Dunga faz o possível e o impossível para mostrar que não está desinformado. Tem sempre uma saída para driblar as cascas de banana nas entrevistas coletivas. Questionado se fez algum tipo de reciclagem antes do retorno à Seleção, disse que tomava café da manhã todos os dias com Arrigo Sacchi — mentor do fantástico Milan dos anos 1990 e da Itália vice-campeã do mundo em 1994. Na Copa América de 2015, mostrou intimidade ao falar do técnico argentino do Paraguai, Ramón Díaz, com quem tomou bons vinhos em alguns jantares. A pergunta que não foi feita a ele lá no Chile, no ano passado, nem em Viamão (RS), e muito menos no desembarque em Assunção para a partida desta terça, às 21h45, pela sexta rodada das Eliminatórias para a Copa de 2018, é se ele conhece o Emiliano.
Quem???
Eu gostaria de ser um mosquitinho para bisbilhotar as reuniões do Dunga com seu auxiliar, Andrey Lopes, a fim de saber se a dupla conhece o trabalho do filho do Ramón Díaz. Emiliano Díaz é o cérebro daquele Paraguai que eliminou o Brasil da Copa América no ano passado e enfrentará o time de Dunga hoje à noite. Não joga no time, mas é o laboratório de gols da seleção. Nepotismo à parte, a figura discreta, quase imperceptível no banco de reservas, é outra vez uma das armas secretas do Paraguai.
Emiliano Díaz é uma espécie de “nerd” da comissão técnica. É o responsável, por exemplo, por criar e ensaiar jogadas de bola parada. O cara também organiza os treinos. Entra em campo antes do pai e deixa tudo prontinho para o coroa de 56 anos escolher os procedimentos. Ex-jogador, Emiliano é o cara mais próximo dos convocados de Ramón Díaz. O responsável, por exemplo, por convencer o promissor Juan Manuel Iturbe Arévalos, o Iturbe, do Bournemouth, da Inglaterra, a escolher o Paraguai e não a Argentina para defender como seleção principal.
Dunga que não se engane. Emiliano mapeou todos os passos da Seleção Brasileira — com e sem Neymar e entregou de mãos beijadas ao tomar a bênção do pai. Exigente, Ramón cobra análise das 10 últimas partidas dos adversários. Por sinal, pouco para quem acompanha 57 partidas por semana e formatou uma base de dados com detalhes de todos os jogadores usados nas Eliminatórias. O filho é o responsável pelo minucioso dossiê que informa sobre as bolas paradas e aéreas do rival, sistema tático, posicionamento, estatísticas…
Ao contrário do pai, Emiliano domina as novas tecnologias. Quando auxiliou Ramón Díaz no River Plate, entregava um Ipad a cada jogador com um aplicativo no qual estavam todas as informações sobre os rivais. Era o dever de casa. O método é o mesmo no Paraguai. O jovem Emiliano faz uma espécie de upgrade na carreira do pai, de 55 anos. Atrevido, teria tentado clonar, no River Plate, o posicionamento do Bayern de Munique, de Pep Guardiola. Admirador de José Pekerman, ficou encantado com a Colômbia em um amistoso diante da Holanda e desafiou o pai a fazer o mesmo no time argentino. Pela segunda vez, em menos de um ano, a ambição é dar um nó tático em Dunga.
Campeão do Mundial Sub-20 em 1979, ao lado de Diego Armando Maradona, Ramón Díaz fez o gol da Argentina naquela derrota por 3 x 1 para o Brasil na Copa do Mundo de 1982. Ficou fora do torneio em 1986 e 1990 por causa de uma guerra de vaidades com D10S. Como técnico, fez história em 1996. Levou o River Plate ao título da Copa Libertadores da América em um timaço que tinha o uruguaio Enzo Francescoli no papel de maestro.
O Brasil não vence o Paraguai em Assunção desde 1985, quando Zico e Casagrande marcaram os gols da vitória. Fica a dica, Dunga! O parceiro de taça de vinho, Ramón Díaz, está melhor. Mas o segredo da safra é o filho dele, Emílio Díaz.
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