Beto Pinheiro, presidente da Abrasel/DF

Custos altos impactam no lucro

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Apesar da redução significativa de casos de covid-19, a pandemia deixou sequelas significativas no setor de alimentação fora do lar devido às restrições causadas pelo isolamento social. De acordo com a pesquisa mais recente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), realizada nacionalmente com empresários da área entre os dias 20 e 28 de março deste ano, o segmento ainda luta para se livrar das dívidas acumuladas.

A entidade estima que quase um terço das empresas ficou no vermelho em fevereiro, o pior índice desde maio de 2022. Outros 36% trabalharam com estabilidade e apenas 33% tiveram lucro, uma queda de 10 pontos percentuais com relação ao mês anterior. O estudo também indicou que a piora do quadro econômico empresarial atingiu todos os índices medidos pelo levantamento. 

Responsável por representar e desenvolver o setor de alimentação fora do lar, contribuindo para facilitar o empreender e melhorar a qualidade de vida no Brasil, a organização possui 27 seccionais, em todas as unidades federativas, e 32 regionais. Em Brasília, é representada por Beto Pinheiro, presidente da Abrasel do Distrito Federal. 

“A Abrasel possui um conselho de diretores para poder participar de todos os encaminhamentos e processos que acontecem na cidade, que influenciam direta ou indiretamente o nosso setor de alimentação fora do lar. Na prática, a nossa representação é através de uma assessoria parlamentar onde acompanhamos todos os Projetos de Lei que estão em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Acompanhamos esse relacionamento com o Legislativo e o Executivo para poder cuidar de tudo que influencia o nosso segmento”, explica Beto. 

Além disso, o presidente pontua que a entidade possui parcerias com marcas capazes de fomentar a atuação dos empresários da cidade. Com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por exemplo, a Abrasel traz consultorias e treinamentos para os seus associados. Essa iniciativa possibilita que os empreendedores tenham acesso a assuntos trabalhistas, tributários e contábeis. 

“Nosso intuito é trazer informações que ajudem no desenvolvimento dos negócios. Nesse sentido, para auxiliar ainda mais no êxito dos estabelecimentos, também disponibilizamos muitas parcerias comerciais. Conversamos muito sobre fornecedores e prestadores de serviços, assim como bons preços no mercado. Tudo isso fazemos para a nossa base”, ressalta. Atualmente, a Abrasel conta com 432 associados. 

Destaque na economia

No final do mês de fevereiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou, por meio dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que o grupamento “Alojamento e Alimentação” — do qual bares e restaurantes representam cerca de 85% do total — criou 181 mil novos empregos em 2022, chegando a 5,34 milhões de trabalhadores. Esse valor foi considerado o maior desde o último trimestre de 2019.

“A importância do nosso setor de alimentação fora do lar, para a economia, é gigante. Hoje, nós temos uma capilaridade muito grande. Em Brasília, nós somos um dos maiores empregadores da cidade, ao lado do setor de construção civil. Temos bastante empregos diretos e indiretos. Nesse aspecto, além de oferecer muitas vagas, a gente também gera muitas oportunidades de primeiro emprego. Jovens que não têm experiência e que acabam iniciando a sua vida profissional, dentro dos restaurantes”, comenta Beto.

Três perguntas para Beto Pinheiro, presidente da Abrasel/DF:

Qual o desafio da alimentação fora do lar?

O desafio do setor é a margem de lucro. A grande questão é trabalhar, vender e ter margem para pagar as dívidas que o nosso setor tem. Isso porque as empresas tiveram as suas margens reduzidas. Várias linhas do nosso plano de contas subiram, então, aumentou o aluguel nesse período de pandemia com o IGPM e também os preços, no geral. Temos, também, mais dois cenários: o primeiro é a questão da reforma tributária, que a gente já está esperando um impacto negativo por conta do aumento dos impostos. O outro refere-se ao aumento de gasto com equipe.

Como a pandemia impactou o setor?

A pandemia teve um impacto muito forte no nosso setor. Gerou muito prejuízo, muitas demissões e, infelizmente, vários restaurantes não conseguiram se recuperar, enquanto outros, se endividaram. Com relação à questão das dívidas, as pesquisas que temos feito pela Abrasel mostram que mais de 70% do nosso setor tem problemas com as finanças. Temos um percentual de empreendedores que estão trabalhando apenas para pagar dívida e sobreviver. A situação do setor, de uma maneira geral, é difícil.

Qual a sua avaliação sobre o empreendedorismo no DF? 

Avalio que Brasília é uma cidade muito boa para empreender. Temos um excelente público no que diz respeito à quantidade de pessoas na região e, também, na renda per capita. No entanto, o empresário não pode se iludir com isso. Ele tem que pensar em um produto ou um serviço que se adeque ao perfil do consumidor na nossa cidade.

Tem muito empresário que vem de fora e acaba não tendo sucesso porque acha que há muito dinheiro em Brasília e, com isso, qualquer coisa que for colocada aqui dará certo. Não é bem assim. Tem que ter prudência e tem que adequar o produto para o perfil do consumidor que nós temos na cidade. A capital tem potencial, mas tem suas peculiaridades, como em qualquer mercado. Por isso, é preciso de cuidado para não acabar se prejudicando e abrindo um negócio que não vai ser bem sucedido. 

“Em Brasília, nós somos um dos maiores empregadores da cidade, ao lado do setor de construção civil. Temos bastante empregos diretos e indiretos”

– Beto Pinheiro, presidente da Abrasel/DF