Escalação do Brasil na goleada contra China chama atenção para um dilema: a média de idade

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Alertei no dia da convocação da Seleção Brasileira para o torneio feminino dos Jogos Olímpicos de Tóquio para o peso da idade das jogadoras escolhidas por Pia Sundhage. O elenco tem média de 28,6 anos. A técnica levou os Estados Unidos ao bicampeonato em Pequim-2008 e Londres-2012; e a Suécia à prata na Olimpíada do Rio-2016 com grupos mais jovens.

Passada a empolgação da goleada por 5 x 0 sobre a China, é bom colocar os pés no chão. Afinal, aquela China medalha de prata em Atlanta-1996 e vice-campeão da Copa do Mundo em 1999 não existe mais, como ficou claro no passeio do time de Marta. Isso não tira o mérito do Brasil, óbvio, é apenas um ponto que precisa ser relevado em meio ao oba-oba.

Mas voltemos a falar sobre idade. Das 11 titulares de Pia na estreia nos Jogos de Tóquio, sete estão acima dos 30 anos. O elenco todo tem nove jogadoras nessa faixa etária. Seis titulares superam a marca dos 33. Na prática, isso implica dizer que, possivelmente, a campanha do Brasil será irregular nas partidas e na competição.

A proposta de jogo da Pia exige pernas. E elas podem faltar nos momentos cruciais do torneio, ou seja, a partir das quartas de final. O ritmo caiu no segundo tempo desta quarta-feira. Um pouco devido ao placar confortável, mas, também, por causa da idade. Daí o fato de a goleira Bárbara ter sido exigida em alguns lances e obrigado a Seleção a retomar o ritmo da partida.

  • Média de idade das seleções olímpicas de Pia Sundhage
    Estados Unidos: 25,6 anos (ouro em Pequim-2008)
    Estados Unidos: 28 (ouro em Londres-2012)
    Suécia: 27,6 anos (prata na Rio-2016)
    Brasil: 28,6 anos

Aos 35 anos, Marta aceitou ir para o sacrifício. É arco e flecha. É a estrela da companhia. Eleita seis vezes melhor jogadora do mundo, recordista ao lado de Lionel Messi, mas nunca deu as costas ao passado difícil em Dois Riachos (AL). Ela sabe que o sucesso pessoal depende do comprometimento com o grupo, com o coletivo. Marta fez gol, deu passes e colaborou como nunca na chamada recomposição defensiva. Tapou buracos nas duas pontas. Em vários momentos assumiu o serviço sujo em nome do brilho de Bia Zaneratto e Debinha.

A idade não impedirá o Brasil de realizar o sonho da inédita medalha de ouro. Longe disso. Mas o segundo tempo da goleada sobre a China adverte que é preciso comemorar a excelente estreia com moderação. O duelo mais duro da fase de grupos será contra a atual vice-campeã mundial Holanda. Em tese, o duelo com a Zâmbia é a oportunidade perfeita para rodar o elenco, poupar energia. Se a tabela permite, por que não aproveitá-la?

Sim, Marta está a dois gols do recorde da amiga Cristiane, maior artilheira dos torneios de futebol dos Jogos Olímpicos, mas a camisa 10 tem dado provas de humildade a Pia, ao elenco e aos brasileiros que torcem como nunca pelo sucesso pessoal e coletivo da Seleção. O país não chega à final desde Pequim-2008. Administrar o cansaço é o primeiro passo para a volta.

Marcos Paulo Lima

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