Você passou o ciclo da Copa do Mundo inteiro ouvindo falar que o Brasil sofreria horrores no Qatar por causa da falta de amistosos contra seleções da Europa. A fase de grupos vai chegando ao fim e o balanço é inverso. Isoladas na Nations League e cada vez mais forçadas a enfrentar seleções da própria Uefa nas datas Fifa, as potências do Velho Mundo, sim, passaram perrengue contra adversários praticamente desconhecidos para seus treinadores.
Primeira colocada do Grupo A, a Holanda só não encerrou a primeira fase com 100% de aproveitamento porque tropeçou no Equador — empate por 1 x 1. Nem mesmo o badalado técnico Louis van Gaal conseguiu tirar um truque da cartola. Não há mais espaço na agenda de seleções europeias para intercâmbios contra adversários sul-americanos. Consequentemente, a comissão técnica e os jogadores são apresentados ao problema praticamente no campo.
Uma das favoritas ao título, a Inglaterra não conseguiu vencer os Estados Unidos na segunda rodada do Grupo B. Semifinalista da Eurocopa em 2016, o País de Gales empatou com os EUA e o Irã e deu adeus precocemente em uma chave até certo ponto acessível para ir às oitavas.
A Polônia, do atual número 1 do mundo Lewandowski, parece ter conhecido o México ali mesmo, no dia da estreia n Grupo C. Resultado: não foi além do 0 x 0 e quase se complicou.
O isolamento europeu também deixou marcas no Grupo D. Atual campeã do mundo, a França perdeu para a ex-colônia Tunísia. Pior fez a Dinamarca. Semifinalista da Eurocopa no ano passado, a seleção escandinava empatou com a Tunísia e perdeu para a Austrália. Provavelmente por desconhecer totalmente adversários de fora da bolha.
O Grupo E é o caso mais assustador. Alemanha e Espanha sofreram viradas do Japão pelo mesmo placar, 2 x 1. Ambas começaram vencendo o jogo e foram surpreendidas pelos truques do competente técnico Hajime Moriyasu. Ele surpreendeu as potências com mexidas nos dois times no segundo tempo dos respectivos confrontos. Os Samurais avançaram em primeiro. Essa vaga provavelmente seria dos germânicos, eliminados na penúltima posição da chave.
A Bélgica também pagou caro pelo isolamento europeu. Quem viu a estreia diante do Canadá percebeu como a trupe de De Bruyne sofreu para vencer um adversário ausente da Copa do Mundo desde 1986. Na segunda rodada, a geração belga foi arrasada por Marrocos, por 2 x 0. O resultado praticamente encaminhou a eliminação. Marrocos também segurou a Croácia.
A mudança de hábito na Europa teve efeitos colaterais na campanha da Sérvia. Depois de segurar o Brasil enquanto pôde na estreia, empatou por 3 x 3 com Camarões em um jogo de toma-lá-dá-cá incrível na segunda rodada do Grupo G da Copa do Mundo.
Entre os candidatos europeus ao título, Portugal é o único que até agora sabe lidar com rivais desconhecidos. Passou com dificuldade por Gana na estreia, por 3 x 2, venceu o Uruguai na segunda rodada por 2 x 0 e terá como último desafio a Coreia do Sul nesta sexta-feira.
A fase de grupos deixa como mensagem aos europeus a necessidade de maior abertura na agenda para amistosos contra as outras seleções da chamada Família Fifa. Se foi arriscado nesta última edição com 32 países, imagine em 2026 com 48 nações no Canadá, EUA e México.
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