Em um espaço cercado por grama e brinquedos, dezenas de cachorros correm livres sob o olhar atento de profissionais treinados. Parece uma cena de um parque de diversão para pets – e, de certa forma, é.
Em Brasília, a creche canina Bee Dog transformou uma paixão por animais em um negócio que cresce a cada dia, acompanhando uma mudança no comportamento dos tutores: cada vez mais preocupados com o bem-estar emocional e físico dos seus companheiros de quatro patas. O nome “Bee” vem de “Be”, do inglês “ser”, mas também remete às abelhas, que são trabalhadoras, organizadas e vivem em comunidade; enquanto “Dog” trata-se de “cachorro”.
O serviço vai além do simples cuidado, pois oferece socialização, enriquecimento ambiental e rotina estruturada para cães de todas as idades. Em tempos em que os pets são considerados membros da família, deixar o cachorro sozinho em casa o dia todo já não é mais uma opção para muitos.
A fundadora Samara Geronazzo informa que a creche deve ser um lugar com propósito, afeto e conexão. “É um convite para que o cão seja o que ele é: cão. Por isso, nossas linhas de trabalho se chamam Bee Wild [seja selvagem], Bee Free [seja livre] e Bee Happy [seja feliz]”, conta.
O negócio saiu do papel apenas em 2024, mas o desejo de Samara era antigo. Ela ressalta que foram muitos anos sonhando com um espaço onde os cães pudessem ser livres para rolar na grama, socializar com segurança, explorar e se expressar com respeito à sua natureza. “A ideia foi ganhando forma aos poucos e se concretizou quando vi a oportunidade de unir tudo o que estudei e vivi ao longo da vida com comportamento canino, bem-estar e cuidado integral dos cães”, ressalta.
O projeto, aos poucos, ganhou forma e se destacou na capital. Em média, Samara atende de 50 a 70 cães por mês, considerando os diferentes planos de frequência. “Temos cães que vêm uma vez por semana, enquanto outros ficam conosco de segunda a sexta-feira e, ainda, temos aqueles que se hospedam nos fins de semana e feriados”, comenta.
De acordo com a fundadora, o dia na creche começa cedo. Após a chegada dos cães, é realizada uma rápida triagem para avaliar o estado emocional e físico de cada um. Depois, são realizadas atividades de socialização, enriquecimento ambiental, momentos de descanso e muita observação.
Samara ressalta que a rotina exige preparo físico, atenção constante e atualização técnica. Esse tripé é fundamental diante da missão da Bee Dog, já que a creche busca oferecer estímulo sem sobrecarregar, respeitando os limites e a personalidade de cada cão. “Cada cão é único, e essa é a base do nosso trabalho. Todos passam por uma avaliação comportamental e, a partir disso, criamos um plano de adaptação e integração respeitando o tempo de cada um”, explica.
Para uma melhor experiência dos cães, o espaço oferece ambientes separados por nível de energia e estilo de brincadeira, além de protocolos específicos para cães mais tímidos ou reativos. “Funcionamos no Lago Norte, em um ambiente familiar e acolhedor, com áreas com gramado natural, espaços cobertos para descanso e ambientes planejados para socialização e enriquecimento. Tudo foi pensado para oferecer liberdade com segurança”, complementa.
No entanto, Samara indica que há aspectos desafiadores. Um deles diz respeito ao fato de ter que contrapor a ideia de que uma creche é apenas um lugar para o cão brincar. A atuação, na verdade, vai muito além disso.
“Nosso trabalho é complexo, envolve conhecimento técnico, responsabilidade e muita dedicação. Também é desafiador educar os tutores sobre a importância do bem-estar emocional do cão, da rotina estruturada e do respeito aos instintos naturais”, afirma.
Para isso, Samara conta com uma equipe formada por profissionais apaixonados por cães e por comportamento canino. Além dela, que atuo na coordenação e acompanhamento comportamental, há monitores capacitados e em constante atualização. “O trabalho em equipe é essencial para garantir a segurança e o bem-estar dos cães”, destaca.
Três perguntas para Samara Geronazzo, fundadora da Bee Dog:
O que motivou a criação da Bee Dog?
A Bee Dog surgiu de um incômodo: ver cães urbanos sendo tratados como seres passivos, sem espaço para expressar seus comportamentos naturais. Eu não queria que a Bee Dog fosse apenas uma creche onde os cães ficam correndo com os outros; queria que fosse um lugar onde o foco estivesse no bem-estar físico e emocional do animal, com estrutura, conhecimento técnico e, principalmente, respeito.
Por que você se interessou nessa atuação profissional?
Desde pequena, os animais sempre foram minha paixão. Tive muitos cães e sempre fui a pessoa que cuidava dos bichos de todo mundo. Com o tempo, fui entendendo que meu amor por eles poderia se transformar em conhecimento. Fiz cursos de adestramento, me aprofundei em comportamento, participei de mentorias e hoje estou realizando um sonho cursando Medicina Veterinária.
Quais são os planos da creche para os próximos anos?
Queremos ampliar nossos serviços voltados à saúde e ao comportamento canino, e criar projetos de educação para tutores. Também pensamos em formar novos profissionais na área, através de cursos e mentorias sobre manejo consciente de cães em grupo.

