Receita para bem encerrar as festividades com diversão, bolo de amêndoas, coroa de papel e bibelô de porcelana.
Sou neta de italianos e, como não podia deixar de ser, as celebrações cristãs sempre foram respeitadíssimas, seguidas ao pé da letra – no Natal aguardava-se a chegada de Papai Noel com ansiedade e esperança que os pedidos da cartinha previamente enviada a ele fossem atendidos; no ano novo, a Missa do Galo era um acontecimento e tanto, pois precedia uma ceia de mesa farta com família reunida, votos de muita felicidade e conversas que podiam acabar em acalorada discussão (italianos são dramáticos e briguentos) e copiosas lágrimas. Ou não.
Mas as celebrações se estendiam até o dia 6 de janeiro quando é comemorada a visita dos três reis magos – Baltazar, Gaspar e Melchior – ao Menino Jesus. Nesse dia, os netos ainda crianças ganhavam presentinhos e iam brincar. Os adultos se reuniam em volta da mesa para partir um bolo de amêndoas que tinha dentro, em lugar não sabido, um bibelozinho de porcelana que poderia quebrar o dente de algum comensal desatento mas era o que identificava quem ganharia uma coroa de papel e o título de rei assegurado por um ano inteiro. Um costume europeu que, para mim, foi se perdendo com o passar dos anos.
A bem da verdade, não apenas a chegada dos Reis Magos era celebrada no dia 6 de janeiro – era o dia marcado para encerrar as festividades natalinas, com desmonte da enfeitada árvore e retirada dos demais enfeites que celebravam Noel.
Hoje em dia ainda existem descendentes de europeus que fazem festa no dia de Baltazar, Gaspar e Mechior – os mais prendados preparam em casa mesmo o famoso Bolo de Reis (Galette des Rois como chamam os franceses), na sua versão original de massa folhada com recheio de amêndoas, pequeno bibelô de porcelana dentro, enfeitada com uma extremamente purpurinada coroa de papel.
Assim que os comensais-candidatos-a-futuro-rei estão à volta da mesa, a tradicional iguaria é partida e o anfitrião oferece a cada convidado uma fatia. Nesse momento todo o cuidado é pouco – dentro de uma das fatias está o enfeite de porcelana, material duro, que aguenta o forno e quebra os dentes dos mais afoitos. Um delicioso perigo.
Por isso, talvez, que às crianças, senhoras e senhoritas não seja permitido concorrer à sucessão do reinado. Só aos cavalheiros adultos é concedida a honra de levar para casa a porcelana e a coroa.
Como rei recém-coroado, o sortudo terá deveres a cumprir passados 365 dias de sua coroação: abrir sua casa para comemorar o Dia De Reis, preparar a Galette des Rois com o mesmo bibelô conseguido no ano anterior e passar adiante a dourada coroa.
Ainda dá tempo de preparar a sua festa de reis!
Quem se inspirar e quiser reunir família e amigos para essa brincadeira, tem dois ou três dias para se organizar. A coroa é fácil de fazer em casa – basta cartolina ou papelão, tesoura, cola e um vidrinho de purpurina. O Bolo de Reis pode dar mais trabalho aos de dotes culinários reduzidos mas no café de Daniel Briand tem pronto, conforme a receita original, com peça de porcelana no recheio e coroa de purpurina em cima.
Vale lembrar que no dia seguinte, com coroa ou sem, a árvore de natal e as guirlandas deverão sair de cena. Bem guardadas durarão por muitos anos. Assim como as tradições.