?
R- Esporte pra mim é algo que transforma, algo que renova, algo que socializa, é o que tira você do errado e traz pro certo. O esporte é tudo. É onde me encontrei e hoje estou aqui com 49 anos, participo de campeonatos fora, viajo o Brasil lutando.
P- Você acha que o esporte é uma saída para a população em situação mais frágil?
R- É uma saída e uma ferramenta. Porque lá tem pessoas com ansiedade, depressão, e a gente faz esse trabalho visitas nas casas, traz pra perto pra justamente mostrar que o esporte acolhe, transforma vidas, e o nosso intuito é esse.
P- E qual o seu recado para as pessoas viverem bem?
R- Praticar esportes e buscar Deus. Esse é o remédio.
P- E o seu conselho para a vida?
R- Sejam o bem, sejam pessoas do bem, façam o bem, caminhe para o bem. Leve a paz, leve alegria, leve o amor. Abrace, ame, perdoe, porque o que a gente tem de melhor é isso. Em vida, porque depois da vida, não tem mais jeito.