Tite usa “coração do Lyon” para ensinar Brasil a vencer com autoridade na altitude de La Paz

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A menos de uma semana do início da Libertadores, o professor de educação física Tite ministrou uma aula magna aos clubes brasileiros de como superar traumas, medo, pânico usando o QI em jogos na altitude. Desembarcou em La Paz duas horas antes da vitória por 4 x 0 sobre a Bolívia, apostou em um time jovem (27,6 anos), com volantes criativos, eficiente na posse de bola (56% x 44%), cheio de gás para explorar os contra-ataques e apostou em algumas conexões decisivas — como a dos ex-parceiros de Lyon Bruno Guimarães e Lucas Paquetá —, para se impor com inteligência na última rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo do Qatar.

O feito da Seleção é enorme. O Brasil não derrotava a Bolívia, em La Paz, pelas Eliminatórias, desde 1981, na Era Telê Santana. O último triunfo em jogos oficiais havia sido na final da Copa América de 1997. A seleção liderada por Zagallo fez 3 x 1, conquistou o título e o Velho Lobo desabafou aos berros contra os críticos: “Vocês vão ter que me engolir”.

Conexões são fundamentais em jogos atípicos como o desta terça-feira. Tite acertou em cheio ao apostar no entrosamento do volante Bruno Guimarães com o meia Lucas Paquetá. Eles não atuam mais juntos no Lyon, porém um conhece a movimentação do outro. Memória dos treinos e jogos em parceria. Isso fez toda a diferença na construção da vitória verde-amarela.

O primeiro gol do Brasil partiu de uma arrancada em jogada individual do volante Bruno Guimarães, hoje no Newcastle, seguida de uma assistência perfeita para Lucas Paquetá, ex-parceiro dele no Lyon. Paquetá retribuiu o presente no lance do terceiro gol. Por sinal, um belíssimo chute de Bruno Guimarães.

Arrisco dizer que Bruno Guimarães garantiu presença na lista final da Copa do Mundo seja ela com 23 ou 26 jogadores. O índice de acerto de passes do ex-jogador do Athletico-PR é impressionante: 97%! Tite passa a contar com dois excelentes volantes construtores. O outro é Fred, do Manchester United.

“É um momento muito feliz, porque a gente sempre profetizou momentos como esse, de estar juntos também na Seleção. Ele foi embora do Lyon, mas a gente se entende muito, temos uma amizade muito legal, não só dentro de campo, como fora dele também. A gente se entende, se procura. Graças a Deus hoje, aqui na Seleção, pudemos fazer uma grande partida e ajudar a equipe”

Lucas Paquetá, sobre a parceria com Bruno Guimarães

Ouso afirmar que Gabriel Martinelli aumentou a dor de cabeça de Tite. Se nos últimos jogos ele ganhou Raphinha, Antony e Vinícius Junior, o atacante do Arsenal colocou lenha na fogueira e entra na briga por um cantinho na lista final. Martinelli protagonizou uma pintura de lance e quase fez um golaço. Passa a ser  uma alternativa a Vini no planejamento de Tite.

Há soluções e problemas. A saída de bola do Brasil é uma delas. Houve problemas contra o Chile e a Bolívia. Companheiros no Liverpool, Alisson e Fabinho não se entenderam em um lance no segundo tempo  que quase resultou em gol da Bolívia. Marquinhos permitiu uma oportunidade aos anfitriões. Falhas como essas pouco influenciariam no resultado contra a Bolívia, mas custam caro em um torneio de tiro curto como é a Copa do Mundo, principalmente a fase de mata-mata. Nem sempre há tempo de reação.

O triunfo contra a Bolívia indica que a Seleção está pronta para a Copa? Não! O adversário é fraco. Longe de ser parâmetro. A vitória é relevante devido ao contexto. Quem cobra bom futebol no ar rarefeito não tem noção do que é praticar esporte a 3.600m de altitude. O esforço e o comprometimento da Seleção sao dignos do reconhecimento, inclusive, de Tite.

Questionado pelos jornalistas, em La Paz, se o resultado superou o planejamento, ele admitiu: “Qualquer expectativa que pudesse colocar em cima de todo esse desempenho, em termo de análise qualitativa e quantitativa, vir para cá com tamanhas adversidades e fazer um placar tão elástico, com número de finalizações importante, mantendo nível, alternando sem perder o modelo. Nossa retomada de posse se manteve alta, 21%. A gente busca retomar a bola logo, gera um nível de concentração alto dos atletas. Depois ter posse de bola para não afogar demais, porque a cabeça dói, o atleta diminui capacidade física. É muito difícil o desempenho que tivemos jogando contra a qualidade da Bolívia e aqui em La Paz”, declarou Tite depois da partida.

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Marcos Paulo Lima

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