O desembarque de uma badalada agência britânica de gestão de talentos do futebol no Brasil anuncia uma tendência: a abertura de sucursais na América do Sul para aproveitar a flexibilização dos regulamentos de permissão de trabalho na melhor liga nacional do mundo, a Premier League, como é chamado o Campeonato Inglês.
Em tese, o Brexit — saída do Reino Unido da União Europeia —, deve facilitar as transferências de jogadores do nosso continente para a terra da rainha. Hoje, para obter o Sportsperson Visa, é preciso se enquadrar em critérios bem rígidos como: valor da transferência, o salário, o número de atuações pela seleção do país de origem e a posição da nação no ranking da Fifa. Além disso, é observada a classificação do jogador como atleta de elite, um reconhecimento da Football Association (FA) de que o candidato tem capacidade para atuar em alto nível internacional. Os europeus não necessitavam de visto.
Em entrevista ao blog, o empresário, agente e ex-jogador Emmanuel Adewole explica que a tendência de afrouxamento das regras e o consequente aumento da demanda por jogadores sul-americano fez a agência da qual é sócio, a YMU Group (ex-James Grant), abrir as portas em São Paulo. Outras se instalarão no Brasil e em outros países do continente para explorar não somente as reviravoltas do Brexit, mas a desvalorização de moedas como o real diante do dólar, do euro e, principalmente, da libra esterlina.
A YMU Group gerencia, por exemplo, a carreira do técnico do Chelsea Frank Lampard. Um dos sócios representou Dele Alli do Tottenham. Emmanuel Adewole é lembrado pela amizade com Rivaldo. Foi ele quem levou o pentacampeão para jogar em Angola, na liga Girabola, em uma das transações mais midiática da história do futebol africano.
Em tempos de pandemia do novo coronavírus, Adewole diz que a indústria do futebol não será a mesma depois da Covid-19 e aposta na reconstrução de ideias, modelos de trabalho e da forma de recrutar jogadores. Nosso critério vai ser muito útil ao Brasil”, diz o nigeriano com passagem Queens Park Rangers.
O que motivou a YMU a abrir sucursal no Brasil?
Emmanuel Adewole – YM&U significa You, Me and Us. É o nosso slogan. Nós somos, hoje, uma das maiores agências de futebol dentro do mercado inglês. Temos o Frank Lampard (técnico do Chelsea), Harry Winks (Tottenham) e uma porção de atletas na seleção inglesa.
Faltava fixar a bandeira no maior celeiro do mundo?
Emmanuel Adewole – O Brasil é o maior formador de atletas. Estatisticamente, há pelo menos um brasileiro em todas as ligas do mundo. Nenhum outro país tem. Agora, com essa situação do Brexit, e eu, sendo um dos agentes dentro da YMU, achei interessante a gente abrir uma base no Brasil. Nós temos um mercado não adulterado. Jogadores saem daqui para todas as ligas do mundo e nós temos uma força muito grande na Inglaterra, uma força enorme na MLS, e a MLS tem como foco o mercado sul-americano.
A flexibilização trazida pelo Brexit traz vocês ao Brasil?
Emmanuel Adewole – A Inglaterra vai começar a afrouxar as regras, as exigências para jogadores não europeus ou não ingleses por causa do Brexit. Vamos ter um maior número de brasileiros na Premier League. Todo jogador brasileiro que quer atingir alto nível deseja jogar na Premier League. É a mais vista do mundo, a mais bem paga, a liga do país que inventou o futebol. Com isso em mente, a gente queria proporcionar essa oportunidade aos jogadores brasileiros. Não somente aos feitos (prontos), que estão em times grandes, mas também para a molecada.
Quando o Brexit vai “escancarar” as portas?
Emmanuel Adewole – Eu previa para esse verão. Com a pandemia, isso atrasou. Acredito que até meados do ano que vem vamos ter claramente qual será a situação. Vai ser mais por uma questão de número de atletas internacionais do que por méritos na seleção, por exemplo.
