Guus Hiddink acumulou times e seleções ao mesmo tempo: Real Madrid, CBF e Ancelotti topariam isso?

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A literatura do futebol tem exemplos de técnicos cujos tentáculos foram capazes de abraçar o mundo. Leia-se comandar um time e uma seleção ao mesmo tempo. Não preciso ir muito longe. Vanderlei Luxemburgo se dividiu entre Corinthians e Brasil no segundo semestre de 1998. Levou o Timão ao título do Campeonato Brasileiro e depois passou a se dedicar exclusivamente à CBF.

Há alguns casos na Europa. Vou citar um deles. O holandês Guus Hiddink levou o PSV Eindhoven ao título da Liga dos Campeões da Europa na temporada de 1987/1988. Guiou o Real Madrid à conquista do Mundial de Clubes em 1998 contra o Vasco. Brindou o Chelsea com a Copa da Inglaterra na temporada de 2008/2009. Os bons trabalhos e a excelente gestão dos elencos fizeram dele sonho de consumo de seleções de todos os cantos do planeta bola.

Hiddink levou a Holanda às semifinais da Copa de 1998. Conduziu a Coreia do Sul ao quarto lugar em 2002. Classificou a Austrália para a Copa em 2006 depois de desbancar o Uruguai na repescagem para o Mundial da Alemanha. Comandou Rússia, Turquia, voltou a assumir a Laranja Mecânica e topou trabalhar até na pequenina Curaçao — destino paradisíaco do Caribe vinculado à Concacaf.

Os contratos do técnico holandês tinham uma peculiaridade. Uma cláusula permitia ao treinador comandar, ao mesmo tempo, clube e seleção. Ele ativou o botão, pela primeira vez, em 2005. Trabalhava no PSV Eindhoven na temporada de 2004/2005, quando recebeu convite para assumir a Austrália. Ele havia acabado de levar o PSV às semifinais da Champions League. O sucesso se estendeu aos Cangurus. No mesmo ano, classificou os australianos para a Copa.

O toque de midas chamou a atenção de outros times e seleções. Depois da missão na Austrália, Hiddink recebeu convite para assumir a Rússia com a tarefa de levá-la à Copa de 2014. Antes disso, classificou o país para as semifinais da Euro-2008 e foi reprovado na repescagem das Eliminatórias para a Copa. Apesar do fracasso, abraçou o mundo pela segunda vez.

Na época em que comandava a Rússia, foi convidado pelo magnata Roman Abramovich para assumir o Chelsea. Luiz Felipe Scolari havia sido demitido e o time inglês necessitava de um profissional como Hiddink. A Federação Russa autorizou. O contrato novamente previa essa possibilidade. Deu até tempo de conquistar a Copa da Inglaterra por 2 x 1 contra o Everton, em Wembley.

O presidente da CBF está sob pressão. Quer porque quer Carlo Ancelotti como novo técnico da Seleção Brasileira. O contrato do italiano com o Real Madrid termina em 2024. Ednaldo Rodrigues se recusa a pagar a multa rescisória. Ancelotti é simpático ao falar da possibilidade de suceder Tite, mas não larga o filé do Real Madrid. Uma das possibilidades de Ednaldo realizar o sonho de consumo é manter Ramon Menezes interino e aguardar um ano por Ancelotti. A outra é esperar por uma troca repentina de rumo no Real Madrid, ou seja, Florentino Pérez acordar com a pá virada e mudar o técnico.

Seria o “jeitinho Hiddink” uma alternativa boa para todos os lados? Real Madrid e a CBF aceitariam dividir Carlo Ancelotti ao menos por uma temporada, como o técnico holandês fez ao se dedicar ao PSV e à Austrália ao mesmo tempo; e depois à Rússia e ao Chelsea paralelamente? Não creio nessa possibilidade, mas a literatura do futebol jamais deve ser descartada. Já vi de tudo. Como escrevi lá no início, Vanderlei Luxemburgo e Guus Hiddink não me deixam mentir.

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Marcos Paulo Lima

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