Economia: a polarização e o discurso radical no Brasil
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A economia dirá se Brasil deve continuar polarizado e com discurso radical

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Em uma conversa recente com um amigo, o mesmo me relatou a preocupação com o rumo da sociedade brasileira que, em sua opinião, parece ter abandonado o bom senso para apoiar posicionamentos extremos, utilizando redes sociais para disseminar conteúdos, reais e fictícios, de forma a validar posicionamentos.

Entre diversos questionamentos, os principais eram: aonde essa postura nos levará? Estamos fadados ao extremismo ou em algum momento o pensamento equilibrado terá vez?

Para responder essas questões, tive que fazer uma ponderação sobre o tempo de observação que ele queria escolher ou considerar.

Para qualquer projeção futura, antes de chegarmos a respostas mais precisas, será preciso olhar para trás e perceber como chegamos até aqui.

Você lembra do movimento que ficou conhecido pelos “20 centavos”? Pois bem, o momento de hoje tem tudo a ver com aquelas manifestações.

Caso você tenha esquecido, no movimento “20 centavos” muitos jovens foram às ruas cobrar que a Prefeitura de São Paulo não aumentasse a passagem de R$ 3,00 para R$ 3,20. Contudo, as manifestações foram atravessando as fronteiras paulistanas, encorpando novas bandeiras, ganhando mais adeptos, chegando a ter até quem pusesse fogo no palácio do Itamaraty, em Brasília.

Ocorre que grande parte das pessoas que foram para as ruas protestar não estava, necessariamente, manifestando posição pela manutenção da passagem de ônibus. E estavam fazendo o que ali? Protestando, oras! Contra o quê? Contra tudo! Tudo? Para entender o “tudo” deve-se lembrar que o homem é a soma do indivíduo com as circunstâncias. Logo, o “tudo” inclui questões pessoais.

O peso da economia nas decisões políticas, na frustração do cidadão médio e na decisão dos eleitores

Em uma reflexão rápida, se a economia brasileira estivesse crescendo a 3% ou 4% ao ano, você acha que haveriam manifestações como as que aconteceram? Eu duvido. Há um ditado que diz que em casa que falta o pão todo mundo briga e ninguém tem razão. Eu creio nele.

Nesse ponto, vamos ter que voltar mais um pouco. Passados os anos de governos militares, após a redemocratização podemos dividir a história econômica em duas partes: antes do plano real e depois do plano real.

Antes, tínhamos uma inflação gigante, descontrolada, o que tirava o poder de consumo do cidadão, bem como, a percepção real do dinheiro. No governo Collor, o PIB brasileiro teve margens negativas em dois anos, marca só novamente alcançada por Dilma, no segundo mandato.

Depois do plano real que estabilizou a moeda brasileira, o cenário foi outro. Nos governos FHC e Lula, o PIB se manteve em crescimento em quase todos os anos.

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Observe que quase sempre há uma mudança de governo quando as margens ficam negativas ou apresentam quedas bruscas

Os programas assistenciais implementados pelos governantes, em maior número por Lula, aumentaram o poder aquisitivo, mas a geração de oportunidades não acompanhou no mesmo ritmo.

Com o tempo houve uma redução significativa dos programas sociais e, concomitantemente, escândalos de corrupção envolvendo políticos brasileiros vieram à tona, abrangendo cada vez mais partidos.

Em 2012, o PIB reduziu drasticamente a sua taxa de crescimento e a economia já parecia dar sinais da crise que viria logo a frente. O que explica 2013 e os “20 centavos”.

Resumidamente, os “20 centavos” foram a soma das condições econômicas, a descarada corrupção na política, a falta de políticas públicas eficazes na geração de oportunidades e a frustração gerada pela quebra de expectativas de crescimento pessoal.

Nos anos seguintes essa combinação explosiva de circunstâncias econômicas e frustrações pessoais aumentou muito e nos levou ao cenário descrito no início deste artigo.

O que virá depois? Aí é futurologia, mas já dá para notar que a economia dá sinais de recuperação e a pauta no Congresso Nacional está mais focada na economia do que nos temas conservadores.

A tendência é retomarmos o crescimento em poucos anos, o que levará um pouco mais de contentamento aos desapontados. Nessa situação hipotética, há quem acredite que ocorra a permanência do governo atual, mas acredito que seja cedo para dizer. É preciso levar em conta também o pragmatismo do eleitor.

Na maioria das vezes, o eleitor é conservador durante a crise, liberal durante o crescimento, social quando já tem o suficiente.

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