Aldair Aldair e Baresi: xerifes de Brasil e Itália na Copa 1994 duelarão em Fortaleza. Foto: Lucas Figueiredo/CBF Aldair e Baresi: os xerifes de Brasil e Itália na final da Copa de 1994 duelarão hoje em Fortaleza.

Em dia de Brasil x Itália, um bate-papo com o tetracampeão Aldair: “Tentei levar o Rodrigo Caio para a Roma”

Publicado em Esporte

Fortaleza – Há quem diga que 13 dá azar. Esse foi o número da sorte do zagueiro Aldair na campanha do tetra na Copa do Mundo de 1994. O camisa 13 e Márcio Santos eram reservas de Ricardo Gomes e Ricardo Rocha. Sofriam para marcar a dupla de ataque formada por Bebeto e Romário nos coletivos comandados por Carlos Alberto Parreira. As contusões dos titulares fizeram com que ele virasse titular depois de uma temporada difícil na Roma, marcada por uma contusão no ligamento cruzado. Aldair comandou uma defesa segura nos Estados Unidos. O Brasil sofreu três gols em sete jogos, um da Suécia na fase de grupos e dois da Holanda nas quartas de final. Aos 54 anos, o baiano de Ilhéus está em Fortaleza para o duelo retrô desta quinta-feira contra a Itália no reencontro batizado pela CBF de “Seleções de Lendas”, um duelo entre as seleções finalistas da Copa do Mundo de 1994. A entidade considera o evento marcado para 21h30 no Estádio Presidente Vargas a retomada da Seleção Master e pretende realizar uma turnê formada por jogadores históricos que vestiram a amarelinha. Aldair é um dos astros da companhia liderada por Carlos Alberto Parreira. Com uma forma física invejável, ele relembra a campanha do tetra no bate-papo a seguir com o blog e faz uma revelação sobre Rodrigo Caio do Flamengo. “Tentei levá-lo para a Roma, mas o diretor preferiu apostar em outros zagueiros”, lamenta.

 

Como é 25 anos depois reencontrar a família do tetra aqui em Fortaleza?

Na verdade essa turma nossa sempre se encontra. Nós festejamos os 25 anos do penta no ano passado. Estavam quase todos. Se não me engano, só não estavam o Romário e o Ronaldo. Em Fortaleza, é uma festa diferente porque reencontraremos a Itália, que foi a nossa adversária naquela final (da Copa do Mundo de 1994). Às vezes a gente encontra esse pessoal também.

 

Qual é a maior lembrança daquela campanha do tetra?

São várias. Fora do campo, a união do grupo foi muito importante. Houve uma aliança muito forte. Hoje, somos todos amigos depois de tantos anos. Isso é uma lembrança. Dentro do campo, o gol importante do Bebeto contra os Estados Unidos, do Romário na semifinal contra a Suécia, a emoção dos pênaltis, a defesa do Taffarel nos pênaltis (pegou a cobrança de Massaro), o lançamento para o Bebeto contra a Holanda.

 

A gente tem mania de exaltar a dupla Bebeto e Romário, mas lá atrás você e o Márcio Santos fizeram uma Copa do Mundo espetacular…

A gente estava preparado. Trabalhamos muito forte no time reserva (os titulares antes da Copa eram Ricardo Gomes e Ricardo Rocha). Não era fácil enfrentar Bebeto e Romário nos coletivos então isso ajudou bastante. No meu caso, eu havia trabalhado para isso. Eu havia saído de uma contusão grave no ligamento cruzado. Joguei poucas partidas pela Roma, mas treinei muito e estava preparado fisicamente. Aproveitamos a oportunidade e o nosso entrosamento foi perfeito e muito importante para aquela conquista.

 

Muitos tetracampeões estavam na eliminação precoce nas oitavas de final da Copa de 1990 contra a Argentina e foram muito criticados. Até que ponto aquilo fortaleceu o grupo de 1994?

Eu estava naquele grupo de 1990. Eu, Taffarel, Dunga, Mazinho, Ricardo Rocha, Romário, Bebeto… Tinha bastante gente. Nós tivemos muitos problemas em 1990 e depois daquilo houve uma mudança radical. Foi muito importante a atitude dos jogadores de 1994 para a frente, a mudança no sistema de premiação, o comportamento da CBF, a união. Nosso futebol se profissionalizou mais. É claro que, hoje, estamos há muito tempo sem conquistar o Mundial, mas acho que as coisas mudaram muito e espero que voltemos a ganhar em 2022.

