Quando dois rivais deixam as tretas de lado e jogam bola: o excelente início de decisão do Candangão

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Como é bacana quando dois clubes vencem a tentação de arrumar tretas nos bastidores, no submundo da bola, e se comprometem tão somente a jogar futebol, a divertir, entreter quem ama esse esporte tão maltratado no Distrito Federal. Independentemente de quem venceu, meus sinceros parabéns ao Gama e ao Brasiliense pela excelente partida deste sábado no primeiro ato da decisão do Campeonato Candango. Excelente levando em conta a qualidade dos jogos na capital. Ambos jogaram para a frente na vitória alviverde por 3 x 1. Os quase 10 mil presentes no estádio certamente não ficaram frustrados: 9.040 pagaram ingresso. 130000

Falo em treta porque a temperatura esquentou nos bastidores durante a semana. Apurei que a diretoria do Gama ficou irritadíssima com a liberação do Mané Garrincha para treino do Brasiliense. A cúpula alviverde esperava que a Federação de Futebol do DF — organizadora da competição, e dona dos mandos de jogo em campo neutro na decisão —, marcasse treinos oficiais de reconhecimento para as duas equipes. O protocolo costuma ser esse em competições de ponta e a diretoria de competições da FFDF vem tentando adotar os princípios utilizados em torneios de elite como a Copa do Mundo, Eurocopa, Copa América, Champions League e outras. Nesses eventos, que inspiram cada vez mais as competições da CBF e das federações, só é permitido treinar na véspera da partida para preservar o gramado. O que o Brasiliense fez simplesmente não existe, seria vetado por qualquer organização de campeonato mundo afora.

Conversei com o secretário executivo de Futebol do GDF, Apolinário Rabelo. Ele admitiu o ruído nos bastidores, informou que o Gama não pediu para treinar no Mané Garrincha e que, se houvesse solicitação, teria a mesma regalia. O próprio Apolinário estranhou o fato de a FFDF não ter organizado treinos de reconhecimento na véspera do jogo. “O certo é isso”, disse.

Em entrevista à repórter Mariana Fraga, publicada na edição deste sábado do Correio, o diretor de futebol do Brasiliense, Paulo Henrique Lorenzo, confirmou que pediu para treinar no Mané Garrincha. “Lembrei da possibilidade de fazer aqui e foi permitido pela coordenação do Mané Garrincha”. A intenção era tirar proveito do benefício. “Aqui, o tempo de bola é diferente, a bola no gramado é mais rápida e o professor Ricardo também achou que seria melhor se fizéssemos esse treino aqui”, explicou.

Romarinho reforçou: “É muito importante para a gente, que não tem costume de fazer trabalhos aqui, e é bom para a gente já sentir o clima da final nesse gramado. Os gramados que a gente está acostumados a treinar não são dessa qualidade e desse tamanho. Fizemos um trabalho muito bom de posse de bola”, aprovou o atacante.

A “esperteza” não funcionou. A bem da verdade, parecia que o Gama havia treinado a semana inteirinha no Mané Garrincha. O time alviverde sentiu-se em casa, impôs o ritmo da partida com uma velocidade impressionante no primeiro tempo. Aproveitou-se também das ausências do capitão Lúcio e do goleiro Sucuri no Brasiliense para sufocar o rival.

O Jacaré cresceu nos últimos 15 minutos do segundo tempo, partiu para o abafa, se expôs aos contra-ataques, mas o cansado Gama desperdiçou a oportunidade de matar a final logo no primeiro jogo. O quarto gol deixaria o alviverde com a mão no 12º título. A vantagem de 3 x 1 é boa, óbvio, dá ao Gama o direito de perder por um gol de diferença no próximo sábado, mas insisto, acho que a decisão continua aberta. O Brasiliense é obrigado a triunfar por três gols para faturar o título direto. Por dois, haverá decisão por pênaltis, como no ano passado.

Se Ricardo Antônio não inventar tanto quanto nesse primeiro jogo, o Brasiliense pode começar o duelo de volta da forma que encerrou o primeiro, ou seja, encurralando o Gama lá atrás. O desafio será não sofrer gol. Invicto, o Gama tem um ataque regular: balançou a rede pelo menos uma vez em todos as 16 partidas disputadas até agora. Do outro lado, cabe ao experiente técnico Vilson Tadei conter a euforia do elenco e principalmente da torcida, que deixou o Mané cantando o samba “Vou Festejar”, de Beth Carvalho.

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Marcos Paulo Lima

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