No último semestre do ano passado, o Comitê Olímpico Internacional (COI) mostrou interesse em inserir um esporte a motor no programa dos Jogos Olímpicos de 2028, que será sediado em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ainda que não haja uma garantia de que o automobilismo esteja, de fato, presente na competição, a possibilidade da sua inclusão no evento multiesportivo é motivo de celebração para quem é apaixonado pela velocidade sob quatro rodas.
Sabe-se que, dentro do automobilismo, Ayrton Senna se consolidou como um dos maiores ídolos do esporte, especialmente pelo seu desempenho de destaque dentro da Fórmula 1, onde foi campeão da categoria três vezes, em 1988, 1990 e 1991. A competição é uma das mais tradicionais no mundo e, neste ano, iniciará no dia 5 de março, com o GP do Bahrein. É previsto que a temporada tenha oito meses e meio de duração.
Há um forte protagonismo da modalidade no exterior, entretanto, Brasília também carrega a paixão pelo barulho do motor acelerado. Nesse segmento, um grande destaque da cidade diz respeito ao trabalho desenvolvido por Amir Nasr, responsável por formar pilotos na capital. Atualmente, o empreendedor representa alguns esportistas fora do Brasil, entre eles, o seu sobrinho Felipe Nasr, que já passou pela Fórmula 1 e, hoje, dedica-se ao Campeonato Mundial de Endurance (WEC), destinado aos protótipos esportivos e carros de turismo.
No entanto, muito antes de lançar Felipe às grandes corridas mundiais, Amir já atuava na área. O início da sua carreira se deu na década de 1980 e, desde então, não largou mais as pistas. No Distrito Federal, junto com o seu irmão, Samir Nasr, foi pioneiro na implementação de equipe e formação de pilotos. “Nós formamos de engenheiro a piloto. Gente para trabalhar no automobilismo de verdade. Transformamos o DF em escola de automobilismo e a maioria dos pilotos que tiveram sucesso fora do país, passaram por nós”, comenta.
Antônio Pizzonia, Bruno Junqueira e Vitor Meira são alguns dos nomes que fizeram parte da equipe de Nasr e se destacaram mundialmente. “Nosso trabalho é esse. Chega nessa época de janeiro e fevereiro, onde na Europa tem muita neve e frio, e os pilotos vêm lá de fora para fazer esse trabalho conosco”, destaca. Para isso, Amir conta com uma equipe multidisciplinar para auxiliar na preparação dos esportistas.
Segundo Nasr, o automobilismo atua em conjunto com diferentes tipos de profissionais: engenheiro mecânico, advogado, motorista de caminhão, psicólogo, nutricionista e marketing, por exemplo. Ele ainda indica que, para conseguir a expertise de cada um, é necessário um longo tempo de aprofundamento na área. “Até hoje, a maioria dos profissionais que eu trabalho são de Brasília. E eu trouxe todos eles para o automobilismo. Poucas pessoas no mundo são capazes de fazer o que eles fazem. Eu me orgulho muito disso e vejo que aqui tem muito talento”, comenta.
Dessa forma, especialistas como o fisioterapeuta Fernando Calixto e Leandro Vaz, médico nutrólogo, fazem parte do time responsável por cuidar dos pilotos. Há também um cuidado com o psicológico de cada atleta. “São 20 vagas para a Fórmula 1 no mundo. É mais fácil eu colocar alguém na seleção brasileira de futebol. Por isso, é muito complicado. Imagina a pressão na cabeça desses meninos”, contextualizou o seu irmão, Samir Nasr.
Transformamos o DF em escola de automobilismo e a maioria dos pilotos que tiveram sucesso fora do país, passaram por nós
– Amir Nasr, fundador da Amir Nasr Racing
Patrocínios
Para chegar na Fórmula 1, é necessário realizar um grande investimento financeiro no esporte. Em todas as categorias de formação, as equipes precisam que os pilotos levem verba para chegar às competições. A grande maioria entra com o próprio dinheiro para conseguir avançar na carreira automobilística. Contudo, Amir Nasr consegue driblar essa realidade com o trabalho que é realizado de forma minuciosa.
“No mundo inteiro, o que acontece até a Fórmula 2: o menino chega com o dinheiro da família ou patrocínio, paga e corre. Nós nunca trabalhamos assim. Eu tinha de 50% a 100% do patrocinador, não importa a categoria que a gente fizesse. Piloto nenhum pagou 100% para correr. Mas o que eu conseguia com isso? Os melhores pilotos”, indica.
Com a expertise de mercado, Amir trouxe à Fórmula 1, neste ano, marcas patrocinadoras de peso, como a XP Investimentos e a Porto Seguro. “Ter que vender não é algo que me assusta. Para mim, não importa o tamanho da montanha. Se eu tiver o piloto certo e se valer a pena, não há dificuldades que me impeçam”, ressalta.
Três perguntas para Amir Nasr, fundador do Amir Nasr Racing:
Como é atuar com o automobilismo?
Dentro do segmento, o leque é muito grande. Você tem a parte da equipe, a formação de pilotos, a venda de equipamentos terceirizados e a fabricação de equipamentos, por exemplo. Então, é bem variado, mas completamente fora do trivial de uma profissão normal. É um sobe e desce constante, muito forte e acentuado, e depende totalmente do momento em que o país está.
Por que há uma equipe multidisciplinar para acompanhar os pilotos?
Precisamos de vários profissionais para a preparação do piloto. Você tem essa parte da pressão, que aumentou, e também as questões relacionadas ao preparo físico. Os carros já estão muito avançados. Para aguentar tudo que um carro é capaz de fazer, é preciso ter um preparo físico de um atleta olímpico de ponta.
Como você avalia o potencial do automobilismo?
Ele está muito subjugado, sem rumo e sem política para o esporte. Nós já tivemos o automobilismo mais forte do mundo em termos de pilotos e de reconhecimento de categoria. A Fórmula 3 sul americana era reconhecida. Só havia três competições no mundo que davam direito para a licença da Fórmula 1: a nossa, a japonesa e a inglesa. Nós perdemos isso.