Livrai-me do ciúme

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Todas as noites faço uma oração para Nossa Senhora das Solteiras. Que ela me proteja da insanidade de virar uma ciumenta descontrolada. Que o Universo me livre dessa prisão. Amém! A reza tem motivação: descabimento é algo que se espalha e contamina. Se você não reforça a autoconfiança, torna-se vulnerável e vira paciente da mesma doença. E confesso que manter a própria estima elevada é mesmo uma árdua tarefa diária. Nem sempre a gente acorda se sentindo a mais amada e a mais desejada na multidão. Quem tem essa bênção?

 

Eu, por exemplo, detesto entrar em uma competição com as loiras e as altas. Acho a briga injusta. Afinal, nasci com cabelos escuros e tenho o biótipo mignon. Caso um exemplar desses cruze meu caminho, o jeito é respirar, subir no salto e explorar o que tenho de vantagem. Não há outro recurso. Há milhões de mulheres interessantes no mundo. Algumas terão mais atrativos do que você. Há as que têm menos, é bem verdade, mas, se você ficar encanada com todos os predicados pertencentes às outras, a única coisa que vai conseguir é ganhar o adjetivo de desajuizada.

 

A verdade é que tenho ficado penalizada com algumas mulheres, cada vez mais obsessivas com os passos dados por seus amores ou pelos sujeitos de seus desejos. E, o pior, a tecnologia tem reforçado o perfil de detetive compulsiva de gente insegura e controladora. Protetora das Solteiras, afaste-me desse mal! Amém!

 

Descobri que existe um aplicativo batizado carinhosamente de WhatsDog. O que é isso? Basicamente, um rastreador de todos os passos virtuais dados no WhatsApp pelo alvo do ciúme. A suspeitosa cadastra o número de telefone do vigiado e o sistema envia um aviso todas as vezes em que ele estiver on-line. E ainda manda um relatório de quanto tempo esteve conectado, em que minuto ativou o celular e qual tempo exato permaneceu por lá, fazendo qualquer coisa que a mente possessiva deduzir.

 

Quem me apresentou o tal detetive virtual foi uma moça jovem, linda, solteira e bem-sucedida. Ela, literalmente, passava o dia seguindo as atividades do pretendente no programa de conversas. Não bastasse, criava supostas traições, escapadas e bate-papos infiéis do rapaz. Tudo baseado nos horários que ele se conectava ao telefone. Fiquei com pena dela, mas não ousei convencê-la de que aquilo era um veneno para sua saúde mental. O que dizer a uma moça que tem ciúme dos próprios pensamentos? É caso perdido, pobre moça bonita.

 

Mais assustada ainda fiquei quando uma mulher propôs, em um grupo de mães no Facebook, a criação de um “Grupo de Vigilância dos Maridos” no WhatsApp. Sim, reli muitas vezes a proposta e não tenho dúvidas de que era disso mesmo que se tratava. A idealizadora certamente acreditava ser um projeto tentador e irrecusável: bastava você enviar para o grupo a foto da vítima — no caso o marido, o namorado ou o amante —, e elas compartilhariam com o grupo qualquer notícia dele, se o vissem em atitude suspeita por aí.

 

Não tenho ideia se alguém levou a história a sério, mas, ainda que seja brincadeira, me estarrece. Coitadas dessas apaixonadas que acham que estão controlando seus amores. Elas não percebem que estão, na verdade, sendo controladas por eles. Que tragédia! Nossa Senhora das Solteiras, rogai por elas. Amém!