wpri-3004-candangaofinal (1) Arte: Caio Gomez/Correio Braziliense Arte de Caio Gomez sobre monitoramento de manipulação de resultados no Candangão 2021

Exclusivo: multinacional de mapeamento de apostas detecta padrões suspeitos no Candangão

Publicado em Esporte

As suspeitas de manipulação de resultados no Candangão 2021 podem ter provas fora do quadradinho do Distrito Federal e dispararam o alarme de uma firma internacional especializada no rastreamento de jogos enganosos. Em 16 de abril, o blog revelou que o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios apuraria denúncias de ataques de uma máfia de apostadores ao torneio local. Três dias depois, o Tribunal de Justiça Desportiva do DF entrou em campo com abertura de inquérito.

Em um capítulo do “Candangate” nos bastidores, o blog apurou que o serviço de espionagem de cassinos on-line Sportradar — serviço de integridade parceiro da Fifa, COI, Conmebol, Uefa, CBF, Federação Paulista de Futebol, das federações internacionais de tênis, automobilismo, motovelocidade, rúgbi, críquete, hóquei no gelo e de ligas norte-americanas badaladas como NBA e MLB — detectou indícios de padrões suspeitos no volume de apostas e pagamentos na primeira fase do campeonato da capital do país. O suporte pode ser um passo importante para o cerco a um possível crime organizado.

A reportagem apurou que a multinacional com sede na Suíça, filial sul-americana no Uruguai e representação em mais de 40 países forneceu informações à Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-DF) e ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) para a sequência da apuração das suspeitas de manipulação de resultados no torneio deste ano. Juristas e fontes ouvidas pelo blog apontam que os relatórios são extremamente relevantes, mas não necessariamente conclusivos.

A Sportradar funciona como uma espécie de “Big Brother”. Os casas on-line são as mais vigiadas por ela. O serviço disponível 24 horas por dia tem um indicador chamado Fraud Detection System. O “alarme” dispara quando identifica discrepâncias nos mercados de apostas, e acusa possíveis trapaças. O blog tentou contato com um executivo da firma, mas os profissionais estão blindados justamente por causa da colaboração com o inquérito no DF.

O porfólio da Sportradar aponta que os serviços de integridade — termo técnico — são referência mundial no provimento de soluções de integridade esportiva para entidades de administração do desporto, organizações antidoping, clubes, agências de governo e organizações privadas nos combates a manipulação de resultados, antidoping, due diligence, análise de riscos, compliance, estratégias e planejamento.

O cartão de visitas oferece, ainda, o serviço de monitoramento avançado e analistas especializados para que padrões suspeitos de apostas possam ser detectados em mais de 600 operadoras de cassinos do mundo.

Os principais serviços são: sistema de detecção de fraudes, equipe de analistas em Integridade com experiência global, avaliação de riscos sobre mercados de apostas, relatórios certificados independentes, inteligência sobre os mercados de operadores de apostas e monitoramento anônimo de apostas individuais.

A ferramenta chegou a ser oferecida anteriormente à FFDF, mas a entidade não contratou devido ao custo elevado. Entre as federações, apenas as mais ricas, como a paulista, por exemplo, aderiram ao plano preventivo. Ciente da suspeita de manipulação de resultados no Candangão, a CBF, um dos badalados clientes da multinacional, ofereceu o suporte à FFDF para a identificação de jogos contaminados e o cerco a possíveis manipuladores.

 

Brasil, a bola da vez

 

Uma fonte afirmou ao blog que o Brasil é, hoje, o epicentro da manipulação de resultados no esporte mundial. As máfias atuam de maneira itinerante pelo país. Torneios da Paraíba, Rio de Janeiro e São Paulo são alvos recentes. Há preferência por torneios “invisíveis”, como o Candangão e a quarta divisão do Carioca. Mas nem os badalados escapam. A Ferj apura suspeita na vitória do Madureira por 4 x 2 sobre o Macaé nesta edição da primeira divisão do Estadual.

Firmas oferecem parcerias financeiras a times pobres do país. Há ofertas de jogadores adestrados para a fraude, ou seja, capazes de sabotar a própria equipe. Em alguns casos, dirigentes que se dizem inocentes justificam que não sabiam do histórico corrupto dos parceiros.

 

Investigações

 

Pelo menos dois times do Candangão são alvo das investigações: o Samambaia fechou parceria a toque de caixa com investidores ingleses e sérvios. Antes do Candangão, o clube era uma incógnita, o mais fechado. Não fornecia informações sobre os preparativos para o torneio.

O outro é o Formosa. O time do Entorno teve apoio de um grupo que deixou terra arrasada no Imperatriz, do Maranhão. A FFDF, inclusive, teria sido alertada sobre o histórico dos parceiros e para ficar atenta às partidas da equipe goiana.

Três duelos chamam a atenção do MPDFT e do TJD-DF. Em 2 de abril, o Formosa perdeu por 6 x 1 para o Samambaia. Uma casa de apostas prometia pagar alto no caso de vitória por cinco gols de diferença. A goleada do Ceilândia por 8 x 1 na última rodada da primeira fase e a derrota do Samambaia, por 3 x 0, para o Santa Maria, pela quinta jornada, também estão na mira. Jogadores, alguns dirigentes e árbitros teriam sido abordados para facilitar a contaminação em troca de uma boa recompensa financeira.

Na sexta-feira passada, o blog publicou que os presidentes da FFDF, do Samambaia, Formosa, Ceilândia e da associação de árbitros local, além do diretor de futebol da entidade máxima do futebol local, foram intimados a depor. Não está descartada a inclusão do mandatário do Real Brasília. O dono do time rebaixado para a segunda divisão teria sido um dos abordados pelo esquema e respondido não ao assédio que, em tese, ajudaria o time a permanecer na elite local.

O MPDFT requisitou, por meio da Procuradoria dos Direitos do Cidadão (PDDC), os contatos de todos os presidentes dos 12 clubes da primeira divisão e detalhes dos resultados das 36 partidas da primeira fase, como súmulas e imagens brutas das partidas. Alguns dirigentes começaram a ser contatados para prestação de esclarecimentos. Paralelamente, o TJD planeja o calendário do inquérito na esfera esportiva.

 

Cronologia do caso

  • Em 16 de abril, o blog publica, com exclusividade, que pelo menos três dos 36 jogos da primeira fase do torneio doméstico podem ter sofrido ataque de uma máfia de apostadores. Revelou, ainda, que o MPDFT apuraria as denúncias.
  • A reportagem também é publicada na edição impressa de 17 de abril do Correio Braziliense.
  • Três dias depois, a Procuradoria do TJD-DF apresenta requerimento para apuração do caso e o presidente do tapetão candango não somente defere, como delega a investigação a um auditor do pleno.
  • Seis dirigentes são convocados pelo TJD-DF para as chamadas oitivas. O MPDFT também inicia o agendamento dos depoimentos.
  • Paralelamente, 0 quadrangular semifinal está na terceira rodada. Neste sábado, o Gama receberá o Ceilândia, às 15h30, no Defelê, na Vila Planalto. No domingo, o Brasiliense duelará com o Luziânia, às 15h, no Mané Garrincha. O Jacaré lidera com seis pontos. O Gama tem três; e Ceilândia e Luziânia, um cada. Os dois melhores desta fase avançarão à final em jogo único.

 

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