Entrevista: Marcos Soares comanda Arábia Saudita no Mundial Sub-20

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O carioca radicado no DF comanda a Arábia Saudita no Mundial Sub-20. Foto: Marcos Soares/Arquivo pessoal

Nascido em 30 de julho de 1975, Marcos Alexandre Souza Soares curte um presentão de 50 anos. Ex-zagueiro, o carioca radicado em Brasília iniciou a carreira de técnico em 2008 no futebol candango. As passagens por Brasiliense, Santa Maria, Ceilandense, Sobradinho e Brasília, com um título candango sub-20 em 2010 e em 2013 e um no profissional em 2011, foram as senhas para voos mais altos nas categorias de base do Santos, Corinthians, Botafogo e Al-Hilal antes do convite para assumir a seleção sub-20 da Arábia Saudita.

Em entrevista ao blog, Marcos Soares fala sobre o desafio de lapidar joias nascidas a partir de 2005 e amadurecê-las para um projeto maior: representar o país em casa na Copa do Mundo de 2034. O trabalho flui com excelência. A Arábia Saudita desembarcou no Chile para o Mundial Sub-20 como vice-campeã da Ásia na categoria. Perdeu a final nos pênaltis para a Austrália.  Em 2023, o treinador levou a seleção ao título no torneio de futebol dos Jogos Árabes, na Argélia. Brindou o país com a medalha de ouro nos pênaltis contra a Síria.

A Arábia Saudita está no Grupo F da Copa do Mundo Sub-20. Estreia nesta segunda-feira contra a Colômbia, às 20h, em Talca, no Chile.  O desafio de chegar pela primeira vez às quartas de final passa por bons resultados contra  também contra a Nigéria e depois a Noruega. Ele analisa a chave e fala sobre um possível encontro com o Brasil, do amigo Ramón Menezes.

Quem é ele
Nome: Marcos Alexandre Souza Soares
Nascimento: 30/7/1975
Local: Rio de Janeiro
Clubes como zagueiro: América-RJ, Mesquista, Serrano, Atlético de Alagoinhas, Oliveirense, Espinho, Oliveira do Bairro, Terengganu, Guangzhou, Brazlândia e Dom Pedro II
Clubes como técnico: Brasiliense (sub-20) Santa Maria (sub-20), Ceilandense, Sobradinho, Brasília, Brasiiense, Anápolis, Santos (sub-20), Corinthians (sub-17), Botafogo (sub-20), Maringá, Al-Hilal (sub-17) e Arábia Saudita (sub-20).
Títulos: Campeonato Brasiliense Sub-20 (2010), Candangão (2011), Candangão Sub-20 (2013), Jogos Árabes (2023) e West Asia Football Federation, Waff (2024).

Qual é o sentimento de comandar a Arábia Saudita na Copa do Mundo Sub-20?

Marcos Soares — É um privilégio muito grande estar aqui entre os melhores numa Copa do Mundo. É o sonho de qualquer profissional que começa uma carreira no futebol. Claro que uma Copa do Mundo profissional tem um valor maior do que a Sub-20, mas estou muito realizado e satisfeito por ter essa oportunidade.

Você é carioca, mas o futebol candango foi a sua escola…

MS — Muito orgulhoso por estar aqui saindo de Brasília, uma sede do futebol sem tem tanta badalação, mas fui construindo a minha carreira devagar, passando por Santos, Corinthians, Al-Hilal e cheguei à seleção. Sou muito orgulhoso da minha trajetória, de ter começado em Brasília. Grato ao Brasiliense por ter ficado lá cinco anos. Aprendi em todas as equipes de Brasília por onde passei e pude aprender um pouco mais e me desenvolver como treinador.  Estou em um país que está investindo muito no futebol e trata muito bem os brasileiros. Sou muito querido. Em novembro, faz quatro anos que estou na Arábia.

Qual é a projeção para a Arábia Saudita?

MS — A gente caiu em um grupo muito equilibrado, muito forte. A Colômbia tradicionalmente tem jogadores muito rápidos, muito habilidosos, muito fortes fisicamente. Acho que é o time mais perigoso do nosso grupo. Na nossa estreia, temos a Noruega, que se classificou em um grupo da Europa, onde passam cinco. Alemanha, Holanda, Inglaterra e Portugal ficaram fora da Copa. E a Nigéria, que é uma potência na base, sempre muito difícil. São fortes fisicamente, lutam o tempo inteiro. Marrocos tem bons jogadores e pode surpreender.

A melhor campanha da Arábia Saudita é oitavas de final. É possível ir além?

MS — A gente pegou um grupo difícil, mas evoluímos muito nos últimos dois anos. Estamos preparados para competir. A gente veio aqui para passar de fase. A confiança é boa em bons jogos, numa boa performance. O resultado depende de muita coisa, mas vamos brigar para passar de fase e o nosso sonho é chegar às quartas de final pela primeira vez. Temos os pés no chão, muito respeito por todos e vamos viver jogo a jogo, com calma.