A Inglaterra vai começar a afrouxar as regras, as exigências para jogadores não europeus ou não ingleses por causa do Brexit. Vamos ter um maior número de brasileiros na Premier League. Todo jogador brasileiro que quer atingir alto nível deseja jogar na Premier League. É a mais vista do mundo, a mais bem paga. Com isso em mente, a gente queria proporcionar essa oportunidade aos jogadores brasileiros. Não somente aos feitos (prontos), que estão em times grandes, mas também para a molecada.
Vocês estão à caça, por exemplo, de um novo Gabriel Martinelli…
Emmanuel Adewole – A molecada tem a possibilidade de sair daqui e ir para a Inglaterra. Temos histórias recentes disso. Brasileiros como Martinelli, João Pedro, Richarlison, Kenedy… Eu, inclusive. estive envolvido na negociação que levou o Kenedy para o Getafe. São jogadores que saíram novos e conseguiram criar uma base na Europa. O Richarlison saiu por 10 e hoje vale 80.
O perfil de jogadores que vocês procuram é a partir dos 18 anos?
Emmanuel Adewole – Isso. Jogadores que estejam se destacando nos seus clubes. A Inglaterra, mais precisamente, tem um futebol que exige muito do físico do atleta. A Europa no geral. O Neymar saiu daqui fininho e deu uma encorpada na Europa, onde o futebol tem mais contato. Por mais habilidade que você tenha, vão fazer falta em você. Procuramos isso.
Habilidade não é a essencial então…
Emmanuel Adewole – Habilidade é ótimo, mas queremos mentalidade de campeão. Querer crescer, vencer, fazer o que é melhor pra a carreira, a família… Isso para nós é importante.
Acha que dá para concorrer com as agências brasileiras?
Emmanuel Adewole – Nôs estamos competindo, hoje, com um mercado brasileiro extremamente ousado. Não é todo mundo que deseja ir para a Europa. Alguns acham melhor ficar porque recebem aqui quase a mesma coisa do que ganhariam na Europa. O Brasil está pagando muito bem.
Mas a pandemia estabelecerá uma nova ordem econômica no futebol mundial.
Emmanuel Adewole – Essa situação (Covid-19) é uma oportunidade para os clubes brasileiros se reorganizarem financeiramente. Atletas que antes eram desdenhados podem aproveitar a oportunidade para mostrar valor. Hoje, eles têm condições financeiras que agradam aos clubes. Antes, o clube, por saber que tem € 20 milhões para gastar, vai olhar atletas de € 15 a € 20 milhões, ou até € 40 milhões e tentar negociar para € 20 milhões. Hoje, a tendência é começar a procurar opções sem custo. É um momento de reconstrução das ideias, dos modelos de trabalho e da forma de recrutar jogadores. Nosso critério vai ser muito útil ao Brasil.
Nôs estamos competindo, hoje, com um mercado brasileiro extremamente ousado. Não é todo mundo que deseja ir para a Europa. Alguns acham melhor ficar porque recebem aqui quase a mesma coisa do que ganhariam na Europa. O Brasil está pagando muito bem.
Qual é o impacto da pandemia nos negócios da bola?
Emmanuel Adewole – Acredito que esse coronavírus veio para o bem do futebol. Por incrível que pareça, vai reorganizar o futebol de uma forma sustentável. Até o ano passado não era sustentável. Quem vai competir com transferências de € 200 milhões? Salários de € 2 milhões ao mês!
Flamengo e Palmeiras sofrerão com isso?
Emmanuel Adewole – Flamengo, Palmeiras… Enfim, os grandes. Vimos essa história muitas vezes. A conta chegou para o Palmeiras na era Parmalat. O clube teve que passar por uma reconstrução, o Flamengo (ISL), o Corinthians (Hicks Muse). O modelo de gestão vai começar a mudar.
Vocês investem em treinadores. Frank Lampard, por exemplo, é do Chelsea. A ideia é colocar técnicos brasileiros na Europa, quebrar paradigmas?
