Escrevo sem medo de errar: em circunstâncias normais de temperatura e pressão, o Flamengo já teria conquistado o bi. O atual campeão tem, disparado, o melhor elenco do país. Superior a ponto de, em uma temporada ruim do time, com eliminações precoces na Copa do Brasil, na Libertadores e desmoralizações contra Atlético-MG, Atlético-GO, São Paulo e Independiente del Valle, assumir a liderança na penúltima rodada sem exibir aquele futebol de 2019, mas fazendo o suficiente para correr atrás e assumir o primeiro lugar sob pressão, no Maracanã, no confronto direto com o Internacional. Se o time rubro-negro conquistar o título, Internacional, São Paulo, Atlético-MG. Grêmio, Palmeiras… terão desperdiçado excelente oportunidade em um ano tão atribulado para o clube carioca.
O Flamengo só não é campeão (ainda) devido a vários motivos: a soberba rubro-negra, a coleção de erros dos técnicos e jogadores dentro e fora do campo, que custaram perdas de pontos inacreditáveis; de algumas trapalhadas da diretoria nos bastidores, das lesões de peças importantes como Thiago Maia e Diego Alves, do desequilíbrio do grupo no preparo físico e de fatores externos, como o surto de covid-19 no elenco na reta final do primeiro turno.
O Internacional faz um Brasileirão acima das expectativas. Foi uma metamorfose ambulante. Sofreu perdas importantíssimas como Paolo Guerrero, Boschilia e Saravia; a troca repentina de técnico com a saída de Eduardo Coudet e a chegada de Abel Braga; e a mudança brusca no estilo de jogo do time. Ainda assim, pode ser campeão na quinta-feira se vencer o Corinthians e o Flamengo não derrotar o São Paulo, no Morumbi. Apesar de tudo, é uma campanha gigante.
O time carioca tem contra si vários fantasmas na última rodada. Maior ídolo da história do São Paulo, Rogério Ceni ainda não venceu o time do coração no papel de técnico. O Flamengo não derrota o tricolor, no Morumbi, desde 2011. Enfrentou o adversário 31 vezes no Cícero Pompeu de Toledo e ganhou cinco. Para completar, perdeu os três duelos disputados neste ano. Amargou goleada por 4 x 1 pela Série A; e derrotas por 2 x 1 e 3 x 0 na Copa do Brasil.
O otimismo rubro-negro é escorado em seis jogadores: Filipe Luís, Diego, Gerson, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa voltaram a jogar muita bola. Irregular, Everton Ribeiro sabe que precisa entregar mais contra o São Paulo. O gol da virada contra o Inter tem a participação de quatro craques. Everton Ribeiro desarma o Inter, Gabigol dá chapéu no marcador, Arrascaeta vê Bruno Henrique partindo em velocidade na ponta-esquerda, puxando a marcação, e dá lançamento milimétrico no meio para Gabigol desviar a bola para o fundo da rede de Marcelo Lomba.
A reta final de Gabigol no Brasileirão é impressionante. São sete gols nos últimos sete jogos. No total, 27 na temporada. Ele estava lá atrás na artilharia. A uma rodada do fim, acumula 14 bolas na rede, três atrás dos líderes Marinho (Santos), Thiago Galhardo (Inter) e Luciano (São Paulo), que entrará em campo nesta segunda-feira. Detalhe: Gabigol ficou muito tempo parado em decorrência das contusões. Disputou 24 dos 38 jogos. Ficou fora de 14 partidas! Arrascaeta e Gerson também estão numa fase incrível. Digna de serem eleitos craques do Brasileirão.
Futebol à parte, arremato com a polêmica expulsão de Rodinei. Para mim, o lance é interpretativo. Achei que merecia cartão amarelo. Raphael Claus deu vermelho. A histeria dos cartolas faz parte em temas como esse. Jogar a culpa da possível perda do título (não acabou) no juiz é injusto. Sempre mais cômodo do que admitir os desperdícios de pontos bobos em um campeonato com 38 rodadas. Internacional e Flamengo abusaram.
Vale refrescar a memoria: o Colorado perdeu para o Sport, no Beira-Rio. O Rubro-Negro deixou escapar seis pontos contra Ceará e outros quatro em duelos com o Atlético-GO. Há quem recorde, ainda, o escorregão do Pedro na cobrança de pênalti contra o Fortaleza. Portanto, culpar o árbitro é retórica de qualquer cartola para se blindar da revolta da torcida.
No fim das contas, o líder Rogério Ceni tem chance de ser campeão brasileiro pela primeira vez como técnico nesta quinta-feira, na casa dele, o Morumbi, onde virou ídolo número 01 do São Paulo. E Abel Braga pode ganhar a taça no Beira-Rio, eleito por ele “estádio mais lindo do Brasil” em 2019, quando comandava o Flamengo, irritando a torcida rubro-negra.
A semana será longa para os dois lados da moeda.
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