Nas últimas semanas tentei montar o quebra-cabeça da negociação para a renovação (ou não) de contrato do técnico Jorge Jesus com o Flamengo. Conversei por telefone com um amigo português do comandante rubro-negro a fim de entender a complexidade da série que se arrasta desde o fim do Mundial de Clubes e precisa ter último capítulo até o meio deste ano. A falta de resposta a duas perguntas deu um tom de suspense ao bate-papo, mas é possível formar uma opinião.
Perguntei, por exemplo, se algum clube europeu tentou contratar Jorge Jesus no período em que ele cumpriu a quarentena em Portugal. Ouvi do amigo do Mister que mercado ele terá sempre. “Pode não ser naqueles cinco ou seis clubes top, mas só não vai para um bom time europeu se não quiser”, respondeu, indicando que Jorge Jesus recebeu algumas sondagens.
Questionei em seguida qual seria o principal pré-requisito para o técnico trocar o Flamengo por algum time do Velho Continente. O amigo lusitano do treinador respondeu assim: “A questão fundamental para ele é onde pode ganhar títulos expressivos. Isso também contará”, afirmou.
Toquei também no assunto do calendário caótico do futebol mundial afetado pela pandemia do novo coronavírus. Quis saber até que ponto isso pode favorecer ou atrapalhar um possível acerto de Jorge Jesus com algum clube europeu. “Favorece, claramente. Tem 60 dias tranquilos. Tudo está atrasado 60 ou 90 dias na Europa por causa do coronavírus”, observou, acenando que, em tese, Jesus ganhou tempo para definir a vida no Brasil com o Flamengo e, se necessário, iniciar um novo trabalho lá fora.
Jorge Jesus trabalhou em dois dos três gigantes de Portugal: Benfica e Sporting. Questionei se o Porto seria um dos concorrentes do Flamengo na pátria do treinador. O amigo do técnico respondeu que “dizer algo sobre isso seria especular”. Na verdade, qualquer possibilidade de Jorge Jesus no Porto incomoda o Benfica. É interpretada como ameaça à hegemonia do clube de Lisboa. O Porto lidera a Primeira Liga com um ponto de vantagem sobre o Benfica (60 x 59) até a paralisação, mas os encarnados foram campeões em cinco das últimas seis edições. “Jorge Jesus poderia desequilibrar/equilibrar os pratos da balança”, brinca a fonte.
No fim da conversa, tratei sobre idioma. A fonte confirmou que Jorge Jesus não fala outro idioma além do português da terra de Camões. “Começou a aprender inglês exatamente antes de ir para o Rio de Janeiro (assumir o Flamengo)”, comentou.
Abordei, ainda, sobre a atração fatal das seleções por treinadores portugueses. Carlos Queiroz comanda a Colômbia. José Peseiro assumiu a Venezuela. Paulo Bento lidera a Coreia do Sul. Sondei se Jorge Jesus teve algum convite. “Nada de especialmente motivante”, disse o amigo.
A resposta veio seguida de uma reflexão sobre a supervalorização das seleções. “Vocês aí, no Brasil, dão uma importância ao cargo de selecionador que nós, aqui (em Portugal), ou mesmo Espanha, Inglaterra, Alemanha, não damos. Um treinador prefere o Bayern Munique à Alemanha; o Manchester City à Inglaterra; o Real Madrid à Espanha; ou até mesmo o Benfica à seleção de Portugal”, comparou.
Daqui em diante, a conversa virou suspense. Aproveitando que conversávamos sobre idioma, perguntei se o Newcastle havia sondado Jorge Jesus. O clube inglês está prestes a passar por uma revolução bancada por investimento árabe. A resposta foi o silêncio. Indaguei, ainda, se o treinador entraria na “vibe” da redução salarial caso isso seja proposto pelo Flamengo para a readequação financeira nas contas do clube. Mais uma vez não houve resposta.
A minha interpretação da conversa é a seguinte: o estafe de Jorge Jesus teve sondagens de clubes europeus, sim. Obviamente, de nenhum gigante. Sondagem não implica dizer abertura de negociação financeira ou jurídica. Alguns times quiseram saber quais são as pretensões de Jorge Jesus em relação à próxima temporada europeia. Faz parte da movimentação do mercado.
Mas há possibilidades. Jorge Jesus ganhou título no Sporting Braga, Benfica e Sporting. Tem mercado em Portugal e nos demais países do Velho Mundo. A questão é se, aos 65 anos, ele terá nas mãos um elenco tão forte, competitivo e vencedor quanto o do Flamengo campeão estadual, brasileiro, da Libertadores e vice do Mundial para competir com as supermáquinas da Europa; ou se fará o papel de retardatário, tomando voltas e mais voltas de carros bem mais possantes do que o dele.
O Newcastle pode oferecer isso? Ele está disposto a aprender inglês a toque de caixa como fez Pep Guardiola ao estudar alemão antes de assumir o Bayern? Toparia a dependência de um tradutor? Superaria a concorrência de Mauricio Pochettino, o argentino vice-campeão europeu pelo Tottenham?
Posso estar errado na avaliação, mas meu feeling aponta que, fora do Flamengo, as zonas de conforto para Jorge Jesus seriam o retorno a Portugal ou uma experiência na vizinha Espanha, onde daria para se virar com o idioma sem depender de ninguém. Parte do estafe dele apresenta o retorno à Europa como melhor caminho, mas o coração do técnico, que no fim das contas é quem decide, está inclinado a ficar no Brasil. Nem que seja para perder um pouco (ou um tantão) de dinheiro.
Portanto, apesar do silêncio do amigo de Jorge Jesus em duas perguntas relevantes para mim, eu apostaria as minhas fichas na permanência do treinador no Flamengo. Palpite.
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