City Phil Foden comemora o segundo gol do City contra o Borussia Dortmund. Foto: Wolfgang Rattay/AFP Phil Foden comemora o segundo gol do City contra o Borussia Dortmund. Foto: Wolfgang Rattay/AFP

Mais que uma semifinal: PSG x City é novo capítulo da rivalidade Qatar x Emirados Árabes Unidos

Publicado em Esporte

A confirmação da semifinal entre Paris Saint-Germain e Manchester City na Liga dos Campeões da Europa, ambos à caça da conquista inédita, tem forte impacto geopolítico na guerra de vaidades entre dois países vizinhos antagônicos na região do Oriente Médio: Qatar e Emirados Árabes Unidos. Os outros dois candidatos ao título são o espanhol Real Madrid e o inglês Chelsea.

Anfitrião da Copa do Mundo 2022, o Qatar está à frente do sucesso do PSG. Em 10 anos, o projeto da Qatar Sports Investment (QSI) liderado pelo xeque Tamim bin Hamad Al-Thani investiu mais de € 1.255,5 bilhão no sonho de levar o time de Paris ao status de símbolo da ostentação financeira da pequenina nação de 11,581 km² e 2,8 milhões de habitantes — menos do que a população do Distrito Federal. Do total, 222 milhões de euros foram investidos somente na contratação do atacante Neymar.

Considerado “patinho feio” da região, o Qatar, via QSI, ousou peitar o vizinho Emirados Árabes Unidos, dono do City Group. A multinacional da bola tem como matriz o Abu Dhabi United Group. O grupo é proprietário de uma rede de clubes pelo mundo, que vai do badalado Manchester City, na Inglaterra; New York City, nos Estados Unidos; e Girona, na Catalunha; a Lommel SK (Bélgica), Melbourne City (Austrália), Yokohama Marinos (Japão), Sichuan FC (China), Mumbai City (China) e Montevidéu City Torque (Uruguai).

Como se não bastasse a corrida pela hegemonia na produção de petróleo e gás natural, pelo turismo, poder de influência na região e até entre duas das melhores companhias aéreas do mundo — Emirates e Qatar Airways —, está aberta a disputa no futebol por quem chegará à final da Champions League nesta temporada, em Istambul, na Turquia.

De um lado, o Catar, do xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, mecenas do PSG. Do outro, os Emirados Árabes Unidos, de Khalifa Bin Zayed Al Nahyan, financiadores do Manchester City. Curiosamente, eles poderiam ter protagonizado a final da temporada passada, em Lisboa. Estavam em lados diferentes nas chaves. O PSG decidiu o título contra o Bayern de Munique, mas o Manchester City fracassou nas quartas de final diante do Lyon.

A presença do PSG na decisão do ano passado foi mais um gol do Qatar contra os rivais políticos. Na época em que lançou candidatura para receber a Copa 2022, o país virou piada na região. Quando vizinhos como os Emirados Árabes Unidos perceberam que a possibilidade de vitória do Qatar ganhava força no mapa-múndi da Fifa, sugeriram parceria para receber o megaevento. Era tarde demais. O Qatar conseguiu o que desejava ao superar de maneira polêmica a concorrência de Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Austrália.

 

Semifinais

Paris Saint-Germain x Manchester City

Real Madrid x Chelsea

 

Acusado de apoiar grupos terroristas como a Al Qaeda e o Daesh (acrônimo árabe para Estado Islâmico), o Qatar viu Arábia Saudita, Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos, Líbia, Maldivas e Iêmen cortarem relações diplomáticas. Com direito, inclusive, ao fechamento das fronteiras. Aviões que partem em direção a Doha passaram a ser impedidos de sobrevoar, por exemplo, o espaço aéreo dos vizinhos Emirados Árabes Unidos. Logo, a viagem tornou-se mais cara, longa e cansativa. A Arábia Saudita também chegou a fechar a fronteira, única ligação terrestre do Qatar com o restante da Península Arábica. A questão preocupava a Fifa. O embargo caiu no início deste ano e a vida voltou ao normal na região.

O Qatar segue festejando uma vitória atrás da outra sobre a concorrência. Tirou Neymar do Barcelona. Viu a Fifa desistir de realizar a primeira Copa com 48 países em 2022. Isso obrigaria o emirado bordado a ouro a pedir ajuda a alguns vizinhos devido ao aumento da quantidade de jogos e delegações. O Catar foi campeão da Copa da Ásia, em 2019 na casa dos Emirados Árabes Unidos. Inclusive eliminou os donos da casa nas semifinais.

Torcedores locais até atiraram chinelos em jogadores da seleção catari — um dos maiores insultos na cultura árabe.  Em 2020, celebrou a conquista da vaga inédita do PSG para a final da Champions League. O desafio de chegar à final novamente é gigante: Só um time gaulês ergueu a orelhuda: o Olympique de Marselha, em 1993.

Alheio às nuances geopolíticas, Neymar faz a parte dele. Pode-se afirmar que “pagou” metade do investimento feito nele ao classificar o PSG para a segunda semifinal consecutiva. O feito de Neymar é enorme.  Astros como o inglês David Beckham e o sueco Zlatan Ibrahimovic não conseguiram a proeza do brasileiro na passagem pelo clube.

Independentemente do resultado da semifinal contra o City, o PSG será ainda mais forte na temporada 2021/2022. Afinal, é o ano da Copa do Mundo no Qatar e a QSI certamente fará do clube uma das peças de markting do Mundial. Comenta-se que Cristiano Ronaldo teria sido oferecido ao clube. Já imaginou um ataque CMN? Cristiano-Mbappé-Neymar!

 

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