Emmanuel Adewole – Queremos romper a barreira dos dois lados, tanto para ir quando para vir. Eu admirei a atitude do Flamengo ao contratar um técnico português. Se você olhar o futebol europeu, treinador vai se fala inglês, se não fala inglês… Isso não faz diferença. O que eles querem é a capacidade dentro de campo. Arranjam tradutor. O José Mourinho começou a carreira como tradutor (do inglês Bobby Robson) no Barcelona. Gostaria muito de começar a trazer treinadores de lá para cá. Esse intercâmbio faria bem ao futebol brasileiro. Modernizaria um pouco a nossa forma de jogar futebol. Em contrapartida, levar treinadores para fora.
Qual técnico brasileiro teria condição de trabalhar na Premier League?
Emmanuel Adewole – Eu acredito, por exemplo, que o próximo passo do Tite depois da passagem pela Seleção Brasileira é ser treinador na Europa. Tivemos alguns. Felipão foi para o Chelsea, mas não se deu bem. O momento em que ele foi e o clube (Chelsea) não eram propícios naquela época. Tivemos o (Vanderlei) Luxemburgo no Real Madrid. Existe espaço para intercâmbio.
Eu admirei a atitude do Flamengo ao contratar um técnico português. Se você olhar o futebol europeu, treinador vai se fala inglês, se não fala inglês… Isso não faz diferença. O que eles querem é a capacidade dentro de campo. Arranjam tradutor. O José Mourinho começou a carreira como tradutor (do inglês Bobby Robson) no Barcelona. Eu acredito, por exemplo, que o próximo passo do Tite depois da passagem pela Seleção Brasileira é ser treinador na Europa
A quantidade de olheiros, scouts nacionais e estrangeiros, aumentou no Brasil.
Emmanuel Adewole – Eu sei, por exemplo, que o PSV Eindhoven tem uma presença muito grande de scouts no Brasil. Temos atletas lá e estamos em constante contato com eles. Esse investimento nos próximos dois anos só vai duplicar. É impossível isso não acontecer. Está havendo resultado. Os clubes estão faturando. Se for vendido hoje, o (Gabriel) Martinelli sairá por € 40 milhões de euros. Ele foi vendido por 10% disso. É um investimento alto, mas acreditamos que, em cinco anos, vamos ter um resultado não somente financeiro.
A desvalorização do real é o principal fator para a YMU se instalar no Brasil? Em tese, o momento é favorável. Aumenta a possibilidade de lucro nas negociações?
Emmanuel Adewole – Sim e não. A moeda altera, oscila diariamente. Com essa oscilação, querendo ou não, fica difícil contabilizar. Eu nunca faço conta em real. Sempre faço em libras esterlinas ou euro. São moedas que não oscilam tanto. Você valoriza um jogador, hoje, em 10 milhões e amanhã ele custa 20, 10 ou 5. A partir do momento em que a gente fixa numa moeda , mesmo que o mundo use o dólar, você não está preso a moedas locais.
Vocês monitoram Ásia e África também?
Nossa presença é remota na Ásia, mas queremos focar lá. Temos sido mais presentes na África. Pensamos que 2020 fosse o ano de focar no Brasil, montar uma estrutura e relações no mercado nacional. O mercado africano é de saída de jogador, não é de intercâmbio. O processo lá é mais de scouts, não de vaivém. A Ásia é um mercado extremamente interessante. Japão, Coreia do Sul, China. Muitos jogadores estavam indo para o Japão há 15, 20 anos. O Japão tem sido um grande mercado, financeiramente viável há muitos anos. Mas há poucos jogadores como Son Heung-min. Lá atrás, o Park-Ji-Sung no Manchester United. É um mercado a ser explorado. Com essa pandemia, a China vai pensar mais em formar e vender do que comprar. Hoje, o foco deles é comprar e investir pouco na base. Isso vai mudar.
Você trabalhou com Rivaldo e Julio Baptista. Até que ponto eles ajudaram?
Emmanuel Adewole – Julio Baptista é um cara fenomenal. Tem um coração que conheci em poucas pessoas, é um profissional top.
