Mulheres nas Olimpíadas: Ana Sátila canoagem brasileira disputará a terceira Olimpíada dela em Tóquio 2020
WhatsApp Image 2020-03-06 at 12.20.05 Jonne Roriz/COB A canoiísta Ana Sátila segura as duas medalhas de ouro que conquistou nos Jogos Pan-Americanos de Lima. Ao fundo aparecem os morros da capital peruana.

Entrevista Ana Sátila: canoísta fala do namoro com o técnico francês e da vontade de inspirar gerações

Publicado em Canoagem, Olimpíadas

Ana Sátila disputará a terceira Olimpíadas dela em Tóquio-2020 aos 24 anos. Veja o bate papo com a principal representante feminina da canoagem brasileira.

 

Qual o papel que você acha que exerce no crescimento da canoagem no Brasil com apenas 23 anos?

Sempre procuro inspirar muito as novas gerações. Acho que esse é meu principal objetivo dentro do esporte e da canoagem brasileira. Quero deixar um legado muito grande e para isso acontecer só inspirando as novas gerações. É o que tenho tentado passar. Claro que os resultados são muito importantes e é o que quero e sempre sonhei, mas depois de mim espero que tenha outros atletas e jovens que estejam se inspirando em mim e no Pepê, nessa geração de hoje. Esse é meu papel principal, influenciar e motivar todos esses atletas da nova geração.

 

Como está a expectativa para sua terceira participação olímpica com apenas 24 anos, nos Jogos Olímpicos de Tóquio?

Fizemos um bom trabalho durante esses quatro anos, estou muito confiante e pretendo colocar nos Jogos tudo que eu tenho aprendido de bom e das más experiências também, que no fim me ajudaram bastante. Acredito que estou muito bem preparada e estou me sentindo muito confiante para mais essa etapa. Claro que pretendo muito ganhar, mas quero, principalmente, fazer boas descidas desde o início da competição e sair de Tóquio muito contente com a minha participação, com o que eu conseguir colocar durante a competição. Esse é meu objetivo principal.

 

Falando em idade, você faz aniversário daqui a pouco, em 13 de março. Pode falar qual vai ser o desejo na hora de apagar a velinha? 

Não sei ainda se eu vou ter bolo de aniversário, mas com certeza se eu tivesse que apagar as velinhas eu pediria muita saúde, paz, amor para toda minha família, que é o que eu sempre peço. Eles são minha base e são as pessoas que eu estou sempre pensando nos melhores momentos 

 

Você começou sendo treinada pelo seu pai quando fazia natação. Como foi a transição para a canoagem?

Eu comecei com 5 anos na natação com meu pai. Ele sempre me incentivou, me apoiou e era um grande sonho dele que as filhas competissem na natação. Mas, aos 9 anos, o técnico da canoagem viu que eu e minha irmã tínhamos muita dedicação, disciplina, treinavamos muito e nos convidou para participar de uma aula de canoagem para ver como era. Desde o início eu me apaixonei de verdade, não conseguia mais faltar nenhuma aula, ia todos os dias. Meu pai vendo isso começou a me apoiar bastante também.  No início não era o que ele queria, mas sempre nos apoiou muito e isso foi o diferencial nessa transição de uma modalidade para outra 

Mulheres nas Olimpíadas: Ana Sátila busca primeira medalha olímpica da canoagem feminina brasileira nos Jogos de Tóquio 2020
Ana Sátila é o principal nome da canoagem feminina do Brasil | Jonne Roriz/COB

O treinador italiano Ettore Vivaldi marcou a canoagem slalom do Brasil. Como os 5 anos de trabalho dele contribuíram para a sua carreira e para a modalidade? 

Sim, o Ettore foi um grande diferencial para a canoagem brasileira. Ele mudou totalmente nosso modo de viver, como a gente enxergava o esporte, dentro e fora da água, ele se preocupava com os atletas em geral de uma maneira muito bonita, não só na parte esportiva, mas também na parte pessoal e nos ensinou muito. Tudo que eu sei hoje, eu devo agradecer a ele, que me ajudava muito. Ele era como um pai para mim. Com certeza para a canoagem brasileira também foi um diferencial muito grande. É uma pessoa que até hoje nos apoia bastante. A experiência com o Ettore foi sensacional e o Brasil ganhou muito.

 

O seu namorado, que é atleta e também faz papel de técnico, é outro estrangeiro que colabora com a canoagem brasileira. Como é essa parceria entre você e o Mathieu Desnos?

O Mathieu e eu temos uma conexão muito grande. Não foi nada pensado que ele viesse para o Brasil e que começasse a me treinar. Realmente as coisas aconteceram. Sou uma pessoa que preciso confiar no meu técnico e u consegui encontrar isso de novo depois do Ettore só com o Mathieu. Esse foi o principal motivo que ele começou a me ajudar muito no circuito internacional e, desde então, a gente está na água todos os dias juntos. Ele me entende muito bem e consegue ver o que eu preciso dentro e fora da água também. Foi muito legal e nada foi pensado de cabeça e intencional. Foi uma experiência muito bacana ter o apoio dele como técnico do meu lado. E eu também tento ajudá-lo no que ele precisa, tento apoiá-lo na carreira esportiva dele e a gente segue juntos em busca de um objetivo muito grande.

 

Como é ser uma atleta mulher de um esporte radical no Brasil?

Realmente difícil. Eu tive um começo muito difícil, porque era uma das únicas atletas femininas na canoagem brasileira, era a única a viajar com toda equipe masculina, então foi um começo difícil. Procurava me encaixar muito no grupo dos meninos até que eu entendi que eu tinha que ser eu mesma e continuar lutando do meu jeito. Eles sempre me acolheram muito bem e eu não posso reclamar de nada, porque sempre tiveram um papel fundamental em toda minha carreira. Me apoiaram de braços abertos e tenho muito que agradecer a eles por isso. Tive muito apoio por parte dos meninos e isso acabou ajudando bastante. Hoje em dia somos uma grande família que todo mundo apoia um ao outro independente da sexualidade.

Qual a importância de ser comemorado o Dia da Mulher? 

É um dia realmente para ser comemorado, a gente lutou muito pelos nossos direitos desde o início dos tempos. Com certeza é uma data muito especial que deve ser lembrada e comemorada também para celebrar todos os nossos feitos e o papel tão importante que a gente tem na sociedade. O papel da mulher no esporte deu um salto muito grande nos últimos anos. Temos conquistado nosso espaço e mostrado do que a gente é capaz.

 

Como foi se preparar no último ciclo olímpico após o Brasil ter sediado as Olimpíadas pela primeira vez em 2016? Acredita que o saldo da Rio-2016 foi positivo?

Tenho esperança que o Brasil melhorou bastante. Nós, da canoagem, tivemos muita sorte por poder treinar e se preparar em um dos maiores legados olímpicos da Rio-2016. O Parque Radical de Deodoro está funcionando brilhantemente e nos proporcionou um desenvolvimento muito grande por treinar nesta pista que é uma das melhores do mundo inteiro. Nossa preparação foi para outro patamar do que era antes da pista do Rio. Toda canoagem brasileira tem muito a agradecer e realmente está sendo um diferencial muito grande na nossa preparação, além da pista do Rio ser muito parecida com a das Olimpíadas de Tóquio. Com certeza o Brasil tem muito o que mostrar ainda, mas já é um passo muito grande que demos à frente tendo esse legado olímpico tão bem conservado e nos recebendo de braços abertos.

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