Mulheres consolidam projeto da Espanha de dominação do futebol mundial

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A conquista inédita da Espanha na Copa do Mundo Feminina ao derrotar a Inglaterra por 1 x 0 no Estádio Olímpico, em Sidney, na Austrália, não é um título isolado. Trata-se da consolidação de um competente projeto hegemônico em ambos os gêneros nos principais torneios organizados pela Fifa. No início deste século, o Brasil esteve próximo disso ao arrematar a Copa do Mundo Masculina (2002), o Mundial Sub-17 e o Mundial Sub-20 (2003) e amargar o vice na Copa do Mundo Feminina (2007), mas a CBF parou no tempo. O concorrente ibérico avançou, se planejou e conseguiu ir muito além. Não menos brilhante, a vice Inglaterra também tem um programa assustador de dominação do esporte mais popular do planeta.

A Espanha é o único dos 211 filiados à Fifa a disputar as seis finais vigentes dos torneios da Fifa. Podemos até considerar sete se levarmos em conta a extinta Copa das Confederações. A construção da dinastia é longa e remete ao fim do século passado.

Em 1999, a Espanha conquistou o Mundial Sub-20 masculino com uma das gerações mais brilhantes. O elenco tinha o goleiro Casillas e o meia Xavi Hernández. Na final, a jovem fúria goleou o Japão por 4 x 0. Quatro anos depois, o país seria vice contra o Brasil, em 2003.

São quatro finais no Mundial Sub-17 masculino. A última delas em 2017. A Espanha perdeu o título para a Inglaterra, na Índia. Os outros três vices foram nas edições de 1991, 2003 e 2007.

O auge do projeto no futebol masculino e a conquista da Copa do Mundo na África do Sul, em 2010. O gol de Iniesta na prorrogação da decisão contra a Holanda mudou de vez o patamar de uma seleção que havia conquistado dois anos antes a Eurocopa e repetiria o título em 2012. Em 2013, a Espanha quase conquistou a extinta Copa das Confederações. Perdeu para o Brasil.

Faltava romper a barreira do preconceito e olhar com carinho para o futebol feminino. O projeto começou a sair timidamente do papel a partir das “canteras”, as divisões de base dos clubes da Espanha — especialmente o Barcelona. Em 2010, a Espanha concluiu o Mundial Sub-17 feminino em terceiro lugar. Amargou o vice em 2014, a terceira posição novamente em 2016, e empilhou dois títulos consecutivos nas edições de 2018 e de 2022 da categoria.

Muito bem amarrado, o programa invadiu o Mundial Sub-20 feminino. O país decidiu o título de 2018 com o Japão e bateu na trave. Perdeu a final por 3 x 1. Houve perseverança até a edição do ano passado e elas devolveram na mesma moeda. A Espanha venceu o Japão por 3 x 1 e ergueu o troféu na Costa Rica. A protagonista foi Salma Paralluelo. Guarde bem este nome.

Neste domingo, o projeto atingiu o ápice. A conquista inédita contra a Inglaterra, atual campeã da Eurocopa, é a cereja do bolo. Até então, a Alemanha era o único país campeão da Copa do Mundo nas versões masculina e feminina. Os germânicos acabam de ganhar a companhia da Espanha. O gol de Olga Carmona, aos 28 minutos do primeiro tempo, é mais que emblemático.

A Espanha é a nova campeã do mundo. O Barcelona ostenta o título da Champions League. Alexia Putellas é a atual número 1 do mundo nas últimas duas edições do Fifa The Best. Salma Paralluelo se candidata a sucessora dela. Depois de trocar o atletismo pelo futebol, a joia de 19 anos é simplesmente a única jogadora campeã do Mundial Sub-17, Mundial Sub-20 e Copa do Mundo Feminina. O Brasil que me desculpe, mas temos, sim, um novo país do futebol na banda de lá do Oceano Atlântico. Aceitemos que dói menos.

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Marcos Paulo Lima

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