Os anos mudam, os métodos de vandalismo, não. Você lembra um dos motivos do pedido de demissão do técnico argentino Ariel Holan do Santos, em 2021? Rojões detonados contra o apartamento dele, no litoral paulista. O presidente Andres Rueda contou a história à época.
Rojões provocaram a confusão generalizada na eliminação do Santos da Copa do Brasil no ano passado, na Vila Belmiro. O alvo era Cássio. O goleiro também levou chute dentro do gramado. Um torcedor invadiu o campo para atacá-lo. Foguetes anteciparam o fim do jogo na Vila Belmiro nessa quarta-feira. O Corinthians vencia por 2 x 0 quando a fúria da torcida anfitriã, dentro e fora do alçapão, impediu a continuidade da partida pelo Brasileirão, aos 42 do segundo tempo.
O novo capítulo da revolta é desproporcional ao desempenho na temporada. Algum torcedor do Santos esperava, sinceramente, a conquista de algum título em 2023? A realidade nua e crua do clube é viver um jogo de cada vez para permanecer na Série A. Esse é o campeonato à parte do Alvinegro Praiano.
A expectativa jamais foi título. Se alguém prometeu isso, iludiu o torcedor. As prévias dos guias do Brasileirão foram sinceronas. Apontavam o Peixe como candidato ao rebaixamento. Na prática, o time faz uma campanha de superação. Está alojado no meio da classificação. A cinco pontos de distância do Z-4. Os quatro piores da Série A entrarão em campo nesta quinta-feira. Sim, podem reduzir a distância. A culpa não é somente da diretoria, da comissão técnica e dos jogadores. A torcida tem parcela nisso.
O Santos não se classificou para as quartas de final do Paulistão, foi eliminado pelo Bahia nas oitavas da Copa do Brasil, está por um triz na Sul-Americana, mas a facção vândala da torcida precisa entender que o campeonato do time, em 2023, é o Brasileirão. Se o time cair pela primeira vez para a segunda divisão, a culpa também será dos baderneiros irresponsáveis.
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva nunca esteve tão engajado em punições severas para questões como manipulação de resultados, preconceitos de todos os níveis, como racismo e homofobia, e violência nos estádios. O Santos deve se dar por satisfeito se o STJD determinar, no mínimo, uma sequência partidas com portões fechados na Vila Belmiro. A tendência é o time sequer continuar mandado partidas no litoral paulista. Afinal, a barbárie invadiu as ruas de Santos. A torcida pavimentou o caminho do clube rumo à Série B e deve ter consciência disso.
A punição ao Santos será um balizador para o restante do campeonato. Além do castigo, a CBF, organizadora do Brasileirão, deve cobrar dos clubes vigilância ostensiva no acesso aos estádios. Até quanto permitirão a entrada de rojões, sinalizadores e até faca, como vimos recentemente no duelo entre São Paulo e Palmeiras na Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Nos últimos 10 anos, o Brasil recebeu uma Copa das Confederações (2013), uma Copa do Mundo (2014), Jogos Olímpicos do Rio-2016, duas edições da Copa América, uma final da Libertadores e o Mundial Sub-17. Os padrões Fifa, Conmebol e COI de tratar eventos esportivos com segurança rígida viraram piadas nacionais. Eram considerados exagero. Desdém de um país que insiste em dar de ombros para para a organização e prefere a esculhambação. O quanto pior, melhor.
E pensar que, há cinco meses, o campo da Vila Belmiro era exibido ao mundo como palco do adeus ao Pelé.
O Rei não merece isso.
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