Era 24 de março de 2015. Zinedine Zidane, comandante do Real Madrid B, foi até Säbener Strasse, o Centro de Treinamento do Bayern de Munique, aprender um pouquinho com o revolucionário amigo Pep Guardiola — técnico do clube alemão na época. Ao que parece, o francês foi um bom estagiário e fez a equipe bávara provar do próprio veneno. O gol de empate do Real Madrid no jogo de volta das semifinais da Liga dos Campeões da Europa nesta terça-feira, contra o Bayern, teve requintes de tiki-taka. Uma reprodução tática feita pelo diário espanhol Marca mostra que os atuais bicampeões trocaram 28 passes até o centroavante Benzema usar a cabeça para balançar a rede após o cruzamento milimétrico de Marcelo. Certamente o lance seria repetido várias vezes se o mentor fosse Pep Guardiola. Mas, como o protagonista é o questionado Zinedine Zidane, o lance passou (quase) despercebido.
Zidane tem altos e baixos como técnico. Há quem diga que nem treinador é. Discordo. Ele não é um Rinus Michels ou um Pep Guardiola, mas tem, sim, os seus méritos. Assim como os badalados Pep Guardiola e José Mourinho, comete erros. Alguns graves até. Nesta terça, por exemplo, inventou moda ao abrir mão de Casemiro. Correu muito risco sem a peça-chave.
Entre erros e acertos, Zidane mostrou, principalmente nesta fase de mata-mata, ter o controle tático do time — e do vestiário. Precisou reinventar o time várias vezes contra adversários fortíssimos. Na fase de grupos, encarou Borussia Dortmund e Tottenham. No mata-mata, foi muito exigido contra Paris Saint-Germain, Juventus e Bayern de Munique. No ataque, por exemplo, Cristiano Ronaldo é o único intocável. Na partida de ida, Bale e Benzema ficaram no banco. Nesta terça, o francês ofuscou o melhor do mundo. Foi protagonista da classificação. Alguém acha fácil convencer Bale, Benzema ou um Casemiro a sentar-se no banco?
Eleito três vezes número 1 do mundo, Zidane está a um jogo a se tornar o primeiro técnico a conquistar a Champions League por três anos consecutivos. Isso jamais aconteceu na história da principal competição de clubes da Europa. Não rolou, por exemplo, no tricampeonato do Bayern de Munique, de 1974 a 1976, com os técnicos Udo Latek e Dietmar Cramer. Muito menos no tri do Ajax, de 1971 a 1973, sob a batuta de Rinus Michels e Stefan Kovacs.
Nem mesmo a série de cinco títulos consecutivos do Real Madrid, de 1956 a 1960, testemunhou um técnico tricampeão. O pentacampeonato teve três protagonistas diferentes: Luis Villalonga, Luis Carniglia e Miguel Muñoz.
Zidane igualou a marca de Marcello Lippi, finalista em 1996, 1997 e 1998, quando ele tinha justamente o craque francês como maestro na Juventus. O técnico do Real Madrid também atingiu o feito de Fabio Capello, que decidiu o título em 1993, 1994 e 1995 pelo Milan.
Mesmo sem a pompa do catalão Pep Guardiola ou do português José Mourinho, Zidane está prestes a se tornar o terceiro técnico a conquistar três títulos da Champions League. Hoje, os recordistas são Bob Paisley, que levou o Liverpool aos títulos de 1977, 1978 e 1981, esse último diante do Real Madrid; e Carlo Ancelotti, pelo Milan (2003 e 2007) e o Real (2014).
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