Entrevista: Wagner. O meia joga no Qatar e ensina a Seleção a domar os campeões da Copa da Ásia

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Estive no Qatar em março. Foi possível conhecer a evolução do futebol do país-sede da Copa do Mundo 2022, adversário do Brasil nesta quarta-feira, às 21h30, no Mané Garrincha, no penúltimo amistoso da Seleção antes da estreia na Copa América. O pequeno emirado do Golfo Pérsico, com população de 2,7 milhões, ou seja, pouco menor que a do Distrito Federal, conquistou a Copa da Ásia em fevereiro com sete vitórias e apenas um gol sofrido. Arrematou os prêmios de artilheiro, melhor jogador e goleiro. Nesta semana, foi confirmada como sede do Mundial de Clubes da Fifa em 2019 e em 2020.

Aos 34 anos, o meia Wagner Ferreira dos Santos testemunha a revolução do Qatar in loco. Defende o Al-Khor, time da primeira divisão da Qatar Stars League, como é chamado o campeonato nacional de lá. Revelado pelo América-MG e com passagens por Cruzeiro, Fluminense e Vasco, ele bateu um papo com o blog* em Doha. A seguir, ele dá até dica para Tite armar a Seleção para o duelo contra Qatar. Confira o bate-papo…

O que esperar do Qatar na Copa América?

Olha, coisa boa. Eles mostraram no título da Copa da Ásia um futebol bonito, envolvente, consistente. Eles sabem o que fazem, sabem criar, melhoraram bastante coletivamente e individualmente. Vai ser legal. Quem assistir aos jogos não verá jogadores dando de canela, porrada, nada disso. É bola no chão e construção de jogadas. Vão jogar firme.

O técnico é o espanhol Felix Sanchez Bas…

Ele é muito inteligente. Jogam juntos desde os 15 anos. Ele gosta muito de posse de bola.

O que você recomenda ao Tite?

Tem uma coisa que incomoda muito a seleção do Qatar: jogar duro, na bola, mas firme. Eles se sentem muito incomodados. Eles não têm essa característica. Você tira os caras da zona de conforto e os deixa um pouco desnorteados. É onde se pode tirar vantagem.

Como é morar e jogar no país da próxima Copa? Estar tão perto e tão longe, já que você provavelmente não participará do Mundial.

Agora não dá mais. Tenho 34 anos (risos). É gosto estar aqui. Os próprios cataris perguntam como será a Copa. Na última Copa, eu estava no Rio. Jogava no Fluminense, meu filho era pequeno. A gente quase foi assistir a semifinal no Mineirão. Fomos eu e a minha esposa ao jogo entre Brasil e Chile, que terminou nos pênaltis.

Tem uma coisa que incomoda muito a seleção do Qatar: jogar duro, na bola, mas firme. Eles se sentem muito incomodados. Eles não têm essa característica. Você tira os caras da zona de conforto e os deixa um pouco desnorteados. É onde se pode tirar vantagem.

Quase testemunhou o 7 x 1 in loco?

Foi engraçado porque eu disse ao meu filho: ‘nós vamos lá assistir Brasil x Alemanha. Rapaz, o treino acabou tarde e nós não fomos. Graças a Deus. Eu poderia ter sido pé-frio no primeiro jogo do meu filho vendo a Seleção. Não deu certo.

Mas você poderá ir aos jogos aqui no Qatar…

Se Deus quiser. Vou poder levá-los. Com certeza vai dar para beliscar esse título em 2022.

Tem planos de jogar aqui até 2022?

Tenho mais um ano e meio de contrato. Os jogos aqui são muito tranquilos. São poucos jogos, a intensidade não é tão alta. O Rodrigo Tabata está com 38 anos e continua jogando. Tem atletas aqui com 40, 41 anos. Eu me cuido bem, durmo bem, alimento bem. Dá para jogar até os 40.

