Protecionismo ou reconhecimento? O significado da convocação do “naturalizável” Allan para a Seleção

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A convocação do volante Allan para os amistosos do Brasil contra o Uruguai e Camarões, em novembro, coloca em xeque o real interesse da CBF ao chamar jogadores nascidos no país, mas assediados por seleções concorrentes. Afinal de contas, a ideia da comissão técnica é reconhecer os quase desertores, dar sequência de jogos, ou apenas minar iminentes fugas de talentos? Tite e o auxiliar Sylvinho juram que a peça-chave do Napoli, da Itália, era observado há bastante tempo e chega por mérito.

Campeão do Mundial Sub-20 de 2011 naquela Seleção de Ney Franco, ao lado de Philippe Coutinho, Oscar, Danilo, Casemiro, Alex Sandro, Dudu, Willian José e do goleiro César, do Flamengo, o jogador do Napoli estava cotado para defender a Itália. A FIGC havia consultado o Napoli sobre a possibilidade. Há um trauma na CBF, desde 2014, quando Dunga, Mano Menezes, Luiz Felipe Scolari e Tite deixaram escapar os centroavantes Diego Costa e Rodrigo Moreno e o meia Thiago Alcântara, todos para a Espanha; o atacante Éder, o lateral-esquerdo Emerson Palmieri e, recentemente, o volante Jorginho para a Itália.

Em uma das ações pós-7 x 1, ou seja, depois da Copa de 2014, a CBF criou uma “Operação Resgate” comandada pelo então técnico da Seleção Sub-20, Alexandre Gallo, atualmente diretor de futebol do Atlético-MG, para evitar novas “fugas” de talentos. “É um trabalho de resgate. Sem dúvida, essa é a palavra mesmo, se a gente conseguir servir a Seleção com uns dois atletas de grande categoria, o trabalho já foi bem feito”, argumentou Gallo na época, durante uma das convocações da equipe sub-23 nos preparativos para as Olimpíadas do Rio.

“O Allan tem transição, rodinha no pé, “box to box”, infiltrações, rompe, tem mobilidade. Traz consistência defensiva com chegada à frente. Ele fez por merecer, a gente já vinha monitorando há bastante tempo. Assim como foi com Jorginho, íamos convocar, mas não temos condições de assegurara convocação. Ele acabou sendo chamado pela Itália”
Tite, técnico da Seleção Brasileira

Alexandre Gallo acrescentou. “Quando o atleta sai (do Brasil) muito jovem, ele pode já ter esse senso de família, de país, de ter estudado de uma base escolar, e aí, ele queira dar sequência no país em que está, e a gente tem que respeitar. A única coisa é que, talvez, nunca ninguém chegou para ele e perguntou: ‘você gostaria de servir a Seleção Brasileira? ’ Então a gente está dando uma chance. Talvez, você faça o atleta pensar”, explicou.

A questão é que os jogadores prestes a desistir da Seleção para defender outro país quase sempre são vítimas do protecionismo e não do reconhecimento. Surgem e somem da lista da Seleção num passe de mágica, como se a intenção da CBF fosse tão somente espantar os assédios, bloqueá-los. Amauri e Diego Costa, por exemplo, tiveram essa percepção. Ambos notaram isso ao serem convocados, respectivamente, por Dunga e Luiz Felipe Scolari, e deram as costas à Amarelinha.

Ao saber da intenção da Itália de contar com Amauri — que na época brilhava no Palermo e chegou a ser contratado pela Juventus —, Dunga chamou o centroavante para suprir a ausência do contundido Luis Fabiano. A Juventus não liberou o jogador. Mais à frente, Amauri anunciou a preferência pela Squadra Azzurra e frustrou as intenções do capitão do tetra.

“Allan é dinâmico. Sabe fazer, executar funções no meio de campo. Começou esta temporada com Ancelotti no 4-4-2. Ainda assim, continua fazendo o segundo homem do meio. No formato de três no meio, continua sendo o segundo. Ele está aqui por méritos”
Sylvinho, auxiliar técnico da Seleção Brasileira

Em 2013, Luiz Felipe Scolari tentou “bloquear” Diego Costa. Usou o jogador por alguns minutos em amistosos contra a Itália e a Rússia. Depois, o alagoano sumiu das listas. O centroavante percebeu que não teria sequência na Seleção e anunciou a preferência pela Espanha. Aproveitou o fato de não ter disputado jogo oficial por nenhuma Seleção Brasileira de base ou profissional. Na época, a Fúria contava com o naturalizado Thiago Alcântara.

Sucessor de Felipão após a Copa de 2014, Dunga, em parceria com os técnicos da Seleção olímpica Alexandre Gallo e depois Rogério Micale, segurou o meia Rafinha, um dos filhos do tetracampeão Mazinho. Porém, não teve êxito com Mário Fernandes. O lateral defendeu a Rússia na Copa. Ele havia recusado a convocação de Mano Menezes em 2011, recuou ao ser chamado por Dunga em 2014, mas em seguida desistiu definitivamente do Brasil e se naturalizou russo.

Tite chamou Andreas Pereira na primeira lista pós-Copa. O meia do Manchester United era assediado pela Bélgica. O jogador viajou com a Seleção para os amistosos contra Estados Unidos e El Salvador. Em contrapartida, ficou fora das listas para os duelos contra Arábia Saudita, Argentina, Uruguai e Camarões. Acontecerá o mesmo com o bom volante Allan?

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Marcos Paulo Lima

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