O fim do ano e suas inevitabilidades (Parte 3)

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Para encerrar – por enquanto – o tema do fim do ano, abordo uma brincadeira que está na bica de se transformar em inevitabilidade natalina: a do amigo oculto.

Sou descendente de italianos (por parte de mãe) e tenho as melhores lembranças dos natais que passei na casa de meus avós, com direito a Missa do Galo, vestido novo, ceia de mesa farta, cartinha para Papai Noel e uma gostosa e infantil ansiedade ao despertar no dia seguinte, correr para a árvore de Natal e conferir se o Bom Velhinho havia atendido todos os meus desejos, depois de uma rigorosa inspeção no meu boletim escolar e uma minuciosa avaliação no comportamento. Papai Noel me encantava porque se dedicava exclusivamente a presentear crianças, não dava a mínima bola para os adultos, nem bilhetinho deixava para eles debaixo da árvore… com certeza não mereciam.

Amigo oculto é bom entre quem tem intimidade

Daí, vida que segue – cresci, evoluí (?) mental e fisicamente e acompanhei com certa melancolia a mudança na forma de celebrar Papai Noel. Entre as mudanças, surgiu uma “brincadeira” que já está se transformando em obrigatória na data – a do amigo oculto que, para mim, é algo ainda indefinido porque não sei se definitivamente não gosto. Na verdade, não adotei jamais em meus natais e se puder, fujo das festas em que são obrigatórias. Mas, quando delas participo, entro com boa cara e cumpro meu papel feliz e prazerosa. Soa contraditório? Soa. Mas as contradições também fazem parte da vida e até ajudam a levá-la com mais leveza.

Dá para o amigo oculto ser bom?

Para não radicalizar demais, há apenas um formato de amigo oculto que tem um leve perfume de aceitável: o que é feito em família ou entre amigos muito, mas muito íntimos. Até pelo formato: o nome do presenteado é sorteado dias antes do evento, compra-se a prenda, etiqueta-se com o nome do agraciado e deposita-se ao pé da enfeitada árvore (acho linda, sempre) colocada em lugar de grande visibilidade no espaço onde vai rolar a festa. Até aí, tudo bem.
O perigo mora no sorteio do nome quando a festa é grande, com pessoas que pertencem ao círculo de amizade alheio, pessoas que (devem ser) maravilhosas pois são amigas dos anfitriões mas, desconhecidas do presenteador.

Surge, então, o primeiro problema: o que comprar? Perguntar para algum outro convidado é arriscado pois pode ser dele ou de um chegado do informante o nome escrito no secreto

A árvore de Natal, sempre linda, pode receber os presentes

papelzinho e daí a identidade oculta corre o risco da revelação e a brincadeira, de ser prejudicada.


Cuidado ao comprar o regalito – melhor fugir de coisas absurdamente caras, mesmo que seu amigo seja um íntimo que você adora. Melhor comprar algo mais simples e deixar o presente poderoso para ser entregue pessoalmente, outro dia qualquer.

Também é sensato comprar algo que possa ser trocado como DVD, CD, livro, t-shirt, sapatilha, chinelo e por aí vai. Há que evitar perfume por ser algo extremamente pessoal e objetos de decoração de design complicado, em caso de pouco conhecer o agraciado, of course.

É Natal! Não deixe um escorredor de macarrão te tirar do clima da festa!

Por fim, não faça cara de espanto/desapontamento se receber de seu amigo oculto um escorredor de macarrão de plástico amarelo ovo, oriundo de alguma loja de R$ 1,99, ainda mais se presente que você comprou foram gastos muitos reais. A vida é boa de levar por conta de tais inesperados acontecimentos e um escorredor de macarrão, mesmo de plástico amarelo ovo, pode ser de grande utilidade, mesmo que seja para abrigar um belo arranjo de flores espetadas em seus furinhos.

Depois, basta colocar o fruto de sua criatividade dentro daquele cachepot de prata inglesa que foi da vovó e passa de mão em mão há dezenas de anos.

Leia mais:

O fim do ano e suas inevitabilidades (parte 2)

O fim do ano e suas inevitabilidades

Mariza de Macedo Soares

Publicado por
Mariza de Macedo Soares

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