É treinador espanhol, comissão espanhola, a maneira de jogar espanhola, toque de bola, pressão na saída quando retorna, constroem bem, não são afobados, não cometem muitos erros. Eles compraram uma ideia, afastaram estrangeiros e se profissionalizaram.

E essa concorrência entre camisas 10? Tem você, Rodrigo Tabata, o holandês Sneijder…

Tinha o Xavi no Al Saad… É muito gostoso quando a gente duela. A partida fica legal, o nível sobe.

Mas a média de público nos estádios é pequena. Por que?

Eles não gostam muito de ir ao estádio por causa do calor. Eles gostam muito de ver em casa, no chão, tomando chá. Isso é cultural. Quando vamos jogar, por exemplo, em Al Khor, que é uma cidade a 30km de Doha, não dá quase ninguém, só algumas crianças vão assistir ao jogo. O estádio fica vazio, mas na frente da tevê está a família inteira, a cidade para. Muitos amigos brasileiros aparecem aqui e estranham, mas vá até a casa deles.

Não falta um pouquinho de Brasil na seleção do Qatar?

O Rodrigo Tabata chegou a jogar, pegou o passaporte. Eles implementaram uma fórmula para não depender tanto dos estrangeiros. hoje, o Qatar é o que menos tem espaço para jogadores de fora. Só podem três. Na Arábia Saudita e na Turquia são sete e assim vai… Fizeram um trabalho em longo prazo, aproveitaram a Aspire Academy, onde as crianças treinam a manhã toda, vão para a escola, passam o dia, treinam juntos…

Como é feita a transição para o profissional?

Eles fazem a seleção dos melhores até a sub-23 e a partir daí passam a treinar juntos com os mesmos treinadores, a mesma metodologia, ou seja, tudo aquilo que era para ser certinho no Brasil acontece aqui. Hoje, estão colhendo o fruto na seleção. É treinador espanhol, comissão espanhola, a maneira de jogar espanhola, toque de bola, pressão na saída quando retorna, constroem bem, não são afobados, não cometem muitos erros. Eles compraram uma ideia, afastaram estrangeiros e se profissionalizaram.

Pensou em se naturalizar?

Não. Estive um ano e meio na Rússia, até pensei, mas desisti. Era um país muito frio. Tive muita dificuldade por causa de contusões, a fisioterapia era muito diferente e depois eu fui para a Turquia. Mas eu te falo, seu eu tivesse vindo antes para o Catar, eu pensaria. Hoje, preciso morar cinco anos aqui para conseguir o passaporte. Eu cheguei no ano passado e só completarei um ano em setembro. Os meus filhos de 10 e 8 anos amam o Qatar, a escolha, a vida que nós temos aqui. Ele jogam até futebol.

Eles fazem a seleção dos melhores até a sub-23 e a partir daí passam a treinar juntos com os mesmos treinadores, a mesma metodologia, ou seja, tudo aquilo que era para ser certinho no Brasil acontece aqui. Hoje, estão colhendo o fruto na seleção.

Aquela dica para o brasileiro que pretende ir ao Qatar em 2022…

Planejamento. Vai ser um pouquinho caro, mas é o caro que vale a pena. Se você pagar para ir a um restaurante vai ser caro, mas vai ser o melhor da sua vida. O estádio vai ser o mais caro da sua vida. Tem que se esforçar um pouquinho e vai valer a pena.

Você se arrepende de ter saído do Vasco ou foi a melhor decisão?

Tentamos chegar a um acordo, mas não deu certo para as partes. Eu tive que tomar uma decisão porque restavam mais três meses de contrato. Após o fim, eu não permaneceria mais no Vasco. Entre jogar três meses no Vasco e dois anos de contrato, eu tive que vir para o Catar. A batalha jurídica continua.

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*O jornalista viajou a convite da Associação de Futebol do Qatar (QFA na sigla em inglês)

Marcos Paulo Lima

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