 

Nós tivemos muitos problemas em 1990 e depois daquilo houve uma mudança radical. Foi muito importante a atitude dos jogadores de 1994 para a frente, a mudança no sistema de premiação, o comportamento da CBF, a união. Nosso futebol se profissionalizou mais.

 

Há quem diga que preferia ter visto a Seleção de 1982 campeã do que a de 1994 nos pênaltis contra a Itália. Isso incomoda vocês?

No meu caso, não. Eu era fã dos caras de 1982. Era fã de todos eles. Admirava muito. Mas é melhor sempre ganhar do que não ganhar. Eles tinham um jogo muito bonito, mas o nosso era mais completo, eficiente em 1994. Mas repito, tenho muita admiração por aquele time de 1982.

 

E os seus amigos da Itália, o que dizem sobre a final de 1994?

Eu pensei que fosse ter problemas na Itália quando voltei, mas encontrei vários torcedores da Roma muito felizes por eu ser um campeão mundial da Roma. Os meus amigos italianos preferem falar sobre o jogo de 1982 do que o de 1994 (risos).

 

Você falou na Roma. Qual é o significado do clube na sua carreira?

Imenso. Foram 13 anos na Roma. Não é um clube com tradição de ganhar muitos títulos, são poucos, mas tive um carinho imenso e tenho um carinho imenso pela torcida (ganhou a Copa Itália 1990/1991, o Campeonato Italiano 2000/2001 e a Supercopa Itália 2001). É assim também com o Cafu, Antônio Carlos, Paulo Sérgio. Eles gostam muito dos jogadores brasileiros. É claro que nos últimos dois anos saíram muitos, mas a gente espera que os brasileiros voltem.

 

Eu era fã dos caras de 1982. Era fã de todos eles. Admirava muito. Mas é melhor sempre ganhar do que não ganhar. Eles tinham um jogo muito bonito, mas o nosso era mais completo, eficiente em 1994.

 

O que mudou nos zagueiros?

O porte físico não mudou nada. Quando se trata do Brasil, vemos que não temos jogadores muito altos na defesa, mas eficientes na bola aérea. O Thiago Silva tem uma visão de jogo muito boa pelo alto, o Marquinhos é muito rápido. Rodrigo Caio é baixo, mas muito eficiente no alto, tem ótima impulsão, muito inteligente para encontrar os atalhos. Fez uma bela Olimpíada (na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016). Até tentei levar o Rodrigo Caio para a Roma, mas não convenci o pessoal. Mesmo assim, estou feliz pela temporada que ele fez pelo Flamengo no ano passado. É um dos candidatos para estar sempre na Seleção principal.

 

Fala mais sobre essa história de ter tentado levar o Rodrigo Caio para a Roma…

Ele estava passando por uma crise no São Paulo, com problemas lá, a Roma precisava de um zagueiro, mas o diretor preferiu apostar em outros zagueiros. Acho que a Roma perdeu muito com isso. Rodrigo Caio é um bom zagueiro, com boa saída de bola. Eles preferiram um argentino (Federico Fazio) que continua lá, mas nem joga muito.

 

Qual é a opinião do rubro-negro Aldair sobre a temporada passada do Flamengo?

Foi um grande ano. Ganhou praticamente tudo que podia. Torço para que as conquistas continuem. Tenho lido sobre problemas na diretoria, acho que o clube pode ter problemas para renovar o contrato do treinador (termina no meio do ano), mas se o Jorge Jesus não continuar é lógico que contratarão outro grande treinador. O Flamengo tem um grande elenco.

 

Tentei levar o Rodrigo Caio para a Roma, mas não convenci o pessoal. Ele estava passando por uma crise no São Paulo, com problemas lá, e a Roma precisava de um zagueiro, mas o diretor preferiu apostar em outros zagueiros. Acho que a Roma perdeu muito com isso. Rodrigo Caio é um bom zagueiro, com boa saída de bola. Eles preferiram um argentino (Federico Fazio) que continua lá, mas nem joga muito.

 

O seu sucessor no Flamengo foi o Juan?

Nós viemos da mesma escola, somos crias da base do clube, jogamos bem na Roma, somos amigos e espero que ele continue ajudando o Flamengo a conquistar títulos e, principalmente, a apostar nas pratas da casa. O Flamengo contrata muito.

 

Vai muito a Ilhéus, sua cidade natal?

Estou sempre lá nas festas do fim do ano com os meus irmãos, meu pai, faço pelada beneficente, mas moro em Roma. Quando estou no Brasil, a minha base é o Espírito Santo.

 

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