O que pode estar por trás das ausências de PSG e Bayern no combo da Superliga Europeia

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A lista dos clubes fundadores da polêmica Superliga Europeia — Arsenal, Atlético de Madrid, Barcelona, Chelsea, Internazionale, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Milan, Real Madrid e Tottenham — tem ausências relevantes. Cadê o Paris Saint-Germain e o Bayern de Munique, finalistas da edição anterior da Champions League?

Há uma razão aparentemente óbvia. O clube francês no qual jogam Neymar e Mbappé pertence ao grupo Qatar Sports Investments (QSI). Unindo os pontos, lembramos rapidamente que a próxima Copa do Mundo, daqui a menos de 600 dias, será no… Qatar! Logo, os conselheiros do emir Tamim bin Hamad Al Thani certamente o convenceram a mandar Nasser Al-Khelaifi evitar divididas diplomática com a Uefa e, principalmente, a parceira Fifa neste momento. Até as últimas edições do Mundial de Clubes da Fifa foram disputadas lá.

Bancado com dinheiro dos Emirados Árabes Unidos, o Manchester City, adversário do PSG nas semifinais da Liga dos Campeões da Europa, não tem nada a perder neste momento. Abriu algumas edições do Mundial de Clubes da Fifa recentemente, mas, na guerra de ostentação, tem feridas abertas devido à escolha do Qatar como sede da Copa. Escolheu caminho inverso ao do vizinho Qatar. O City Group, proprietário do clubes inglês, mergulhou de cabeça no G-12.

Outra ausência sentida é a do atual campeão da Champions League. Curiosamente, o Bayern de Munique também tem cordão umbilical com o Qatar. É patrocinado por uma das maiores companhias aéreas do mundo — a Qatar Airways. O clube alemão também tem contrato com o Aeroporto Internacional de Hamad (HIA, na sigla em inglês). O acordo dá direito a exposição nas mangas das camisas do time na Bundesliga, Copa da Alemanha e Liga dos Campeões. A Qatar Airways aparece nas camisas de treino da trupe germânica.

Em tempos de pandemia e economia em crise no mundo inteiro, PSG e Bayern de Munique podem ter aberto mão de entrar numa guerra com a Uefa e a Fifa em nome de contratos em vigência e dinheiro certo pingando na conta bancária em um momento de recessão. A previsão orçamentária da Superliga Europeia é tentadora, mas ainda não há certeza de que ela sairá do papel em curto prazo. Alguns acordos com o Qatar, principalmente do Bayern, vão até 2023.

“Todos os clubes e jogadores que participarem serão banidos das competições da Uefa e da Fifa”

Aleksander Ceferin, presidente da Uefa, com a chancela de Gianni Infantino, mandatário da Fifa

Negócios à parte, a Superliga Europeia, uma competição continental, é totalmente inspirada nos consagrados modelos norte-americanos — inclusive na ausência de rebaixamento. Vislumbra uma competição com 20 clubes divididos em dois grupos com 10 cada. Na primeira fase, jogos entre si, como se fosse uma espécie de temporada regular da NBA, NFL, MLB… Três clubes de cada chave avançam diretamente às quartas de final. Tal como nono formato da liga de basquete profissional dos Estados Unidos, um playoff anterior entre quartos e quintos colocados apontaria mais dois qualificados para as quartas de final.

A ideia pode até ser boa, mas a falta de debate e de “time” do lançamento soam como golpe no atual sistema do futebol. Mais do que isso: é totalmente desconectada do contexto mundial. Estamos em pandemia há mais de um ano. Dizia-se que o planeta nunca mais seria o mesmo no novo normal. Mentira. Parece pior. Ao lançar a Superliga Europeia, liderada pelo presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, o Clube dos 12 lembra, guardadas as devidas proporções, o que fez o Clube dos 13, em 1987, no Brasil, fundando a Copa União. Oprime clubes periféricos em nome de um grupo rico que nada mais deseja do que ficar mais rico. Por essas e outras, a revolução dos rebeldes conseguiu atrair antipatia à ideia.

Ah, uma última lembrança desse esquizofrênico mundo do futebol. Quando o atual presidente da Fifa, Gianni Infantino, era secretário-geral da Uefa, o chefe dele, Michel Platini, tentou posar de Robin Hood. Falou em criar uma Super Champions League. Dobraria o número de participantes de 32 clubes para 64 e extinguiria a Europa League.

O plano não prosperou porque, óbvio, Platini não era bom moço. Estava a fim de votos. Anos mais tarde, a Uefa, sem Platini, que vive numa encruzilhada. Aleksander Ceferin e Gianni Infantino estão sob pressão. Logo, eles que lutem para recolocar as casas em ordem.

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Marcos Paulo Lima

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