O Tianjin Quanjian encara o Vitória na Arena Fonte Nova. Imagem: Alexandre Vidal/Divulgação
Cresci admirando — e muito — o trabalho do técnico Vanderlei Luxemburgo. Lembro como se fosse hoje das semifinais da Série B de 1989. Era criança. De férias em Belém do Pará, fui levado por um dos meus tios, Juca, ao Estádio Mangueirão, para assistir o duelo entre Remo e Bragantino. O time paulista, comandado por Luxa, segurou um empate por 0 x 0 na capital paraense. Na volta, o Leão arrancou o mesmo placar em Bragança Paulista. Nos pênaltis, o timaço do profexô avançou por 4 x 1. E faturou o título em cima do São José.
Os anos 1990 foram de Vanderlei Luxemburgo. Campeão paulista à frente do Bragantino na final caipira diante do Novorizontino, de Nelsinho Baptista. Depois de uma passagem frustrada pelo Flamengo, em 1991, desandou a ganhar títulos dois anos depois à frente do Palmeiras. Tirou o time bancado pela Parmalat da fila no Paulistão e no Brasileirão.
Envaidecido, partiu para a missão de encher o clube do coração, Flamengo, de títulos em 1995, no ano do centenário. Fracassou, “exilou-se” no Paraná Clube — o último time fora dos 12 gigantes que ele comandou — mas voltou a dar a volta por cima ao montar aquele inesquecível Palmeiras de 1996, viciado em balançar as redes adversárias.
Faturou Torneio Rio-São Paulo em um tempo de vacas magras no Santos. Brindou o Corinthians com o título brasileiro de 1998. No auge, comandou até Corinthians e Seleção Brasileira ao mesmo tempo com autorização do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira. O problema foi se achar dono do mundo. Ganhou a Copa América de 1999 e o Pré-Olímpico de 2000, é verdade, mas a vida privada e a eliminação nas quartas de final diante de Camarões nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000 anunciaram o início de um triste século para ele.
Os últimos grandes trabalhos foram no Cruzeiro, na conquista da tríplice coroa de 2003 — Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro e depois no Santos, de 2004. O técnico que tinha tudo para ser o José Mourinho brasileiro na Europa — The Special One — fez do título nacional à frente do Santos o trampolim para seu maior desafio: comandar os galáticos do Real Madrid. O tombo à frente de Ronaldo, Zidane, Beckham & Cia. jamais foi superado por Luxemburgo. A ponto de ele dizer que fez “contrato de mané” com o Real Madrid.
De volta ao Brasil, limitou-se a ganhar estaduais em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Jamais conquistou a Copa Libertadores da América. Rodou, rodou e rodou por clubes de ponta do país até que o Cruzeiro decretou o fim da paciência com os projetos do profexô. Luxemburgo foi parar na China. Comanda o Tianjin Quanjian, a segunda divisão do país.
E daí?
E daí que Vanderlei Luxemburgo acumula como técnico números impressionantes de ruins.
Se não vencer o Vitória no amistoso de hoje na Arena Fonte Nova, em Salvador, o treinador vai completar impressionantes 10 jogos consecutivos sem triunfo na carreira. Quando foi demitido pelo Cruzeiro, acumulava seis jogos sem vencer. Pelo Tianjin Quanjian, são três derrotas na pré-temporada realizada no Brasil. Perdeu para XV de Piracicaba, Bragantino e Taubaté.
Quem sou eu para dizer que é o fim da carreira de Vanderlei Luxemburgo. Mas a situação é vergonhosa. Luxa pode alegar que é impossível vencer à frente de um time como o tal Tianjin Quanjian, que está ensinando os caras a jogar bola, mas o discurso não cola…
Luxemburgo também ficou um tempão sem vencer à frente, por exemplo, do Flamengo. Em 2011, foram 10 jogos sem vitória em pleno Campeonato Brasileiro. A presidente Patrícia Amorim teve toda a paciência do mundo, segurou o treinador no cargo até o fim e o prêmio foi uma vaga para a Libertadores de 2012.
O treinador também colecionou maus resultados no Fluminense antes de cair. Foram nove partidas seguidas sem vitória no tricolor e a demissão em 2013. Pior do que perder o emprego foi ver técnicos da nova geração consertarem o estrago causada por Luxemburgo. Oswaldo de Oliveira impediu a queda do Flamengo para a Série B no ano passado. Mano Menezes também, mas à frente do Cruzeiro.
Vanderlei Luxemburgo, o técnico que um dia soltou a frase “o medo de perder tira a vontade de ganhar” hoje é vítima da própria filosofia à frente de um time da segunda divisão da China. Virou treinador de time pequeno. Hoje, pode ser o dia da décima partida sem vencer. Que lástima. Triste fim (?) de um dos técnicos mais vitoriosos da história do futebol brasileiro. O recordista de títulos brasileiros.
Atualização: O Vitória goleou o Tianjin Quanjian na noite desta terça-feira, na Arena Fonte Nova, por 5 x 1, e aumentou para 10 jogos o jejum de vitórias de Vanderlei Luxemburgo.
Do Cruzeiro ao Tianjin Quanjian
A série de 10 jogos sem vitória de Vanderlei Luxemburgo
13/08/2015 – Joinville 3 x 0 Cruzeiro (Campeonato Brasileiro)
16/08/2015 – Cruzeiro 0 x 0 Internacional (Campeonato Brasileiro)
19/08/2015 – Palmeiras 2 x 1 Cruzeiro (Copa do Brasil)
23/08/2015 – Corinthians 3 x 0 Cruzeiro (Campeonato Brasileiro)
26/08/2015 – Cruzeiro 2 x 3 Palmeiras (Copa do Brasil)
30/08/2015 – Cruzeiro 0 x 1 Santos (Campeonato Brasileiro)
18/01/2016 – XV de Piracicaba 2 x 1 Tianjin Quanjian (Amistoso)
20/01/2016 – Bragantino 4 x 0 Tianjin Quanjian (Amistoso)
24/01/2016 – Taubaté 4 x 2 Tianjin Quanjian (Amistoso)
26/01/2016 – Vitória 5 x 1 Tianjin Quanjian (Amistoso)
Resumo: 10 jogos, 1 empate, 9 derrotas, 7 gols pró, 27 gols contra
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