A sua relação foi maior com o Rivaldo…
Emmanuel Adewole – Rivaldo é a pessoa que me abriu as portas no futebol. Tenho um carinho, uma admiração… Fora o atleta que ele é. Com maior carreira e menor reconhecimento que eu já vi. Ele merece muito mais flores do que recebeu. Como pessoa, como homem. Tenho uma admiração eterna por ele. Ele me liga e paro tudo para atender. Noventa por cento do que sei aprendi com ele, trabalhando com ele, pegando orientações.
Você é o “maluco” que levou o Rivaldo para Angola…
Emmanuel Adewole – Meu forte é negociação . Sou o responsável por fazer as coisas acontecerem. Fiz a operação que levou o Rivaldo para Angola (jogou na Liga Girabola). Aquele negócio maluco que todo mundo comentou, e que é a maior operação da história no futebol africano.
Rivaldo é a pessoa que me abriu as portas no futebol. Tenho um carinho, uma admiração… Fora o atleta que ele é. Com maior carreira e menor reconhecimento que eu já vi. Ele merece muito mais flores do que recebeu. Como pessoa, como homem. Noventa por cento do que sei aprendi com ele, trabalhando com ele, pegando orientações. Fiz a operação que levou o Rivaldo para Angola (jogou na Liga Girabola). Aquele negócio maluco que todo mundo comentou, e que é a maior operação da história no futebol africano.
Como vai funcionar a operação de vocês no Brasil?
Emmanuel Adewole – Moro meio ano na Inglaterra e meio ano no Brasil. Estou voltando para a Inglaterra porque a janela (de transferências) vai abrir daqui a pouco. temos contratos a renovar em função da própria pandemia. Temos uma equipe de cinco profissionais. Estamos abertos a parcerias. Poucos clubes têm acesso direto ao mercado inglês, europeu. Às vezes, dependem de intermediários. Isso complica um pouco a possibilidade de fazer negócio. Nós falamos diretamente com a fonte. Temos treinadores, diretores técnicos bem inseridos no mercado europeu. Isso facilita o diálogo com qualquer relação com clubes brasileiros.
Vocês são parceiros do Red Bull Bragantino?
Emmanuel Adewole – Temos jogadores no New York Red Bull, no Leipzig. Ótima relação com eles, principalmente, na Europa. Ainda não tive oportunidade de sentar com o CEO do Bragantino.
Você tem um sócio badalado na Inglaterra.
Emmanuel Adewole – O Rob Segal. Ele representou Dele Alli (Tottenham), enfim, fez inúmeras transferência, e é um dos melhores da Inglaterra na atualidade.
Poucos clubes têm acesso direto ao mercado inglês, europeu. Às vezes, dependem de intermediários. Isso complica um pouco a possibilidade de fazer negócio. Nós falamos diretamente com a fonte. Temos treinadores, diretores técnicos bem inseridos no mercado europeu. Isso facilita o diálogo com qualquer relação com clubes brasileiros.
Imagina o futebol funcionando no modelo dos esportes americanos, com tetos salariais?
Emmanuel Adewole – Acho que seria injusto. O salary cap da NBA são milhões, milhões e milhões. Observo que na NBA você pode ter um jogador num time principal ganhando 10% do que outro recebe. Não acho correto. Se eu sou titular, importante para o time, por que tem essa diferença? Na MLS, por exemplo, você tem um ou dois jogadores que podem ganhar até US$ 8 milhões. E você tem outro jogador cujo salário máximo é US$ 300 mil. Cria uma disparidade muito grande. Na forma que as coisas estão hoje, é muito raro, especialmente na Inglaterra, você ter alguém ganhando £ 400 mil por semana e no mesmo time um outro ganhando £ 20 mil. Estou falando do time titular. Isso é raro, quase impossível. A valorização é integral, global.
Você estão chegando ao Brasil, mas também vão monitorar Argentina, Uruguai, Chile. O desafio é encontrar um novo Lionel Messi?
Emmanuel Adewole – Exatamente (risos). A base, o escritório, é o Brasil, mas a operação é na América Latina.
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