Série A só tem um técnico negro. Interino

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A temporada começou com três técnicos negros empregados em clubes campeões brasileiros. Roger Machado iniciou 2016 comandando o Grêmio. Liderou o Campeonato Brasileiro na quarta rodada. Cristóvão Borges liderava o Atlético Paranaense até trocar o Furacão pelo Corinthians na saída de Tite para a Seleção Brasileira e se tornar o primeiro técnico negro do clube paulista em 24 anos. Deivid era a aposta do Cruzeiro até perder o cargo para o português Paulo Bento depois da eliminação nas semifinais do Campeonato Mineiro.

Onze meses depois, no Dia da Consciência Negra, em referência a Zumbi dos Palmares, Roger Machado, Cristóvão Borges e Deivid estão desempregados. A três rodadas do fim da Série A, a principal competição do país tem apenas um treinador negro: o interino Marcão, do Fluminense, depois da demissão de Levir Culpi. Nem mesmo Andrade, último técnico negro campeão brasileiro ao levar o Flamengo ao título de 2009, consegue uma recolocação profissional no mercado. Nas últimas eleições, chegou a ser candidato a vereador no Rio de Janeiro.

Na passagem pelo Flamengo em 2015, por exemplo, Cristóvão Borges se sentiu alvo de intolerância antes durante a pressão que sofreu no clube carioca. “Começam com as críticas, as críticas insistentes, contínuas e diárias. Então ela vira perseguição e, no conteúdo de alguma dessas críticas, existem componentes racistas sim. Por exemplo, foi citado que o Flamengo, na hora de escolher o treinador, deixou de escolher o Oswaldo de Oliveira para escolher o Pelourinho”, desabafou durante entrevista ao programa Linha de Passe, da ESPN.

Em entrevista recente ao blog, Roger Machado admitiu que há preconceito no mundo da bola. “Eu nunca sofri em relação a isso. Nos tempos de jogador, fui atuar em alguns lugares e ouvi alguns tipos de ofensa, mas não foi nada que eu considerasse racismo. No Brasil, há preconceito social e racial, mas eu não vivi isso e nunca me atrapalhou a chegar onde estou hoje, sempre fui muito respeitado”, afirmou.

“Foi citado que o Flamengo, na hora de escolher o treinador, deixou de escolher o Oswaldo de Oliveira para escolher o Pelourinho”

Cristóvão Borges, em 2015, no programa Linha de Passe da ESPN

Enquanto o mercado de técnicos resiste a dar oportunidade a negros, a posição de goleiro, marcada pela falha de Barbosa na última rodada do quadrangular final da Copa de 1950, diante do Uruguai, pode ter uma bela vitória justamente no Dia da Consciência Negra. Dono das traves do Palmeiras, Jaílson pode se tornar o terceiro goleiro negro campeão brasileiro na era dos pontos corridos. Antes dele, Bruno em 2009, pelo Flamengo, e Gomes, em 2003, na conquista da tríplice coroa do Cruzeiro, atingiram o feito.

Marcos Paulo Lima

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