Gente charmosa

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Minha visão anda embaçada. A cabeça parece funcionar como a de quem sobreviveu a uma borracheira e agora enfrenta a ressaca. Como quem bebe em exagero, tenho passado por momentos na vida com extrema intensidade: demais ou de menos.

Nesse processo, critiquei e fui criticada. Julguei duramente o outro como também fui juíza cruel comigo mesma. Nesse caminho turvo, andei em uma pista escorregadia entre a força e o desespero. Mandei gente embora da minha vida, desisti de algumas batalhas, me preparei bravamente para tantas outras.

Descobri que pouco deveria me importar com o que pensa o outro. Mal consigo colocar minhas ideias no lugar, imagina controla o pensamento alheio… Assim, tomei uma corajosa decisão: só quero por perto quem gosta de mim.

Quem sou eu para apontar o dedo? Cheia de defeitos, busco, diariamente, também minha medalha de “pessoa bacana”. Seria enorme pretensão dividir o mundo entre “pessoas que me merecem” e as “que não me merecem”. A definição soaria simplista e vaidosa. Burra, até! Ninguém é totalmente certo ou errado. Equivocada são suas expectativas em relação a outro ser humano, tão frágil e confuso como você.

Mais brilhante que eu, certamente, o escritor inglês Oscar Wilde encontrou uma forma de classificar a gente. No livro “O esfinge e seus segredos”, Marcello Rollemberg compila as melhores frases da obra do autor, entre elas a seguinte definição: “Ė um absurdo dividir as pessoas entre boas e más. As pessoas ou são charmosas ou tediosas.”

Nenhuma outra me encantaria tanto. Já que não tenho direito de condenar ninguém, ao menos me cabe a escolha de só conviver com as charmosas. Gente tediosa é entediada. Gente com charme é alegre, ri com gosto, de verdade. Chora também! De dor ou por amor.

Pessoas charmosas tentam sempre falar a verdade, são coerentes com suas ações. Pessoas tediosas dizem que querem hoje e desistem amanhã. São incapazes de sentirem empatia e nada lhes preocupa mais que do próprio prazer.

Gente charmosa é generosa, reconhece as próprias limitações, sem querer colocar as falhas na conta do outro. Quem tem charme também luta para ser estável emocionalmente. Tediosos são confusos, inseguros.

Entediantes gostam de receber, mas não sabem dar. São egoístas por essência e acomodados por opção. Gostam de falar de si mesmos, mas são incapazes de se interessar pela vida de quem está ao lado. Não se importam se marcaram e te deixaram esperando; se encenaram episódios da vida e não te avisaram que tudo não passava de um teatro.

Gente que encanta se preocupa, coloca em prática a máxima que diz:
“Não faça com o outro aquilo que não queria que fizessem com você”. Retribui, tem cuidado, é transparente. Liga, arruma tempo, faz. Muito mais difícil espalhar formosura que enfado. Não digo ser simples, mas é uma escolha. E eu decido ser charmosa.

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