Feliz dia das mães para mães de bicho e de gente

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Que nesse dia das mães tenhamos a sabedoria dos índios e dos animais, que não se furtam de amar, cuidar e criar como filhos aqueles que pertencem a outras espécies

 

 

A generosidade do amor de uma índia ianomami na Venezuela Crédito: Mark Edwards/Reprodução da internet
A generosidade do amor de uma índia ianomami na Venezuela Crédito: Mark Edwards/Reprodução da internet

Na natureza, é comum os animais “adotarem” bichos de outras espécies, um comportamento visto não só entre os domesticados, mas também, ocasionalmente, na vida selvagem. No best seller Unlikely Loves (Amores Improváveis), a escritora de ciência Jennifer Holland conta inúmeros casos do tipo, como o de uma cadelinha que amamentou um esquilo, o de macacos cativos que tratam gatos como filhos e até de um cão que se tornou “pai” de uma coruja bebê.

A ciência ainda tenta encontrar uma explicação para esse comportamento e, recentemente, tem-se sugerido que o hormônio ocitocina, também chamado de “hormônio do amor” pode estar por trás disso. Essa substância é liberada durante o parto, aliviando a dor da mãe e ajudando a criar laços com o bebê. Porém, não é exclusiva do organismo de humanos. Pelo contrário, estudos recentes constataram que, quando trocam olhares, cães e seus tutores produzem a ocitocina, em uma clara demonstração de amor.

Diferentemente do homem “civilizado”, que para tudo quer explicação, muitos indígenas isolados, como os ianomami e os awá-guajá, agem com naturalidade no trato com os bichos. Mulheres dessas tribos amamentam macaquinhos nos mesmos seios que fornecem alimento a seus filhos.

No nosso afã de controlar o planeta e de nos posicionar no topo da árvore da vida, nos esquecemos que somos bichos e que, na natureza, tudo está conectado. Somos animais do reino Animalia, da classe Mammalia e da ordem Primata. É claro que, agraciados pela evolução das espécies, atingimos um nível cognitivo como nenhum outro ser.

Porém, nem sempre usamos com generosidade nossa habilidade de raciocínio e argumentação. Se somos capazes de construir prédios, fabricar carros e colonizar o espaço, por vezes nos falta a sabedoria dos animais com cérebros menos complexos e dos humanos não aculturados, e passamos a atacar relações que nos parecem inferiores.

Nas redes sociais, onde o lado mais raivoso do Homo sapiens parece aflorar, mulheres enfurecidas têm se manifestado contra aquelas que se intitulam “mães de pets”, reivindicando para si a exclusividade das relações maternais. Se dizem ofendidas com comparações, muito embora as mamães de cachorros, gatos, calopsitas e o que mais quiserem não estejam afirmando que seus filhos bichos sejam iguais a crianças humanas. Mães (e pais) de pet os amam pelo que são: animais — com necessidades, especificidades e características fisiológicas e comportamentais diferentes das de humanos. Mães de pets não se sentem inferiorizadas por amar como a um filho uma espécie diferente da dela.

Os ataques de ódio nas postagens de feliz dia das mães para mamães de pets são assustadores e desafiam a ideia de que somos mais inteligentes que outros animais. Qual o sentido de odiar uma manifestação de amor? Vamos atacar a injustiça social, a violência, a destruição do meio ambiente. Mas, jamais, odiar o amor.

Que nesse dia das mães, ninguém se ofenda com o amor alheio. Que ninguém se coloque no direito de se apoderar do amor, considerando legítimo apenas o seu.

Feliz dia das mães para todas as mães que genuinamente amam seus filhinhos, sejam eles bicho ou gente.

 

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