Chamo atenção para um dado gravíssimo no melancólico fim de temporada da Seleção. Dois mil e vinte e três será lembrado para sempre como o ano em que a camisa 9 do Brasil não balançou a rede. A derrota por 1 x 0 para a Argentina pelas Eliminatórias para a Copa de 2026 era a última chance de encerrar o jejum. Gabriel Jesus usou o algarismo mítico, no Maracanã. Não conseguiu. Fez pior. Saiu com a seguinte declaração depois da partida: “Gol não é meu ponto forte”.
Uma das chaves do trabalho de Fernando Diniz é ter um centroavante decisivo. O Fluminense tem Germán Cano, artilheiro do Brasil com 37 gols em 55 jogos neste ano. Beneficiado pelo dinizismo no São Paulo, Luciano foi um dos goleadores da Série A em 2020 com 18 bolas na rede ao lado do meia-atacante Claudinho. Ytalo era a referência daquele Audax Osasco protagonista do vice-campeonato no Paulistão de 2016 sob o comando do treinador.
Não adianta ter um plano de jogo bem sucedido, redondo, amarrado, se faltar um camisa 9 minimamente capaz de empurrar a bola para dentro da rede. Diniz simplesmente não conseguiu encontrar um Cano para chamar de seu.
Quatro jogadores diferentes vestiram a camisa 9 da Seleção em 2023: Yuri Alberto (Corinthians), Richarlison (Tottenham), João Pedro (Brighton) e Gabriel Jesus (Arsenal). Todos eles incapazes de colocar a bola no fundo da rede nas derrotas para Marrocos, Senegal, Colômbia, Uruguai e Argentina; no empate com a Venezuela e nas vitórias contra Guiné, Bolívia e Peru.
Os 4 escalados com a camisas 9 do Brasil em 2023
É grave a crise da camisa 9. Há luzes no fim do túnel como os promissores Vitor Roque, Marcos Leonardo e Endrick, porém o trio está muito mais no campo da esperança do que da realidade. A verdade é a seguinte: não há dinizismo sem um camisa 9 íntimo da rede. Simples assim. Cano marcou 13 gols em 12 jogos na Copa Libertadores da América. Mais de um por partida.
O Brasil criou oportunidades contra a Argentina. As mais claras caíram nos pés de um ponta, não de um especialista em empurrar a bola para a rede. Gabriel Martinelli desperdiçou as chances. Uma salva praticamente em cima da linha pela defesa adversária. A outra graças a uma belíssima intervenção do melhor goleiro do mundo, Emiliano “Dibu” Martínez.
A Seleção jogou melhor do que na derrota de virada para a Colômbia, verdade, mas falemos do que Fernando Diniz não gosta: resultado. A barrinha de download da evolução pode estar caminhando lentamente, como ele defende, mas a performance do Brasil na classificação interessa, sim. O sexto lugar nas Eliminatórias é inevitável e remete à segunda era Dunga.
Pontuação do Brasil até a 6ª rodada
O capitão do tetra foi campeão simbólico das Eliminatórias da Copa de 2010. Quando voltou ao cargo, protagonizou a pior campanha do Brasil até a sexta rodada, ou seja, no primeiro terço da tabela. A Seleção ocupava o sexto lugar e tinha 9 pontos em 6 jogos até a sexta rodada do processo seletivo para o Mundial de 2018, com 50% de aproveitamento. Seis rodadas depois da campanha para 2026, o Brasil acumula 7 pontos em seis jogos. Aproveitamento de 38%.
O chip do dinizismo pode estar entrando na cabeça dos jogadores, mas é impossível brigar com os fatos. O Brasil faz a pior campanha na história das Eliminatórias sob o comando do atual treinador. Culpa exclusivamente dele? Não! A responsabilidade é de quem não determinou oficialmente, até agora, o sucessor de Tite. Repito sempre aqui no blog. O ex-técnico declarou publicamente, em fevereiro de 2022, que não continuaria no cargo depois da Copa de 2022.
Tite deixou o cargo em 9 de dezembro. O fim do ciclo está próximo de completar um ano e o Brasil encerra a temporada com mais derrotas do que vitórias, sob o comando de dois interinos (Ramon Menezes e Fernando Diniz), e à espera de um técnico virtual chamado Carlo Ancelotti.
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