A impressão que tenho é de quanto pior a situação e maior o desafio, melhor para Tite. Não, o técnico do Flamengo não é masoquista. Longe disso. Quero dizer o seguinte: a dificuldade leva o experiente técnico de 63 anos para a zona de conforto: o futebol pragmático no melhor estilo “é o que temos para hoje e lamba os beiços”.
Poucas vezes o comandante rubro-negro teve fartura nos elencos pelos quais passou. Um pouquinho naquele Corinthians de 2015. Muita nos seis anos e meio na Seleção Brasileira. Os melhores trabalhos dele foram na escassez, ou seja, em tempos de vacas magras. Por isso, ele sabe lidar com o momento delicado do clube de maior orçamento da América do Sul. O plantel é abundante, porém o departamento médico não para de abrir prontuário em um calendário insano — e desumano.
O placar de 1 x 0 contra o Bahia na primeira partida das quartas de final da Copa do Brasil foi mais uma Vitória de Pirro. O Flamengo venceu, mas perdeu soldados. De la Cruz e Michael saíram do campo sentindo lesões na coxa. São nove jogadores lesionados em 27 dias. Apesar das perdas, o time sobrevive na Copa do Brasil, na Libertadores e no pelotão de elite da Série A.
Adenor curte a fartura, óbvio, mas sabe quando é preciso despertar o velho Tite que há nele em tempos de vacas magras. Sabe fazer muito com pouco. Em 2001, o elenco do Grêmio era limitado na final da Copa do Brasil contra o Corinthians de Vanderlei Luxemburgo. O São Caetano tinha um time modesto na campanha do quarto lugar no Brasileirão de 2003. Levou o Internacional ao título da Sul-Americana com uma defesa de quatro zagueiros-zagueiros em 2008: Bolívar, Índio, Álvaro e Marcão viraram trunfos colorados na conquista continental. O Corinthians campeão do Brasileirão em 2011 tinha limite. Ficou marcado pelas vitórias com placares mínimos, apertados. O Caxias campeão gaúcho em 2000 nem se fala. Desbancou o Grêmio na decisão contra a trupe de Ronaldinho Gaúcho.
O passado escasso tem ajudado Tite a lidar com os problemas do presente do farto Flamengo. O Rubro-Negro eliminou o Bolívar e abriu 1 x 0 nas quartas de final contra o Bahia, na Arena Fonte Nova, sem Everton Cebolinha, Marías Viña, Pedro, Gabriel Barbosa e Arrascaeta. De la Cruz e Michael saíram lesionados e são dúvida para o duelo de domingo contra o Corinthians, na Neo Química Arena.
O Tite de 63 anos sabe se virar com o que tem como aquele Tite de 39 anos quando despontou no Caxias. Basta observar os melhores jogadores em campo contra o Bahia. Ambos improvisados. O zagueiro Léo Ortiz se consolida como volante. Mais uma belíssima partida dele na função ao lado de Pulgar. Deixou as linhas justas, encurtou espaço, foi eficiente como 5 e 8.
Bruno Henrique não tem cacoete de centroavante. É estranho vê-lo enfiado dentro da área entre os zagueiros. Difícil imaginar algo de bom com ele naquela fatia do campo. Porém, o falso nove funcionou. Bastou um escanteio para o Flamengo contra cinco do Bahia. De la Cruz cobrou e o atacante usou a impulsão, uma das características dele, para cabecear no fundo do gol tricolor.
Não basta reinventar um jogador. É preciso convencê-lo de que é possível. Luiz Araújo e Gerson atuaram praticamente centralizados no meio de campo na maior parte do tempo. Mais próximos de Leó Ortiz e de Pulgar. De la Cruz assumiu praticamente o papel de parceiro de ataque de Bruno Henrique. É o jogador mais avançado no posicionamento médio rubro-negro.
O Flamengo de Tite não encanta, mas compete porque encontra soluções nas dificuldades impostas pelo calendário insano do futebol. Foi assim durante a Copa América. É também neste agosto perverso com 10 jogos em 30 dias. A torcida rubro-negra precisa entender isso.
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