A Arábia Saudita fez bela campanha na Copa da Ásia Sub-20. Aumenta a expectativa?

MS — Não éramos favoritos na Copa da Ásia e fizemos a final contra a Austrália. A partida foi 1 x 1 e nós perdemos nos pênaltis. A gente foi melhor no jogo, mas perdemos por 5 x 4. Ficamos em segundo lugar, mas foi um resultado muito bacana. A Arábia Saudita tem três títulos da Copa da Ásia. Essa geração era muito desacreditada no início e evoluiu bastante, estão muito confiantes. O futebol da Ásia evoluiu muito. Tem o Uzbequistão, que evoluiu muito e não está na Copa. O Irã é sempre forte. Austrália, Japão e Coreia do Sul, que são sempre muito fortes naquela região estão na Copa. Não é fácil se classificar. Há outras equipes que brigam sempre estão fora da Copa. Iraque, Jordânia. Estamos muito orgulhosos.

Há poucos técnicos brasileiros em seleções. Você na Arábia, Sylvinho na Albânia…

MS — É muito bom para o país ter um brasileiro comandando um futebol que está no foco do mundo.  Estou herdando um legado de muitos treinadores brasileiros que passaram por aqui. Não só pela seleção sub-20 e profissional como por várias equipes da Arábia Saudita. Por isso, o Brasil é tão querido no país e isso me faz ser muito bem tratado por eles. Agradeço a todo mundo que passou antes de mim e abriu esse caminho.

Leia também: Guia do Mundial Sub-20 2025: conheça as 24 seleções candidatas ao título – Blog Drible de Corpo

Quais são as seleções favoritas ao título do Mundial Sub-20 no Chile?

MS — As duas que eu vejo como favoritas são Espanha e França. Numa Copa do Mundo, o Brasil vai ser sempre o Brasil, pode ser campeão. Uma Argentina, uma Itália. Cravar é muito difícil, mas eu vejo Espanha e França jogando o melhor futebol. Quando a destaques individuais, como você disse, os melhores do mundo não estão aqui, os top da categoria, mas sobrou muitos bons jogadores. Nós vamos jogar contra a Colômbia, que tem o Perea, um grande jogador, extremo esquerdo. Tem o meia do Botafogo que veio com a Argentina (Montoro), um outro na Colômbia (Barrera).

A Arábia Saudita é sede da Copa de 2034 e a geração que você comanda atingirá o ápice justamente em casa. Aumenta a responsabilidade lapidar essa rapaziada?

MS — A nossa equipe evoluiu muito. Sou muito orgulhoso quanto ao legado e de ter participado da evolução desses meninos. Eu já trabalhei com a geração de 2003 e 2004. Agora, 2005, 2006 e 2007. Estou feliz por contribuir de alguma forma com o desenvolvimento de um país que me abraçou. Falta muito para a Copa de 2034, mas muitos jogadores estarão lá e será um prazer ter trabalhado com eles anteriormente.

Como é a sua comunicação com os jogadores?

MS — Eu me comunico em árabe com eles. Poucos jogadores falam inglês. Tem um profissional que traduz do inglês para o árabe. As preleções, por exemplo, eu faço em inglês. Durante o jogo, falo em árabe. A gente vai misturando, mas eu me desenvolvi bastante no árabe. Sou o único brasileiro na comissão técnica. Meu auxiliar é português, os preparadores físicos são um francês e um saudita, o médico é um argelino, o preparador de goleiros marroquino, o analista de vídeo é italiano e um saudita. A nossa comissão é bem cosmopolita.

A Seleção não ganha o Mundial Sub-20 desde 2011. Ramon Menezes é um amigão seu. Como vai ser um possível duelo com ele?

MS — O Brasil sempre vai ser uma equipe forte. Embora não tenha vindo o Endrick, Vitor Roque, Rayan, Bidon, Estêvão, Matheus Gonçalves, a Seleção vai ser sempre forte. Tenho grandes amigos lá. O Ramon Menezes o Thiago (Kozlwski) foi meu companheiro de Licença A e Pró e o João Paulo foi meu preparador de goleiros no Corinthians. Não falta amigo lá. Eu sempre vou desejar que o Brasil vá longe. Espero que a gente não tenha que cruzar. Se tiver esse jogo eu vou ter que ser Arábia Saudita.

O técnico da seleção principal da Arábia Saudita é o Hervé Renard. Como é a relação com o francês protagonista da única derrota da Argentina na conquista do tri em 2022?

MS — O relacionamento com o Hervé Renard é muito bom. A gente mora até no mesmo condomínio. A gente se encontra muito. Quando tive que passar por uma cirurgia, ele foi o primeiro a me ligar. Um cara bacana, íntegro. Torço muito por ele não somente porque está na mesma seleção que eu, mas por ser uma pessoa muito boa.

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Marcos Paulo Lima

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