Coluna Eixo Capital, por Samanta Salum (interina)
A governadora em exercício, Celina Leão (PP), pretende estar bem alinhada ao governo federal no que se refere à segurança pública. Antes mesmo do final da intervenção, prevista no decreto do presidente Lula para 31 de janeiro, ela já vai encaminhar à Presidência e ao Ministério da Justiça pedido para que venha de lá a indicação de um nome para o comando da área. Ou seja, vai fazer na sua gestão temporária o que Ibaneis Rocha se recusou a fazer antes da crise. Há a possibilidade da intervenção até terminar antes, caso esse nome já seja definido pela esfera federal. De certa forma, será um acordo de cavalheiros, no caso específico, com uma dama.
Dino levará ao Congresso federalização das polícias do DF
Mas a federalização das forças de segurança do Distrito Federal pode ser iminente. Como a coluna adiantou na segunda-feira, o governo federal, o Congresso e o STF não toleram mais que a União garanta o custeio das polícias da capital federal e que elas fiquem sob o comando do governador da hora. Depois da incompetência da Secretaria de Segurança Pública do DF em proteger a Praça dos Três Poderes, o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou, ontem, que pretende enviar proposta ao Congresso para que o comando da área seja transferido, e de forma permanente, à esfera federal.
Apelos
Então, o aceno de Celina para Dino seria no intuito de garantir que até a decisão definitiva no Congresso, a Segurança do DF estaria em mãos confiáveis para ele. A governadora ainda tentará buscar uma conciliação para evitar que a proposta de federalização avance.
Resta saber como será a reação do setor político da capital federal à tal medida. Para a sociedade brasiliense, para todos que lutaram para que a Constituição de 1988 concedesse à população local o poder de escolher seus gestores, será um retrocesso, um triste castigo.
E o governador do DF, seja quem for, será um governador manco.
Ibaneis analisa renúncia
O governador afastado Ibaneis Rocha (MDB) está reunindo os cacos do mandato estilhaçado pelos atos terroristas na Esplanada dos Ministérios. E está, como um bom advogado, começando a analisar friamente os prós e contras de uma renúncia. Se insistir em voltar ao cargo, continuará no olho do furacão. Será difícil recuperar a estabilidade. Terá de lidar com má vontade e, no mínimo, o grande ressentimento dos integrantes do STF e do governo federal. Aliados dizem que ele já perdeu um braço, agora precisa pensar em salvar o resto para não ser ainda mais punido.
Dias de tormenta até passar na prova de fogo
Celina Leão não imaginava nem no melhor sonho de ser governadora (ou no pior pesadelo) que teria de ser hábil malabarista neste momento. A permanência dela à frente do GDF não está garantida nos três meses de afastamento de Ibaneis. Ainda paira uma ameaça de intervenção total no Executivo local. STF e governo federal acompanham com lupa os movimentos da governadora, que foi forte aliada de Bolsonaro.
Todo cuidado é pouco
No entanto, Celina é conhecida por sua habilidade política. Por ser considerada um ser visceralmente político, sabe pisar em terreno minado. Até aliados próximos de Ibaneis avaliam que ele se encrencou por não ser político raiz. E, por não ter mais flexibilidade, acabou sofrendo o efeito bumerangue das próprias decisões.
Padrinho forte
A governadora em exercício do DF tem em Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, um forte aliado. Ele, inclusive, destacou que foi só quando ela entrou na linha de frente para gerir a crise no domingo que a tropa de choque da PM chegou e retirou os invasores do Congresso.
Contrariado
Quanto mais alertado sobre o perigo que representava, quanto mais apelos para não nomear Anderson Torres recebia, mais Ibaneis se fechava como uma concha. Sentia-se ofendido, achando que era uma interferência inadequada na sua autoridade de governador.
Atuação remota
Engana-se quem acha que o presidente do MDB/DF, Rafael Prudente, ficou numa bolha, em Orlando, enquanto a casa caía em Brasília. Ibaneis Rocha, Celina Leão e o deputado Wellington Dias (MDB) receberam ligações. Houve troca de informações e conselhos para gerir a crise.
Sandro Avelar na Secretaria
Prudente chegou a sugerir o nome do delegado federal Sandro Avelar para que fosse trazido o mais rápido possível para o comando da Secretaria de Segurança Pública do DF. Isso ainda antes da intervenção federal no domingo. Avelar comandou a pasta nos governos petistas Agnelo Queiroz/Dilma Roussef. E, no final da gestão de Bolsonaro, era o 02 da Polícia Federal. Avelar é conhecido pelo bom trânsito em todas as esferas partidárias e pela atuação técnica.
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