Entrevista: Bruno Landgraf. Tetraplégico, goleiro do Brasil no título do Mundial Sub-17 de 2003 festeja sucesso de Matheus Donelli e conta como a vela o ajudou a disputar dois Jogos Paralímpicos

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A história do ex-jogador de futebol Bruno Landgraf das Neves merece um livro. Em 2003, o paulista de 33 anos era goleiro titular da Seleção Brasileira na campanha do tricampeonato no Mundial Sub-17. Vestia a camisa 1 num time que tinha, entre outros, o volante Arouca, o meia Ederson, ex-Lyon e Flamengo. e Marcelo Lomba, atualmente no Internacional. Sob o comando de Marcos Paquetá, sofreu apenas um gol numa campanha do título parecida com a dos adolescentes liderados por Guilherme Dalla Déa na edição encerrada no último domingo: seis vitórias e um empate.

Revelado pelo São Paulo, Bruno Landgraf foi promovido ao elenco profissional tricolor em 2005 e convocado para o Mundial Sub-20 na Colômbia. Fazia parte do elenco que tinha Diego Alves, Rafinha, Filipe Luís, Fábio Santos, Rafael Sóbis, Diego Souza, Arouca, Diego Tardelli, entre outros.  Eliminado pela Argentina de Lionel Messi nas semifinais, o Brasil terminou em quarto lugar.

Em 2006, um acidente automobilístico na rodovia Régis Bittencourt mudou a história do goleiro apontado no Morumbi como possível sucessor de Rogério Ceni. Bruno sofreu grave deslocamento na coluna e ficou tetraplégico. Três anos depois, retornou ao esporte. Escolheu a vela para realizar um sonho. O goleiro planejava disputar as Olimpíadas de Pequim-2008 com  camisa da Seleção. Afastado do futebol, escolheu a vela para recomeçar e disputou as edições de Londres-2012 e Rio-2016 dos Jogos Paralímpicos na categoria Skud 18 no papel de timoneiro.

No bate-papo a seguir com o blog, Bruno Landgraf recorda a campanha do tri no Mundial Sub-17 de 2003, elogia Matheus Donelli, eleito o melhor goleiro do torneio em 2019 no último domingo, fala sobre o papel da vela na reabilitação e emociona ao dizer: “Gosto muito de viver”. Recém-formado em direito, ele traça os planos para se especializar em direito desportivo. Uma história que inspira outros desportistas como a ex-ginasta e esquiadora Lais Souza e o ex-goleiro Jackson Follmann, sobrevivente do acidente aéreo com a Chapecoense.

Você era o goleiro titular do Brasil no título do 2003. Qual foi a sensação de ver o Matheus Donelli conquistar o tetracampeonato e ser eleito o melhor goleiro do Mundial Sub-17?

Era titular, sim. Foi muito emocionante, um ótimo goleiro. Vi que ele começou no “Fechando o Gol” (academia de goleiros) do Zetti, que faz um excelente trabalho. Tenho um amigo com que joguei que é coordenador lá, o Felipe. É muito bom ser campeão e eleito o melhor goleiro da competição. Fecha um trabalho de anos do grupo inteiro. Esse time vem sendo montado desde o Sub-15 . Imagino o tanto de jogadores que passaram e acrescentaram pra esse time final.

Bruno Landgraf nos tempos de goleiro do São Paulo

Quais são as lembranças daquele time campeão do Mundial Sub-17 em 2003?

São as melhores, o grupo muito bom. Ficamos tristes por alguns não irem para o Mundial por lesão, outros por opção do treinador. O nível dos atletas sempre foi muito alto. Isso ajudou no crescimento de todos. A cada jogo, fomos crescendo na competição. Viemos de um Sul-Americano Sub-17 bom, mas fomos campeões. No Mundial houve uma crescente e terminamos com o título. O mais legal que vi dos jogadores foi lembrar da tia da comida, o pessoal da van na Granja, todos os funcionários que têm um carinho com a gente e muitas vezes não são lembrados. Parabenizo a todos os atletas e todos os profissionais envolvidos nesta conquista de 2019.

Fiz um levantamento e apenas três dos 40 goleiros que disputaram o Mundial Sub-17 chegaram à Copa do Mundo: Alisson, Júlio César e Carlos Germano. É uma posição ingrata?

São levados três goleiros para o Mundial e muitos bons não participam. Nesse intervalo até a Copa aparecem outros goleiros. O Brasil é uma escola de ótimos goleiros há muitos anos.

Com os colegas campeões do Mundial Sub-17, entre eles Arouca e Ederson

Que conselho daria ao Matheus Donelli para ele manter o nível de excelência, quem sabe, realizar o sonho de disputar a Copa do Mundo?

O Donelli tem que continuar o treinamento, observando as mudanças. O goleiro deve jogar não só com as mãos, mas com os pés também. O São Paulo sempre teve essa visão e hoje vejo que toda a base tem esse cuidado. Que ele continue humilde, treinando e observando o futebol como um todo. Por passar pela Seleção e ser campeão, ele vai ser sempre observado. Isso é muito bom para a continuidade em outras categorias na Seleção e no clube até chegar ao time e à Seleção principal.

O que chamou mais atenção no Matheus Donelli?

Ele me pareceu um goleiro rápido, tem uma boa leitura de jogo e passa ser bem tranquilo.

Você sofreu acidente automobilístico três anos depois do título no Mundial Sub-17; um ano depois de virar goleiro profissional do São Paulo; e ficou tetraplégico. Como a vela e a participação nos Jogos Paralímpicos de Londres-2012 e do Rio-2016?

O esporte, a fisioterapia, a hidroterapia e outros foram muito bons na minha reabilitação. A vela me colocou novamente nas competições e me trouxe aquele frio na barriga e me ajudou a participar de duas paralimpíadas.

Bruno: “Gosto muito de viver”

A sua história de reabilitação é linda, um exemplo.

Obrigado, gosto muito de viver.

Sente saudade das traves?

Tenho saudades dos treinos, dos jogos. Eu fazia o que gostava, mas não fico pensando muito nisso. Gosto de assistir (futebol), acompanho e torço para os amigos com quem tive o prazer de jogar.

Mantém contato com os campeões do Mundial Sub-17 de 2003?

com a internet fica mais fácil. Tenho contato com Alguns que continuam jogando e outros que nem jogam mais.

Com os amigos na festa do título mundial sub-17 de 2003

Vocês foram tricampeões em cima de uma baita Espanha, que tinha David Silva e Fábregas…

Era um time muito bom, sim. Fábregas já jogava muito.

Pensou em ser comentarista de goleiros?

Não pensei no assusto sobre comentar, mas acho que já tem alguns ex-goleiros que são bons comentaristas em programas esportivos.

Pretende atuar em alguma área ligada ao esporte?

Terminei a minha faculdade de direito e estou vendo algumas pós relacionada com o esporte. Eu me formei em 2018. Estou procurando local de alguns cursos em direito desportivo.

Você treinou com o Rogério Ceni no profissional. Tem falado com o ídolo?

Com o ídolo Rogério Ceni no tricolor

Falo com ele às vezes, procurando saber como ele está. Torço muito pelo sucesso dele nessa nova fase como técnico. O começo é muito bom, ele sé tem a crescer.

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Marcos Paulo Lima

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