Galeano Eduardo Galeano: craque das letras nascido em Montevidéu. Foto: Reprodução/revistamacondo Eduardo Galeano, escritor nascido em Montevidéu: craque da literatura. Foto: Reprodução/revistamacondo

Mendigo do bom futebol: um tributo a Eduardo Galeano em dia de final da Libertadores no Uruguai

Publicado em Esporte

A final brasileira de hoje da Libertadores entre Palmeiras e Flamengo, no Uruguai, sentirá falta, nas arquibancadas do Estádio Centenário, de um ilustre jornalista e escritor nascido em Montevidéu. Se estivesse entre nós, Eduardo Galeano (1940-2015) certamente iria. O autor de obras clássicas como As veias abertas da América Latina morreu em 13 de abril de 2015. Faz seis anos. Era apaixonado por futebol.

Guardo com carinho, na estante da minha biblioteca, um livro de Eduardo Galeano justamente sobre o esporte mais popular do mundo: Futebol ao Sol e à Sombra. Lançado em 1995, ano do penúltimo dos 15 títulos do Uruguai na Copa América. Fica o toque de letra.

O capitulo “Confissão do autor” é genial. O investimento no livro é quitado na página 1. O uruguaio revela a frustração de não ter conseguido ser o que sonhou: jogador de futebol. Irônico, assume: “Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia: de dia era o pior perna de pau que já passou pelos campos do meu país”.

Eduardo Galeano vai além. Assume-se um péssimo torcedor. “Também deixava a desejar. Juan Alberto Schiaffino e Julio César Abbadie jogavam no Peñarol, o time inimigo. Como bom torcedor do Nacional, eu fazia o possível para odiá-los. Mas Pepe Schiaffino, com suas jogadas magistrais, armava o jogo do seu time como se estivesse lá na torre mais alta do estádio, vendo o campo inteiro, e Pardo Abbadie deslizava a bola sobre a linha branca da lateral e corria com botas de sete léguas, gingando, sem tocar na bola nem nos rivais: eu não tinha saída a não ser admirá-los. Chegava até a sentir vontade de aplaudi-los.”

De mau como jogador a pior no papel de torcedor, Eduardo Galeano descobriu com o passar do tempo a identidade dele na relação com o esporte bretão. A admissão é o trecho mais lindo da obra em minha modesta opinião. “Não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico: — Uma linda jogada, pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre — sem me importar com o clube ou o país que o oferece.”

Se você, como eu, é um craque enquanto dorme e, de dia, o pior perna de pau que já passou pelo Brasil; e, além disso, se considera um mau torcedor por ter sensibilidade para se encantar com o futebol do adversário e até sentir vontade de aplaudi-lo, convido você a viver um sábado de Eduardo Galeano na decisão da Libertadores.

Que sejamos todos mendigos do bom futebol. Que fiquemos de chapéu na mão no Centenário se você estiver no estádio ou em frente à tevê suplicando por um lindo espetáculo. Uma linda jogada, pelo amor de Deus, como diria o baita escritor uruguaio. E se Palmeiras e Flamengo protagonizarem o bom futebol, agradeçamos o milagre. Sem nos importarmos com o clube que venceu.

Desejo aos mendigos do bom futebol uma linda final. Viva Eduardo Galeano!

 

Coluna publicada na edição deste sábado (27/11) do Correio Braziliense

Siga no Twitter: @marcospaulolima

Siga no Instagram: @marcospaulolimadf